Palestinos buscam liderança uma década depois de Arafat
População alega que as divisões no terreno político e social contrastam com legado em uma Palestina que consideram órfã de liderança
Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2014 às 15h16.
Ramala - Yasser Arafat atraiu os olhares do mundo sobre a causa de seu povo e convenceu os palestinos que a unidade era o único caminho para sua libertação, lembram muitas pessoas na Cisjordânia uma década após a morte do líder.
Transcorrido este tempo, elas também alegam que as divisões no terreno político e social, ampliadas pela descontinuidade geográfica e por uma crítica situação de tensão em permanente ebulição com Israel, contrastam com seu legado em uma Palestina que consideram órfã de liderança.
"Ele foi quem trabalhou por e para a unidade. Era tudo para a Palestina . Deixou um grande vazio que sentimos diariamente. Sentimos saudades de alguém que nos represente", resumiu Nawal Nazeeh.
Este veterano combatente que se tornou presidente da Associação Nacional de Cultura viveu literalmente "à sombra do líder" como parte de sua guarda pessoal, com quem percorreu um mundo que conheceu a Palestina através de sua figura.
"Desde que morreu "Abu Amar", não conseguimos nada em nível político, e a sociedade está mais fragmentada. Oslo e o Estado palestino estão mortos pelo confisco de terras, a construção de assentamentos. Os israelenses mataram seus direitos e os nossos, e a ideia de dois Estados em uma mesma terra", lamentou Nazeeh.
"Agora, com a situação de al-Aqsa, em Jerusalém, vamos para tempos difíceis. Os israelenses não querem a paz conosco, necessitam do conflito para se manterem coesos, e acho que a única via é a resistência, outra Intifada. Mas, neste caso, será uma guerra", afirmou ele na frente de sua filha Lema, que se mostrou surpresa após ouvir a declaração firme de seu pai.
Essa ativista e advogada representa uma geração de jovens que olha com desconfiança sua classe política e passa por uma crise de valores.
"Como parte de outra geração, crescemos com ele e podemos sentir que não há uma liderança. Mas talvez seja algo bom, porque ele era tudo, e quando morreu, a liderança morreu também. Agora temos que lutar para encontrar outro modelo", apontou Lema.
"Nossos problemas são Gaza, a ruptura da sociedade, a violência israelense. Mas não podemos apoiar nenhum partido político, portanto nos mantemos neutros antes de nos associarmos a grupos que não nos representam. É tempo de passar o bastão a uma liderança mais jovem, acabar com os políticos eternizados no poder. Somos uma sociedade com medo da mudança, mas é o momento", acrescentou a jovem.
Zoraida Hussein, diretora do Comitê Técnico de Assuntos das Mulheres, uma organização nascida no espírito associativo da primeira intifada que nunca comungou com os Acordos de Oslo assinados por Arafat com Israel, mostrou seu pessimismo.
"Oslo fez muito mal. Mas até as que estávamos contra acreditávamos que realmente estávamos edificando as bases de nosso estado e nossa sociedade. Até 2001. Ele (Arafat) e todos nos caímos no conto", frisou.
"Arafat quis uma sociedade secular na qual fossem respeitados os direitos humanos, a mulher em igualdade de condições e sem discriminação por gênero, posição econômica, por cor ou religião", explicou, a partir de sua perspectiva.
Mas quando Israel assediou o palácio presidencial de Muqata com ele dentro, em 2002, "nos tiraram a imagem que tinha criado de solidariedade entre nós mesmos como caminho da nossa salvação. Se romperam imagens de autoridade, nos foi dito que ninguém nos protegia", acrescentou.
Agora, uma década depois, ela vê um ambiente "terrível politicamente".
"As mulheres perdemos direitos. Nosso presidente negocia sem falar com ninguém e há grupos religiosos que querem ficar mais fortes. Temos uma Autoridade palestina com um governo que tem ministros, mas não líderes", criticou Zoraida.
"O vazio que (Arafat) deixou foi enchido por pessoas com uma visão imperialista e não socialista para a Palestina, com interesses econômicos fortes que as leva a ter relações com os ricos israelenses. O povo se sente à intempérie. Nos encurralam, e nos fechamos na religião e ao mundo", concluiu.
Um antigo membro das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa - braço armado do partido nacionalista Fatah fundado por Arafat - concorda com a visão de que, apesar de tudo, existe uma herança viva.
Esse princípio se resume, segundo ele, "no claro princípio de amar a Palestina, de ter uma identidade, estar orgulhoso dela e se manter unido para defendê-la".
"E os objetivos reais: buscarmos nossa liberdade e não recuarmos até consegui-la, sem cedê-la a outros", afirmou, emocionado, este jovem, que pediu para que seu nome não fosse publicado.
Essa herança, na opinião de todos os citados, está ameaçada não só pelas políticas de ocupação e segregação de Israel, mas também por grupos religiosos como o Hamas, que desde o desaparecimento de Arafat "não respeitou a união e buscou seus próprios interesses".
"Nossa única solução, agora, é nos definirmos através de eleições e decidirmos quem vai nos liderar. Se os liberais ou os radicais, alimentados por Israel", concluiu Nawal Nazeeh.
