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Pela 1ª vez vez, rei belga expressa remorso por passado colonial no Congo

Declaração faz parte do 60º aniversário de independência do Congo. Estima-se que milhões de pessoas morreram no país durante a colonização belga

Rei Philippe, da Bélgica: desculpas por passado colonial no Congo (Didier Lebrun/Pool/Reuters)

Rei Philippe, da Bélgica: desculpas por passado colonial no Congo (Didier Lebrun/Pool/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 30 de junho de 2020 às 11h22.

Última atualização em 30 de junho de 2020 às 13h59.

O rei da Bélgica, Philippe, expressou profundo pesar nesta terça-feira, 30, "pelo sofrimento e pela humilhação" infligidos à República Democrática do Congo durante os 75 anos que passou sob domínio belga.

É a primeira expressão de pesar manifestada por um monarca reinante da Bélgica em relação ao passado colonial. A declaração faz parte de uma carta ao presidente do Congo, Felix Tshisekedi, para marcar o 60º aniversário de independência do país africano.

"Quero expressar meu profundo pesar por essas feridas anteriores, cuja dor é regularmente revivida pela discriminação que ainda está presente demais em nossas sociedades", disse a carta, vista pela agência Reuters.

A primeira-ministra belga, Sophie Wilmes, disse que a Bélgica há muito luta para se redimir sobre sua história com o Congo, que ela admite ser "um passado marcado por desigualdade e violência contra os congoleses".

O Congo foi colônia da Bélgica por 52 anos até se tornar independente, em 1960. Estima-se que mais de 10 milhões de congoleses tenham morrido entre 1885 e 1908, de doenças e trabalho exaustivo, depois que o rei Leopoldo 2° declarou a região como propriedade pessoal. Depois de 1908, a colônia voltou ao controle direto do estado belga até a independência, mas as queixas sobre atrocidades da Bélgica no país continuaram.

O rei Philippe disse que, durante o governo de Leopoldo, "atos de crueldade foram cometidos" e que a colonização, na sequência, causou "sofrimento e humilhação".

Estátuas derrubadas

Estátuas de Leopoldo, cujas tropas mataram e mutilaram milhões de pessoas no Congo, foram desfiguradas ou removidas na Bélgica depois que protestos globais contra o racismo foram desencadeados pela morte de George Floyd, homem negro morto sob custódia de um policial branco nos Estados Unidos.

Philippe prometeu "continuar lutando contra todas as formas de racismo" e saudou a iniciativa do Parlamento belga de lançar uma comissão de reconciliação para combater o racismo e o passado colonial do país. Esse processo de reflexão pode ajudar os belgas a "finalmente fazer as pazes com nossas memórias", afirmou o monarca.

O irmão mais novo do rei, o príncipe Laurent, adotou um tom diferente no início deste mês. "Ele nunca foi lá [ao Congo]", disse o príncipe em entrevista. "Eu não vejo como ele poderia ter feito as pessoas de lá sofrerem".

O príncipe Laurent disse que, apesar disso, ele sempre se desculpava com chefes de estado de países da África "por ações que os europeus fizeram contra os africanos no geral".

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