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Parlamento ucraniano aprova proibição da Igreja ortodoxa vinculada à Rússia

Para entrar em vigor, o texto deverá ser sancionado pelo presidente Volodimir Zelensky

Homem passa em frente ao Mosteiro das Cavernas, em Kiev, Ucrânia, em 20 de agosto de 2024 (AFP)

Homem passa em frente ao Mosteiro das Cavernas, em Kiev, Ucrânia, em 20 de agosto de 2024 (AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 20 de agosto de 2024 às 14h16.

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O Parlamento da Ucrânia aprovou, nesta terça-feira, 20, um projeto de lei que proíbe a Igreja ortodoxa vinculada à Rússia, em um novo passo da ruptura religiosa, social e institucional com Moscou, dois anos e meio após o início da invasão russa no país.

A Igreja afetada por essa decisão era anteriormente a mais popular da Ucrânia, um país com grande maioria ortodoxa. No entanto, perdeu muitos fiéis nos últimos anos, à medida que o sentimento nacionalista ucraniano ganhava força em relação à Rússia.

O processo se acelerou com a criação, em 2018, de uma Igreja ortodoxa ucraniana independente de Moscou e, posteriormente, com o início da invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022, apoiada abertamente pelo Patriarcado de Moscou.

No total, 265 deputados (dos 450 que compõem o Parlamento) aprovaram o projeto de lei, que proíbe as organizações religiosas vinculadas à Rússia, incluindo a Igreja ortodoxa ucraniana ligada ao Patriarcado de Moscou.

Para entrar em vigor, o texto deverá ser sancionado pelo presidente Volodimir Zelensky.

"Uma igreja falsa"

Em maio de 2022, a Igreja anunciou que estava rompendo seus laços com o Patriarcado de Moscou, mas o governo ucraniano considera que, na prática, a instituição continua sendo dependente da Rússia.

Em Kiev, vários fiéis rezavam nesta terça-feira do lado de fora do Mosteiro das Cavernas, vinculado ao Patriarcado de Moscou e fechado desde o ano passado.

“Aqui não há política alguma. Nós só viemos e rezamos por nossos filhos e nossos entes queridos... nunca vi nenhum agente do KGB”, declarou à AFP Svetlana, uma mulher de 56 anos que preferiu não revelar seu sobrenome.

Por outro lado, o presidente Zelensky comemorou nas redes sociais a votação, destacando que foi adotada "uma lei sobre [a] independência espiritual" da Ucrânia.

Segundo o deputado Yaroslav Jelezniak, as paróquias da Igreja terão nove meses para "romper seus laços com a Igreja ortodoxa russa".

“É um ato ilegal que constitui uma violação flagrante dos conceitos fundamentais de liberdade de consciência e direitos humanos”, reagiu um porta-voz do Patriarcado Russo, Vladimir Legoida, no Telegram.

Um pouco antes, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, também condenou a iniciativa, afirmando que é uma tentativa de Kiev de "destruir a ortodoxia canônica e verdadeira e colocar em seu lugar um substituto, uma Igreja falsa", referindo-se à Igreja ortodoxa ucraniana.

"Metástase" do Kremlin

A Igreja vinculada à Rússia ainda conta com cerca de 9.000 paróquias na Ucrânia, em comparação com as entre 8.000 e 9.000 da Igreja Ortodoxa independente da tutela de Moscou, segundo a imprensa.

A eliminação das paróquias vinculadas a Moscou pode levar meses ou até anos, já que a proibição de cada uma delas deverá ser aprovada pela Justiça, segundo especialistas ucranianos.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2023 pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, 66% dos ucranianos eram a favor da proibição da Igreja vinculada à Rússia.

Além disso, 54% dos ucranianos se identificavam com a Igreja independente, e apenas 4% com a subordinada ao Patriarcado russo, segundo uma pesquisa realizada pela mesma organização em 2022. No ano anterior, 42% dos entrevistados declararam sua adesão à Igreja independente e 18% à relacionada com o Patriarcado russo.

“Tudo é política. Não pode haver nada, seja arte, esporte ou até religião, fora da política”, reagiu Igor, um homem de 21 anos, do lado de fora da seção do Mosteiro das Cavernas que pertence à Igreja ortodoxa ucraniana e permanece aberta.

“De fato, apoio totalmente essa proibição”, acrescentou, acusando a Igreja ortodoxa russa de ser um agente do Kremlin que se “metastatizou tanto que vamos combatê-la durante décadas”.

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