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Os novos emergentes de 2017

Falar em BRICS – grupo de países que reúne Brasil, Rússia, Índia e China – como os dínamos da economia global já não faz sentido há um bom tempo. Muito por culpa nossa. O Brasil, como se sabe, está numa das piores recessões econômicas da história. A Rússia luta para sair da própria recessão em […]

DUTERTE: as Filipinas avançam, mas seu presidente é acusado de violações de direitos humanos  / Romeo Ranoco/ Reuters

DUTERTE: as Filipinas avançam, mas seu presidente é acusado de violações de direitos humanos / Romeo Ranoco/ Reuters

DR

Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2016 às 08h22.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h42.

Falar em BRICS – grupo de países que reúne Brasil, Rússia, Índia e China – como os dínamos da economia global já não faz sentido há um bom tempo. Muito por culpa nossa. O Brasil, como se sabe, está numa das piores recessões econômicas da história. A Rússia luta para sair da própria recessão em meio às sanções impostas desde que anexou a Crimeia em 2014. Já Índia e China estão entre os países que mais crescem, mas os chineses reduzem a marcha, e os indianos divulgam dados pra lá de duvidosos.

Quem são, neste contexto, os novos destaque no crescimento global? O mundo não parou de girar – a economia global deve avançar 2,7% em 2016, acima dos 2,4% de 2015. EXAME Hoje separou uma lista com quatro economias que surpreenderam em 2016 e que já têm um robusto crescimento encomendado para 2017. A má notícia: todos eles partem de bases muito menores, e todos eles têm problemas graves a enfrentar no curto prazo. Além, claro, de serem incapazes de levar a economia global para lugar algum por simples falta de força econômica. Ainda assim, é uma lista que traz lições importantes.

Bangladesh

Nos últimos 10 anos, a economia de Bangladesh cresceu uma média de 6% ao ano e deve repetir o feito, com um aumento de 6,7% do PIB em 2017. Os principais fatores que impulsionam a economia são a indústria de vestuário voltado para a exportação e a alta taxa de consumo interno.

Apesar disso, Bangladesh tem seus próprios problemas para enfrentar no crescimento: extrema vulnerabilidade a mudanças climáticas, alta densidade populacional, pobreza persistente e altas taxas de poluição, causa pelas indústrias mais ativas e produtivas do país. Uma estimativa do Banco de Desenvolvimento da Ásia prevê que só o dano causado pelas mudanças climáticas impactará o PIB em 2% até 2050.

O foco é crescer, mas de uma forma ambientalmente sustentável. Apesar disso, ainda falta dos legisladores e políticos do país construir uma política que incorpore tanto a questão ambiental quanto econômica. Um passo já foi dado em 2016: um documento chamado de Políticas Industriais prevê incentivos específicos para empresas que promovam o crescimento verde e o uso de energia renovável.

Costa do Marfim

Com uma economia que cresceu 9,2% em 2015 e deve crescer 7,8% este ano, a Costa do Marfim foi chamada pelo Banco Mundial de o “incrível elefante”, em referência ao animal característico do país. O crescimento do país é um dos maiores da África Sub-Saariana, guiado por uma forte agricultura, setor de serviços, indústria e demanda interna.

A Costa do Marfim se recupera ainda de um golpe de estado, que aconteceu em 1999 e subsequente guerra civil, que viu crescer disputas territoriais e religiosas entre os habitantes. O mais recente conflito do país aconteceu em 2011, após a eleição do presidente Alassane Ouattara, reconhecido internacionalmente, e os descontentes, adeptos do governo de Laurent Gbagbo, presidente da Costa do Marfim desde 2000. No ano passado, Ouattara foi reeleito sem conflito e o país engata a segunda parte de um plano econômico nacional, que previu o crescimento entre 2012 e 2016, e agora será extendido até 2020.

Embora as coisas pareçam estar nos eixos, ainda há muito que caminhar. O país diminuiu a pobreza extrema de 51% da população em 2011 para 46% em 2o15 — ainda longe do que já foi: em 1985 apenas 10% dos habitantes da Costa do Marfim viviam abaixo da linha da pobreza. Entre os desafios do país para os anos subsequentes está focar o crescimento para criar novas oportunidades de emprego fora do setor agrícola, já que o país deve sua população em idade produtiva dobrada nos próximos 15 anos.

