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Papa denuncia no Quênia 'atroz injustiça' imposta às favelas

Os fiéis o receberam com gritos e aplausos, músicas e danças, que Francisco respondeu com sorrisos e a distribuição de benção

Papa Francisco em meio a multidão em Nairóbi: o pontífice discursou na igreja de São José Operário, administrada por jesuítas, no bairro pobre de Kangemi, em Nairóbi (Thomas Mukoya/REUTERS)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2015 às 12h28.

O Papa Francisco denunciou nesta sexta-feira no Quênia a "atroz injustiça" que representam as favelas das grandes cidades africanas, fruto da corrupção e do acúmulo por parte de poucos, antes de prosseguir com sua viagem a Uganda.

O pontífice discursou na igreja de São José Operário, administrada por jesuítas, no bairro pobre de Kangemi, em Nairóbi, onde vivem em condições precárias mais de 100.000 pessoas.

Os fiéis o receberam com gritos e aplausos, músicas e danças, que Francisco respondeu com sorrisos e a distribuição de benção.

"Como não denunciar as injustiças que sofrem? A atroz injustiça da marginalização urbana. São as feridas provocadas por minorias que concentram o poder, a riqueza e esbanjam com egoísmo, enquanto crescentes maiorias devem refugiar-se em periferias abandonadas, contaminadas, descartadas", disse Francisco.

O pontífice denunciou "novas formas de colonialismo" que relegam os países africanos a ser "peças de um mecanismo e de uma engrenagem gigantesca", que os submetem a pressões "para que adotem políticas de descarte, como a da redução da natalidade".

Na mesma linha, o pontífice criticou "a falta de acesso às infraestruturas e serviços básicos, a injusta distribuição do solo (...) que leva em muitos casos famílias inteiras a pagar aluguéis abusivos por residências em condições nada adequadas" e o "monopólio de terras por parte de 'promotores privados' sem rosto, que até pretendem apropriar-se do pátio das escolas de seus filhos".

"A hostilidade que sofrem os bairros populares se agrava quando a violência se generaliza e as organizações criminosas, a serviço de interesses econômicos ou políticos, utilizam crianças e jovens para seus negócios violentos", prosseguiu.

Recordando o "direito sagrado aos 'três T', terra, teto e trabalho", o papa defendeu uma "respeitosa integração urbana".

"Nem erradicação, nem paternalismo, nem indiferença, nem mera contenção", disse.

Depois que uma religiosa do bairro criticou o fato de apenas 4% do clero de Nairóbi trabalhar nos subúrbios pobres, que concentram metade da população da capital queniana, Francisco fez um apelo a favor do envolvimento de todos os cristãos.

"A visita a Kangemi foi para o papa uma forma de ilustrar, de forma concreta, os males da megalópole africana, que já abordou ante as instituições da ONU na quinta-feira em um discurso sobre o meio ambiente", disse o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.

Mais tarde, o pontífice falou para dezenas de milhares de jovens no estádio de Kasarani, onde também foi recebido com entusiasmo.

"Eu os convido a todos a lutar contra o tribalismo e dizer: somos uma nação!", afirmou Francisco.

O pontífice argentino destacou também que a corrupção que gangrena o Quênia e muitos países africanos "é um caminho que não conduz à vida e sim à morte".

"É como o açúcar, é doce, é fácil de gostar, mas nos come por dentro. E, no final, vocês ou seu país acabam diabéticos", explicou.

Uganda, próxima etapa

O papa deixou o Quênia às 16H15 (11H15 de Brasília) com destino à vizinha Uganda, segunda etapa da viagem ao continente africano.

Neste país, Francisco se reunirá com o presidente Yoweri Museveni, representantes políticos e diplomáticos, antes do primeiro discurso da visita de um dia e meio ao país marcado por guerras e ditaduras, e com uma taxa particularmente alta de vítimas da aids.

As forças de segurança ugandesas serão mobilizadas em grande número ao longo do itinerário do papa, em um país que impediu recentemente vários planos de atentado dos jihadistas somalis.

