Mundo

Paz na Ucrânia: Zelensky negocia acordo com líderes europeus

Encontros contam com a presença de enviados americanos, líderes europeus e líderes da OTAN

A presidente do Bundestag (Câmara dos Deputados), Julia Kloeckner, dá as boas-vindas ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, à sua chegada ao edifício, em Berlim, em 15 de dezembro de 2025.  (Lisi Niesner/AFP)

A presidente do Bundestag (Câmara dos Deputados), Julia Kloeckner, dá as boas-vindas ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, à sua chegada ao edifício, em Berlim, em 15 de dezembro de 2025. (Lisi Niesner/AFP)

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 14h52.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se encontrará, ao longo dessa semana, com líderes europeus e enviados americanos para conduzir negociações de paz sobre o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Os diálogos são centrados, entre outros pontos, em um plano de paz que a Ucrânia considera injusto e cujas cláusulas o país busca mudar. A proposta foi originalmente estruturada por negociadores americanos e russos, sem o conhecimento da Ucrânia.

O plano, que tinha 28 pontos em sua primeira forma, exigia grandes concessões da Ucrânia: o país reduziria seu exército em 60%, cederia mais território, seria proibido de possuir certos tipos de armas, e nenhuma tropa estrangeira poderia permanecer em solo ucraniano.

Além disso, o russo se tornaria a segunda língua oficial e a Igreja Ortodoxa Russa seria restaurada dentro do país.

As regiões orientais de Donetsk e Lugansk, assim como a Crimeia, anexada em 2014, seriam "reconhecidas de fato como russas, inclusive pelos Estados Unidos", e Moscou receberia outros territórios ucranianos que hoje ainda estão sob o controle de Kiev, como Donbass.

A questão da adesão ucraniana à Otan também foi vetada pela Rússia.

Além disso, a Ucrânia receberia poucas e frágeis garantias de segurança da Rússia ou do Ocidente.

As negociações dessa segunda, 15, seguem um encontro de mais de 5 horas entre o presidente ucraniano e dois enviados americanos, Steve Witkoff e o genro de Trump Jared Kushner, no domingo.

Witkoff, que serve como enviado americano especial para negociações de paz, disse  na rede X, antigo Twitter, que "grandes avanços" foram feitos.

A reunião de domingo foi realizada sob forte segurança na Chancelaria em Berlim, capital alemã, onde o chefe de Governo Friedrich Merz, tem um jantar marcado para esta segunda-feira com Zelensky, um grupo de líderes europeus e os chefes da Otan e da União Europeia.

A Rússia, por sua vez, espera que Washington a informe sobre os resultados dos diálogos, disse o Kremlin nesta segunda-feira, após enfatizar que a não adesão da Ucrânia à Otan era parte fundamental dos interesses russos nas negociações.

Com isso, a Ucrânia concedeu que renunciaria suas ambições para se juntar à Otan, em troca de garantias de segurança mais estáveis, algo que a Ucrânia não percebeu nos termos do acordo original.

Além disso, não as sabe como outros pontos importantes, como a concessão de territórios também prevista no acordo, progrediram.

Antes de chegar à Alemanha, Zelensky afirmou que esperava que os Estados Unidos apoiassem a ideia de congelar a linha de frente onde ela se encontra, em vez de a Ucrânia ceder toda a região leste do Donbass, como exige Moscou.

"A opção mais justa é que as coisas 'permaneçam como estão'", argumentou ele aos repórteres.

Uma fonte próxima às negociações disse à AFP, no entanto, que os negociadores americanos continuam exigindo que a Ucrânia abandone a região do Donbass.

O presidente russo, Vladimir Putin, "quer territórios", enfatizou a fonte. "Os americanos dizem que a Ucrânia 'deve se retirar', o que Kiev rejeita", acrescentou. "É muito surpreendente que os americanos estejam adotando a posição russa sobre essa questão", continuou.

A União Europeia, enquanto isso, busca chegar a um acordo sobre um plano de financiamento para a Ucrânia nos próximos anos. Uma proposta a ser debatida na quinta-feira sugere o uso de ativos russos congelados.

"Ainda não conseguimos e está ficando mais difícil, mas estamos trabalhando nisso e ainda temos alguns dias", disse a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, nesta segunda-feira.

Além dos enviados, nomes como Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e Mark Rutte, Secretário Geral da Otan, estiveram presentes nas negociações de segunda à noite.

Segunda-feira, em Berlim, Alemanha: "Mais perto do que nunca"

Após as negociações de segunda, em Berlim, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump disse que um acordo para pôr fim à guerra na Ucrânia está mais próximo do que nunca, enquanto vários líderes europeus propuseram uma "força multinacional" para garantir a paz.

As otimistas declarações ocorreram no segundo dia de conversas em Berlim entre o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, e enviados americanos para impulsionar os esforços destinados a deter o conflito.

"Acho que agora estamos mais perto do que nunca", disse Trump a jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, acrescentando que teve "conversas muito longas e muito boas" com Zelensky e outros líderes, incluindo os de Reino Unido, França, Alemanha e o secretário-geral da Otan.

Os dirigentes europeus propuseram liderar uma força com o apoio dos Estados Unidos como parte das "sólidas garantias de segurança" para a Ucrânia, a fim de evitar que a Rússia viole um acordo para encerrar o conflito, indicaram em declaração conjunta.

Zelensky, que se reuniu pelo segundo dia na capital alemã com o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, e o genro do presidente, Jared Kushner, apontou "avanços reais" quanto às garantias de segurança.

Porém, disse que ainda há posições divergentes sobre a possibilidade de Kiev ceder territórios.

"Há questões complexas, particularmente as relacionadas ao território [...] Para ser honesto, ainda temos posições diferentes", disse o mandatário ucraniano à imprensa.

