Papa Francisco inicia primeira visita de um pontífice a Mianmar
Centenas de fiéis o esperavam nos arredores do terminal aéreo, em meio de um forte esquema de segurança
Reuters
Publicado em 27 de novembro de 2017 às 06h47.
Última atualização em 27 de novembro de 2017 às 10h50.
Yangon - O papa Francisco pousou em Yangon nesta segunda-feira, o início de uma visita delicada do líder da Igreja Católica à majoritariamente budista Mianmar, que os Estados Unidos acusaram de realizar uma "limpeza étnica" contra sua população de muçulmanos rohingyas.
O papa também visitará Bangladesh, para onde mais de 620 mil rohingyas fugiram para escapar do que a Anistia Internacional qualificou como "crimes contra a humanidade".
O Exército de Mianmar negou as acusações de assassinato, estupro, tortura e deslocamento forçado.
Depois de partir de Roma, Francisco disse aos repórteres em seu avião: "Eles dizem que é muito quente (em Mianmar). Lamento, mas esperemos que ao menos seja frutífero".
Minorias étnicas com vestimentas tradicionais receberam o pontífice no aeroporto de Yangon, e crianças o presentearam com flores quando ele desceu do avião.
Ele acenou por uma janela aberta para dezenas de crianças que portavam bandeiras do Vaticano e de Mianmar usando camisetas com o bordão da viagem - "amor e paz" - quando partiu em um Toyota azul rumo à Catedral de Santa Maria, no centro da cidade.
Só cerca de 700 mil dos 51 milhões de habitantes de Mianmar são católicos. Milhares deles viajaram de trem e ônibus para Yangon e se juntaram a multidões reunidas em vários pontos do trajeto iniciado no aeroporto para ter um vislumbre de Francisco.
"Viemos aqui ver o Santo Padre. Acontece uma vez em séculos", disse Win Min Set, líder comunitário que levou um grupo de 1.800 católicos de Estados do sul e do oeste do país.
"Ele é muito esclarecido quando se trata de questões políticas. Vai lidar com a questão com esperteza", disse, referindo-se à sensibilidade dos debates do papa sobre os rohingyas.
Muitos policiais do batalhão de choque foram mobilizados na principal cidade da nação, mas não houve sinais de protestos.
A viagem é tão delicada que alguns assessores papais aconselharam Francisco a não usar a palavra "rohingya" para evitar um incidente diplomático que poderia virar o governo e os militares contra a minoria cristã.
O êxodo dos rohingyas do Estado de Rakhine para Bangladesh começou no final de agosto, quando militantes rohingyas atacaram postos de segurança e o Exército de Mianmar lançou uma contra-ofensiva.
O país não reconhece os rohingyas como cidadãos ou membros de um grupo étnico distinto com identidade própria e rejeita até o termo "rohingya" e seu uso.