Ramala - Yasser Arafat atraiu os olhares do mundo sobre a causa de seu povo e convenceu os palestinos que a unidade era o único caminho para sua libertação, lembram muitas pessoas na Cisjordânia uma década após a morte do líder.
Transcorrido este tempo, elas também alegam que as divisões no terreno político e social, ampliadas pela descontinuidade geográfica e por uma crítica situação de tensão em permanente ebulição com Israel, contrastam com seu legado em uma Palestina que consideram órfã de liderança.
"Ele foi quem trabalhou por e para a unidade. Era tudo para a Palestina . Deixou um grande vazio que sentimos diariamente. Sentimos saudades de alguém que nos represente", resumiu Nawal Nazeeh.
Este veterano combatente que se tornou presidente da Associação Nacional de Cultura viveu literalmente "à sombra do líder" como parte de sua guarda pessoal, com quem percorreu um mundo que conheceu a Palestina através de sua figura.
"Desde que morreu "Abu Amar", não conseguimos nada em nível político, e a sociedade está mais fragmentada. Oslo e o Estado palestino estão mortos pelo confisco de terras, a construção de assentamentos. Os israelenses mataram seus direitos e os nossos, e a ideia de dois Estados em uma mesma terra", lamentou Nazeeh.
"Agora, com a situação de al-Aqsa, em Jerusalém, vamos para tempos difíceis. Os israelenses não querem a paz conosco, necessitam do conflito para se manterem coesos, e acho que a única via é a resistência, outra Intifada. Mas, neste caso, será uma guerra", afirmou ele na frente de sua filha Lema, que se mostrou surpresa após ouvir a declaração firme de seu pai.
Essa ativista e advogada representa uma geração de jovens que olha com desconfiança sua classe política e passa por uma crise de valores.
"Como parte de outra geração, crescemos com ele e podemos sentir que não há uma liderança. Mas talvez seja algo bom, porque ele era tudo, e quando morreu, a liderança morreu também. Agora temos que lutar para encontrar outro modelo", apontou Lema.
"Nossos problemas são Gaza, a ruptura da sociedade, a violência israelense. Mas não podemos apoiar nenhum partido político, portanto nos mantemos neutros antes de nos associarmos a grupos que não nos representam. É tempo de passar o bastão a uma liderança mais jovem, acabar com os políticos eternizados no poder. Somos uma sociedade com medo da mudança, mas é o momento", acrescentou a jovem.
Zoraida Hussein, diretora do Comitê Técnico de Assuntos das Mulheres, uma organização nascida no espírito associativo da primeira intifada que nunca comungou com os Acordos de Oslo assinados por Arafat com Israel, mostrou seu pessimismo.
"Oslo fez muito mal. Mas até as que estávamos contra acreditávamos que realmente estávamos edificando as bases de nosso estado e nossa sociedade. Até 2001. Ele (Arafat) e todos nos caímos no conto", frisou.
"Arafat quis uma sociedade secular na qual fossem respeitados os direitos humanos, a mulher em igualdade de condições e sem discriminação por gênero, posição econômica, por cor ou religião", explicou, a partir de sua perspectiva.
Mas quando Israel assediou o palácio presidencial de Muqata com ele dentro, em 2002, "nos tiraram a imagem que tinha criado de solidariedade entre nós mesmos como caminho da nossa salvação. Se romperam imagens de autoridade, nos foi dito que ninguém nos protegia", acrescentou.
Agora, uma década depois, ela vê um ambiente "terrível politicamente".
"As mulheres perdemos direitos. Nosso presidente negocia sem falar com ninguém e há grupos religiosos que querem ficar mais fortes. Temos uma Autoridade palestina com um governo que tem ministros, mas não líderes", criticou Zoraida.
"O vazio que (Arafat) deixou foi enchido por pessoas com uma visão imperialista e não socialista para a Palestina, com interesses econômicos fortes que as leva a ter relações com os ricos israelenses. O povo se sente à intempérie. Nos encurralam, e nos fechamos na religião e ao mundo", concluiu.
Um antigo membro das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa - braço armado do partido nacionalista Fatah fundado por Arafat - concorda com a visão de que, apesar de tudo, existe uma herança viva.
Esse princípio se resume, segundo ele, "no claro princípio de amar a Palestina, de ter uma identidade, estar orgulhoso dela e se manter unido para defendê-la".
"E os objetivos reais: buscarmos nossa liberdade e não recuarmos até consegui-la, sem cedê-la a outros", afirmou, emocionado, este jovem, que pediu para que seu nome não fosse publicado.
Essa herança, na opinião de todos os citados, está ameaçada não só pelas políticas de ocupação e segregação de Israel, mas também por grupos religiosos como o Hamas, que desde o desaparecimento de Arafat "não respeitou a união e buscou seus próprios interesses".
"Nossa única solução, agora, é nos definirmos através de eleições e decidirmos quem vai nos liderar. Se os liberais ou os radicais, alimentados por Israel", concluiu Nawal Nazeeh.