O chefe do governo alemão, Friedrich Merz, afirmou nesta segunda que as recentes conversas ofereceram uma "verdadeira oportunidade para um processo de paz" e elogiou os Estados Unidos por apresentarem um conjunto "notável" de garantias de segurança.

Pontos de consenso

Em sua declaração conjunta, os líderes europeus -- entre eles os de Reino Unido, França e Alemanha -- delinearam o que, segundo eles, são outros pontos de consenso com os representantes americanos.

O Exército ucraniano deveria continuar recebendo amplo apoio e manter, em tempos de paz, uma força de 800 mil soldados, de acordo com o documento.

A paz também seria preservada graças a um "mecanismo de monitoramento e verificação do cessar-fogo liderado pelos Estados Unidos", que identificaria violações e "forneceria um alerta precoce de qualquer ataque futuro".

Funcionários americanos advertiram que a Ucrânia deveria aceitar o pacto, o que proporcionaria, segundo eles, garantias muito similares ao Artigo 5 da Otan, que considera que um ataque a um aliado é, na verdade, direcionado a todos os membros.

"A base desse acordo é, basicamente, ter garantias realmente muito fortes — como as do Artigo 5 [da Carta da Otan] — e também uma dissuasão muito, muito sólida" por meio de armamentos, disse um funcionário sob condição de anonimato.

"Estas garantias não estarão sobre a mesa para sempre", acrescentou.

Terça feira: Comissão Internacional

Nessa terça, 16, Zelensky e demais líderes europeus chegaram em Haia, na Holanda, onde foi negociada a formação de uma Comissão Internacional para compensar Kiev pelas centenas de bilhões de dólares em danos durante a guerra.

O ministro do exterior holandês David van Weel disse a repórteres:

"Sem responsabilização, um conflito não pode ser totalmente resolvido. E parte dessa responsabilização também é pagar pelos danos causados”, disse van Weel. “Portanto, acho que é um grande passo hoje estarmos estabelecendo uma comissão de indenizações e assinando um tratado sobre isso."

Discussões preliminares sobre como fundos seriam levantados para reparar os danos envolveram usar ativos russos congelados, que seriam suplementados voluntariamente por membros do Conselho.

“O objetivo é ter reivindicações validadas que serão pagas pela Rússia. Terá que ser realmente paga pela Rússia, pois esta comissão não oferece nenhuma garantia pelos danos”, disse Van Weel.

Parte das negociações são baseadas no Registro de Danos ucraniano, um documento que já tem dois anos preenchido pelos cidadãos ucranianos que registraram danos causados pela Rússia aos seus bens e propriedades.

O registro já conta com mais de 80.000 entradas por organizações, órgãos públicos e indivíduos.

Mais de 35 países já indicaram seu apoio pela comissão, que deve coletar suas assinaturas nos encontros dessa terça.

O Banco Mundial estima que o custo de reconstrução, ao longo da próxima década, decerá ser de 524 bilhões de dólares, cerca de 2 trilhões de reais. Todavia, a cifra inclui apenas os danos causados até dezembro de 2024, e não leva em consideração os ataques desse ano, quando a Rússia intensificou o uso de drones e ataques à infraestrutura.

“É exatamente aí que começa o verdadeiro caminho para a paz”, afirmou o presidente Zelensky. “Não basta forçar a Rússia a chegar a um acordo. Não basta fazê-la parar de matar. Temos de fazer com que a Rússia aceite que existem regras no mundo.”

Opinião dos ucranianos sobre os planos

O Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (KIIS) conduziu um levantamento com a população ucraniana para analisar a opinião pública em relação aos acordos.

A pesquisa, conduzida entre o fim de novembro e o meio de dezembro, revela que 72% dos ucranianos estariam preparados para aceitar um plano que congelaria as linhas de frente atuais e envolvessem certas concessões.

Todavia, 75% das pessoas acreditam que um plano amigável para a Rússia que incluiria ceder territórios ou reduzir o tamanho do exército sem garantias de segurança seria “completamente inaceitável”.

63% dos ucranianos estariam prontos para continuar a luta, e apenas 6% acreditam que a guerra acabaria no começo de 2026.

Enquanto isso, a confiança em Washington e na Otan cai: há um ano, 41% dos ucranianos confiavam nos EUA – atualmente o número é 21%. A confiança na Otan no mesmo período caiu para 34% de 43%.

“Se as garantias de segurança não forem inequívocas e vinculativas... os ucranianos não confiarão nelas, e isso afetará a disposição geral para aprovar o plano de paz correspondente”, escreveu Anton Hrushetskyi, diretor executivo do KIIS.

Além disso, Trump renovou seus chamados por uma eleição na Ucrânia, o que é inconstitucional sob lei marcial. Por mais que Zelensky tenha se mostrado disposto a conduzir novas eleições, apenas 9% dos Ucranianos gostariam que isso acontecesse durante a guerra.

A aprovação de Zelensky segue em 61%, resultado de como lidou com um escândalo de corrupção que veio à tona no mês passado.

“Portanto, a insistência nas eleições na Ucrânia é vista de forma crítica pela população e considerada uma tentativa de enfraquecer o país”, afirmou o diretor executivo.

Com informações da AFP

Acompanhe tudo sobre:UcrâniaRússiaVolodymyr-ZelenskyDonald Trump

Mais de Mundo

Acordo UE-Mercosul foi aprovado? Entenda os próximos passos

Atentado parece motivado por 'ideologia do Estado Islâmico', diz premiê australiano

Milei compartilha imagem que mostra Brasil e outros países latinos como favela

Acordo UE-Mercosul: os 10 produtos que a Europa mais vende ao Brasil