Filipinas

Com um crescimento de 7,1% no PIB do terceiro trimestre de 2016 e uma projeção de crescimento de mais de 6% no ano que vem, o país vem superando concorrentes de peso como a China e o Vietnã. As taxas de inflação e desemprego são baixas. A principal fonte do PIB, o consumo das famílias, que responde por 70% da economia, cresceu 7,3% ante o ano anterior.

Com uma população jovem, o país tem um colchão de 50 bilhões de dólares em faturamento com venda de serviços por ano. O plano do presidente Rodrigo Duterte de investir 160 bilhões de dólares em infraestrutura para a criação de empregos também foi bem recebido nacionalmente e inclui usar 1 bilhão em contratos para construir um aeroporto e uma estrada de ferro, transformando em um centro de comércio uma antiga base militar americana.

Mas nem tudo são flores e é por uma razão muito menos nobre que as Filipinas têm estampado as manchetes de jornais no ocidente. Desde que Duterte assumiu a presidência em junho ele tem promovido uma violenta política de combate, e caça, a traficantes e usuários de drogas. Só a polícia já matou, pelo menos, 2.000 pessoas envolvidas com tráfico ou consumo de drogas, em especial cristais de metanfetamina, que os filipinos chamam de “shabu”. O número salta para 6.000 pessoas se contabilizarmos os assassinatos cometidos por grupos de extermínio — uma média de 37 mortes por dia.

Do número registrado até agora, o presidente promete aumentar para 20.000 a 30.000. Os que não morreram ainda também viraram estatística: o governo já bateu em 3,5 milhões de residências (nos bairros nobres, ao invés de armas, a polícia apresenta folhetos que informam o que acontece com quem é pego usando drogas), forçando 727.600 usuários e 56.000 traficantes a se render, o que lotou as cadeias.

A economia deve continuar crescendo, mas é incerto se haverá algum tipo de intervenção internacional nas violentas políticas sociais de Duterte.

Myanmar

Um país marcado por décadas de governo militar e conflitos étnicos parece estar, aos poucos, lidando com os problemas e conseguindo emergir. Quando o então presidente Thein Sein taxou os conglomerados militares em 2011 e retirou a exclusividade de venda de diversos bens de consumo, o mercado de Myanmar foi aberto à competição externa, algo que há anos não acontecia.

Apesar de em março ter assumido o primeiro governo democraticamente eleito, da atual presidente Aung San Suu Kyi, os militares ainda mantêm vasto interesse nos negócios, e na política. Eles controlam três ministérios fortes e 25% do parlamento, o que significa que podem impor sérias sanções aos planos econômicos de Suu Kyi. Antes do exército assumir o poder em 1962 por meio de um golpe, o país era um dos países mais ricos do sudeste asiático e um grande exportador de arroz.

Myanmar está entre os mais pobres do mundo. O PIB, que tem uma estimativa de crescimento de 8% este ano e cerca de 9% no ano que vem, tem uma base pequena e a relação per capita é de 1.204 dólares, menos de um quinto da vizinha Tailândia.

Depois de lutar anos no exílio por democracia, Suu Kyi anunciou em julho um plano para a economia de Myanmar que incluía grande liberalização e a fuga da economia planificada. Apesar de bem recebido, nacional e internacionalmente, muitas ideias ainda eram vagas e os planos para agricultura, como aumento de crédito agrícola, ou para a infraestrutura, como prioridade para estradas, geração elétrica e portos, são pouco detalhados. Os objetivos são ótimos, mas em um país que precisa consertar tudo é difícil prever com certeza como a solução será e como a atual presidente irá costurar a retomada. Analistas dizem que Suu Kyi não pode centralizar o governo em sua pessoa, mas delegar as funções — ela tem sido acusado de microgerenciar demais o governo. 2017 pode mostrar o caminho da recuperação.

 

 

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