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O que esperar dos 100 primeiros dias do governo Trump

Chegou a hora dele mostrar se conseguirá transformar seu estilo bombástico em ações concretas, substantivas e positivas para os Estados Unidos e o mundo

Donald Trump: na briga com as montadoras (Lucy Nicholson/Reuters)

Donald Trump: na briga com as montadoras (Lucy Nicholson/Reuters)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 20 de janeiro de 2017 às 17h07.

Última atualização em 20 de janeiro de 2017 às 17h12.

São Paulo - Aconteceu. Donald Trump é o novo presidente dos Estados Unidos. O republicano assume o cargo máximo da país mais poderoso do mundo com o menor índice de aprovação em quase meio século. A partir de agora, tudo que ele fizer ou disser passará por um ferrenho escrutínio público — tanto de apoiadores quanto de adversários. 

Chegou a hora de Trump mostrar se conseguirá transformar seu estilo de campanha bombástico em ações concretas, substantivas e positivas para os Estados Unidos. O que esperar a partir de agora?

Em outubro passado, durante a corrida eleitoral à Casa Branca, Trump e sua equipe apresentaram uma lista de compromissos para os 100 primeiros dias no governo, uma espécie de contrato com o eleitor americano que tem como alvo muitas das políticas de seu antecessor, Barack Obama.

A julgar por seu primeiro pronunciamento à nação, na cerimônia de posse ocorrida na tarde desta sexta-feira, o governo Trump terá personalidade bem nacionalista e protecionista. "A partir deste dia, vai ser apenas a América em primeiro lugar [...] Nós brilharemos para que todos sigam", declarou o presidente.

É quase impossível realizar todas as promessas em tão curto espaço de tempo, mas uma coisa é certa: a agitação em Washington está garantida. Veja a seguir algumas das investidas que devem dar o que falar nos próximos meses.

Saúde

Apostando na maioria republicana do Congresso, Donald Trump prometeu reverter o programa nacional de saúde criado por seu antecessor, o "Obamacare" (Affordable Care Act), instituído com o objetivo de democratizar o acesso aos planos de saúde nos EUA.

O programa de Obama obriga que todo cidadão tenha um plano de saúde, além de dar subsídios aos mais pobres. Hoje, o programa atende mais de 20 milhões de pessoas que não tinham cobertura alguma. Trump diz que vai substitui-lo "simultaneamente" por um plano "melhor e mais barato", embora não tenha deixado claro como fará isso.

Muitos americanos são contrários ao Obamacare por julgá-lo uma invasão do estado na vida privada das pessoas, devido ao seu caráter mandatório. Quem não adere ao plano é multado. Por isso, os críticos do projeto, entre eles Trump, defendem que cada cidadão decida como cuidar de sua própria saúde.

Comércio

O presidente recém-empossado também prometeu retirar os EUA do acordo comercial Parceria Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês), que a administração Obama esperava deixar como legado. O novo presidente e membros de seu novo gabinete dizem que não são contra o comércio, mas vêem a necessidade de acordos mais fortes, preferencialmente bilaterais.

O TPP é destinado a promover o investimento e as ligações comerciais entre 12 países em ambos os lados do Oceano Pacífico, cobrindo 40% do comércio global, mas ainda falta ser ratificado pelos respetivos congressos para poder entrar em vigor.

No campo comercial, Trump prometeu ainda reanimar o setor manufatureiro nos EUA, reforçar a aplicação dos acordos comerciais existentes e punir empresas que resolvem produzir em outros países com a imposição de um imposto de fronteira proibitivo.

Ele também declarou que pedirá ao seu secretário do Tesouro que classifique a China como “manipuladora de divisas”, uma medida que pode provocar represálias por parte da segunda economia mundial. Analistas temem que as críticas e ameaças contra o gigante asiático possam desencadear uma guerra comercial entre as duas potências. 

Segurança nas fronteiras e imigração

Construir uma imensa barreira na fronteira com o México é, de longe, a promessa mais polêmica do novo presidente, e ele está mais obstinado do que nunca. Não se sabe ainda como isso seria possível do ponto de vista estrutural — vai ser um muro de concreto, cerca, arame? — já que estamos falando de uma barreira de impressionantes 3,2 mil quilômetros.

O empenho de Trump é tamanho que ele já considera passar os custos iniciais da construção do muro, estimados em US$ 14 bilhões para os próprios contribuintes americanos, ao contrário do que havia prometido na campanha eleitoral, de que todo custo seria pago pelo México. Ele afirmou em seu perfil twitter, porém, que o financiamento inicial dos EUA seria para iniciar a construção do muro mais rapidamente, e que o México eventualmente pagaria os EUA de volta depois, mas não disse como isso será feiro.

Antes de qualquer parede ser erguida, claro, a proposta terá que passar pelo Congresso para aprovação e arrecadação de recurso, o que certamente deverá retardar o  processo.

Donald Trump prometeu ainda deportar até 3 milhões de imigrantes ilegais no país. “O que estamos fazendo é pegar essa gente que é criminosa e suas fichas criminais, membros de gangues, traficantes, que totalizam dois, talvez três milhões. E vamos tirá-los do país e vamos fazer com que sejam presos”, declarou em entrevista à rede americana CBS.

Meio ambiente e energia

Trump deixou claro seu desdém pelas evidências científicas envolvendo um dos maiores desafios ambientais de nosso tempo, o combate às mudanças climáticas, chegando a se referir ao fenômeno como "uma farsa". Desse modo, ele pretende revogar e flexibilizar diversas regulações ambientais, como as restrições para produção de energia a partir do carvão e do xisto, abrindo novas áreas federais para perfuração e exploração, e trazer de volta centenas de empregos nesses setores.

O novo presidente também poderia eliminar os métodos do governo Obama de calcular os benefícios econômicos das reduções de gases de efeito estufa, bem como os esforços para reduzir a emissão de carbono das operações do governo federal.

Nos planos do republicano também está a aprovação do controverso oleoduto Keystone XL, que unirá uma região do Canadá com os Estados Unidos, um projeto bloqueado pela administração Obama por colocar em risco a capacidade americana de continuar liderando o combate às mudanças climáticas e devido ao risco de danos ambientais eventualmente ocasionados por vazamentos.

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