Assim como o Quênia, Uganda contribui com um contingente militar à força da União Africana na Somália (AMISOM), o que faz do país um alvo potencial dos islamitas somalis.

Quase 47% dos ugandeses, o que representa mais de 17 milhões de habitantes, são católicos. O país é um dos Estados africanos onde as instituições sociais da Igreja católica são mais ativas.

No domingo, o papa viajará para Bangui, capital da República Centro-Africana, devastada desde 2013 por uma guerra civil com tons religiosos e a etapa mais perigosa da viagem.

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Os fiéis o receberam com gritos e aplausos, músicas e danças, que Francisco respondeu com sorrisos e a distribuição de benção.

"Como não denunciar as injustiças que sofrem? A atroz injustiça da marginalização urbana. São as feridas provocadas por minorias que concentram o poder, a riqueza e esbanjam com egoísmo, enquanto crescentes maiorias devem refugiar-se em periferias abandonadas, contaminadas, descartadas", disse Francisco.

O pontífice denunciou "novas formas de colonialismo" que relegam os países africanos a ser "peças de um mecanismo e de uma engrenagem gigantesca", que os submetem a pressões "para que adotem políticas de descarte, como a da redução da natalidade".

Na mesma linha, o pontífice criticou "a falta de acesso às infraestruturas e serviços básicos, a injusta distribuição do solo (...) que leva em muitos casos famílias inteiras a pagar aluguéis abusivos por residências em condições nada adequadas" e o "monopólio de terras por parte de 'promotores privados' sem rosto, que até pretendem apropriar-se do pátio das escolas de seus filhos".

"A hostilidade que sofrem os bairros populares se agrava quando a violência se generaliza e as organizações criminosas, a serviço de interesses econômicos ou políticos, utilizam crianças e jovens para seus negócios violentos", prosseguiu.

Recordando o "direito sagrado aos 'três T', terra, teto e trabalho", o papa defendeu uma "respeitosa integração urbana".

"Nem erradicação, nem paternalismo, nem indiferença, nem mera contenção", disse.

Depois que uma religiosa do bairro criticou o fato de apenas 4% do clero de Nairóbi trabalhar nos subúrbios pobres, que concentram metade da população da capital queniana, Francisco fez um apelo a favor do envolvimento de todos os cristãos.

"A visita a Kangemi foi para o papa uma forma de ilustrar, de forma concreta, os males da megalópole africana, que já abordou ante as instituições da ONU na quinta-feira em um discurso sobre o meio ambiente", disse o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.

Mais tarde, o pontífice falou para dezenas de milhares de jovens no estádio de Kasarani, onde também foi recebido com entusiasmo.

"Eu os convido a todos a lutar contra o tribalismo e dizer: somos uma nação!", afirmou Francisco.

O pontífice argentino destacou também que a corrupção que gangrena o Quênia e muitos países africanos "é um caminho que não conduz à vida e sim à morte".

"É como o açúcar, é doce, é fácil de gostar, mas nos come por dentro. E, no final, vocês ou seu país acabam diabéticos", explicou.

Uganda, próxima etapa

O papa deixou o Quênia às 16H15 (11H15 de Brasília) com destino à vizinha Uganda, segunda etapa da viagem ao continente africano.

Neste país, Francisco se reunirá com o presidente Yoweri Museveni, representantes políticos e diplomáticos, antes do primeiro discurso da visita de um dia e meio ao país marcado por guerras e ditaduras, e com uma taxa particularmente alta de vítimas da aids.

As forças de segurança ugandesas serão mobilizadas em grande número ao longo do itinerário do papa, em um país que impediu recentemente vários planos de atentado dos jihadistas somalis.

Assim como o Quênia, Uganda contribui com um contingente militar à força da União Africana na Somália (AMISOM), o que faz do país um alvo potencial dos islamitas somalis.

Quase 47% dos ugandeses, o que representa mais de 17 milhões de habitantes, são católicos. O país é um dos Estados africanos onde as instituições sociais da Igreja católica são mais ativas.

No domingo, o papa viajará para Bangui, capital da República Centro-Africana, devastada desde 2013 por uma guerra civil com tons religiosos e a etapa mais perigosa da viagem.

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