CIVIS ATINGIDOS: enquanto a Síria virou um palco para medição de forças entre as potências, milhares sofrem / Abdalrhman Ismail/Reuters
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2016 às 05h47.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h41.
Alepo, a segunda maior cidade da Síria, está finalmente sendo evacuada. Milhares de rebeldes e seus familiares, incluindo mulheres e crianças, estão sendo retirados da cidadela histórica, já em ruínas. A operação, que teve início na quinta-feira após acordo de cessar-fogo, está sendo realizada pela Cruz Vermelha. Mais de 50 caminhões, ônibus e ambulâncias realizam o transporte da população para aldeias xiitas vizinhas. O movimento continua nesta sexta-feira, em cumprimento ao acordo de cessar-fogo.
A retirada acontece após o governo sírio ter tomado a região, há anos controlada pela Frente al-Nusra, numa vitória emblemática para o presidente Bashar al-Assad. Enquanto, na televisão, ele anunciava a “libertação” de Alepo, a internet viralizava um vídeo de crianças sírias pedindo para serem resgatadas. A região, onde ainda vivem cerca de 50.000 pessoas, tem sofrido severos bombardeios há cerca de um mês, com apoio das tropas russas.
A guerra civil na Síria se estende há quase seis anos, e começou com protestos inspirados pela Primavera Árabe contra a corrupção, o desemprego e o frequente abuso de poder. Mais de 400.000 pessoas morreram nos conflitos entre o governo e os rebeldes contrários a al-Assad, e cerca de 4,5 milhões precisaram fugir, resultando na maior crise de migração da história. A cidade de Alepo se tornou o epicentro do conflito, mas sua retomada não significa o fim da guerra. Grupos jihadistas e curdos ainda dominam outras áreas importantes do país.
Nesta sexta-feira, diplomatas do Conselho de Segurança da ONU se reúnem para discutir modalidade que garantam a retirada de civis com segurança e a chegada de auxílio a Alepo. Ao longo de todos esses anos, o mundo se mostrou incapaz de intermediar os conflitos na região e, na verdade, a Síria se tornou um palco para medir forças internacionais. De um lado, a Rússia fornece armamento e forças militares para lutarem ao lado de Bashar al-Assad, alegando ofensiva contra o terrorismo; do outro, os Estados Unidos e países do ocidente europeu tentam derrubar o regime antidemocrático, ajudando os rebeldes. Nesse cabo de guerra que ainda não tem fim, milhões de inocentes já foram derrotados.