Maciço de Kebnekaise, ao norte da Suécia: promessas de zerar emissões feitas até agora por países e empresas são insuficientes (AFP/AFP)
Carolina Riveira
Publicado em 26 de outubro de 2021 às 13h26.
A pandemia do novo coronavírus, além da tragédia que tirou a vida de quase 5 milhões de pessoas, mudou profundamente a forma de consumir e viver no mundo. Para a economia, essa revolução poderia ter sido também uma oportunidade para combater as mudanças climáticas de forma mais efetiva. Não é o que vem acontecendo, aponta relatório das Nações Unidas (ONU).
O documento divulgado nesta terça-feira, 26, traz um alerta de que, pelos compromissos firmados até agora pelos governos, a redução nas emissões de carbono até 2030 será de somente 7,5%.
Para evitar que a temperatura suba 1,5 grau Celsius, seria preciso um corte muito maior, de 45%.
A ONU afirma que o mundo perdeu a oportunidade de "voltar melhor" da pandemia. Ainda que as emissões tenham caído 5,4% no ano passado devido às quarentenas globais, segundo o relatório, só um quinto dos estrondosos gastos voltados à recuperação econômica foram usados para cortar emissões.
"Os países estão jogando fora uma oportunidade massiva de investir os recursos fiscais e de recuperação da covid-19 de maneiras sustentáveis, com bom custo benefício e capazes de salvar o planeta", disse António Guterres, secretário-geral da ONU.
O relatório é divulgado dias antes da COP26, Conferência do Clima que acontecerá em Glasgow, na Escócia, a partir deste domingo.
A meta de evitar o aumento da temperatura em 1,5 grau será buscada na conferência, mas o alerta da ONU deixa claro que o mundo está longe de chegar lá se metas mais ambiciosas não forem definidas.
Mais de 100 países e uma série de grandes empresas já prometeram zerar as emissões de carbono até metade desde século, por volta de 2050. Mas mesmo esse compromisso não será suficiente, alerta a ONU. Além disso, a organização aponta que muitas das metas de países e empresas para zerar emissões ainda são "vagas", sem um plano real para serem atingidas.
“A mudança climática não é mais um problema futuro. É um problema de agora", disse Inger Andersen, diretor executivo do Programa Ambiental da ONU (Unep), segundo reportado pelo jornal britânico The Guardian.
"Para termos uma chance de limitar o aquecimento global a 1,5 grau, temos oito anos para reduzir quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa: oito anos para fazer os planos, colocar em prática as políticas, implementá-las e, por fim, entregar os cortes. O relógio está batendo alto", disse.