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'Nunca haverá segurança para Israel enquanto Palestina não tiver seus direitos garantidos', diz UE

No Rio para participar da Cúpula do G20, Josep Borrell abordou também a guerra na Ucrânia, a mudança de mentalidade na ONU e teceu elogios à liderança do Brasil

Chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell (Jaap Arriens/Getty Images)

Chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell (Jaap Arriens/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 22 de fevereiro de 2024 às 13h44.

Em entrevista a jornalistas presentes na Cúpula do G20, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse que não há como haver segurança e estabilidade para Israel enquanto a Palestina não tiver a garantia de seus direitos. A guerra em Gaza foi um dos pontos discutidos entre os ministros no encontro, cuja solução, reconheceu, não é simples. Borrell abordou também a guerra na Ucrânia, a reforma do Conselho de Segurança da ONU e teceu elogios à liderança do Brasil no fórum.

— Todos concordam que a guerra deve acabar, mas não concordam sobre como fazer isso — disse, em referência ao que foi discutido nas reuniões da Cúpula, destacando um "denominador comum" para a resolução do conflito: — Não haverá segurança sustentável para Israel, a menos que os palestinos tenham uma perspectiva política clara para construir seu próprio Estado.

Borrell pediu ainda que o chanceler brasileiro Mauro Vieira, em sua declaração final, fosse o "porta-voz da solução de dois Estados" – criação de um Estado palestino que coexista pacificamente com o israelense – e que divulgasse para o mundo "que todos eram a favor do cessar-fogo".

— Se todo mundo é a favor da solução, então temos que mobilizar nossa capacidade política para pressionar pela solução.

Sobre a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do último final de semana, que comparou as ações de Israel à morte de judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler e abriu uma crise diplomática com o país, Borrell disse que a situação em Gaza é preocupante, mas que o paralelo "não é razoável".

— Não quero interferir em uma questão interna, mas, para nós, é claro que Lula não quis fazer uma comparação entre o que os alemães fizeram durante a Segunda Guerra Mundial, organizar uma matança sistemática de 6 milhões de pessoas, com o que acontece hoje com os palestinos. O que acontece em Gaza é preocupante, mas esta comparação não é razoável — afirmou.

Ainda sobre as tensões na região, o representante do bloco europeu demonstrou preocupação com o número de civis palestinos mortos recentemente na Cisjordânia ao dizer que a região "está fervendo".

Mudanças na ONU

Em relação à reforma no Conselho de Segurança da ONU, uma das pautas defendidas pelo Brasil durante sua presidência à frente do G20, Borrell reconheceu que o conselho não é mais “funcional” da maneira como está estabelecido — os cinco membros com assento permanente no órgão (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) têm poder de veto mesmo que os demais aprovem ou se abstenham.

Questionado pelo GLOBO sobre a proposta brasileira, para uma ampla reforma, o chefe da diplomacia europeia defendeu ser “muito boa” e teceu elogios à presidência do Brasil no G20. Em sua visão, o foco dado pelo Brasil ao chamado Sul Global aproxima "mais e melhor" os europeus da região e evita que o mundo seja "construído em torno de uma disputa entre o Ocidente versus. Oriente". Ele também saudou a participação inédita da União Africana.

— O Brasil conseguiu colocar sobre a mesa a preocupação de que o mundo emergente está se tornando um dos líderes mais importantes do mundo, de fato. E essa proposta é muito significativa. Vamos ver como ela está sendo aceita. Mas uma coisa é fato, se o Conselho de Segurança tiver cada vez mais e mais vetos, ele será (cada vez menos útil).

Citou de exemplo os vetos dos EUA nas questões de Gaza, e os da Rússia nas da Ucrânia, ao dizer que criam "um claro bloqueio para o funcionamento das Nações Unidas em geral".

— Não há confiança entre os membros da comunidade mundial, e o mundo está se tornando cada vez mais polarizado. Não se trata apenas de discordâncias sobre a solução de conflitos, trata-se de algo muito mais existencial, que é vida ou morte — disse Borrell.

Em um mundo cada vez "mais multipolar", Borrel observou ainda que o desafio de uma reforma seria a adequação e o gerenciamento de todos os novos participantes à mesa de negociações. Ele ressaltou que o objetivo de eventuais mudanças nos organismos multilaterais é fazer com que as instituições funcionem, e não criar algo novo:

— Nosso objetivo é fazer com o que nós temos funcione melhor, e não necessariamente criar algo novo. E para isso é necessário um maquinário de configuração institucional, mas também é necessário uma mentalidade geral (mindsetting), uma atitude, uma maneira de abordar os problemas. Mas, em relação à mudança das regras, certamente será mais difícil.

Impacto da guerra na Ucrânia

O chefe da diplomacia europeia também falou que alguns países mencionaram, durante as reuniões, a morte do líder da oposição ao presidente russo Vladimir Putin, Alexei Navalny, numa prisão do país no Ártico, na semana passada. Mas disse que a resposta foi um grande silêncio.

Em relação à guerra na Ucrânia, que no próximo sábado completa dois anos, Borrell denunciou o uso de energia e alimentos "como armas de guerra pela Rússia e a crise que isso gerou".

— Quando há menos alimentos e menos energia, os preços sobem, a inflação cresce, os bancos centrais tomam medidas econômicas para conter a inflação. Isso prejudica muito o crescimento econômico e gera problemas em toda parte, menos trabalho, menos crescimento, menos emprego, menos comércio. — disse, acrescentando que o conflito impacta "todo o mundo", mas especialmente os mais vulneráveis, que não podem "arcar com os preços mais altos".

Ele também reforçou que é importante que seja mantido o apoio militar à Ucrânia porque "não há nenhum sinal de que Putin irá parar essa guerra":

— Não vejo nenhum sinal da Rússia no sentido de aceitar um cessar-fogo ou qualquer outra coisa. Um mês atrás, todos tinham um plano [para encerrar a guerra], agora ninguém mais tem.

Com o aumento dos conflitos em escala global, Borrell disse ainda ser "uma pena que estejamos gastando mais dinheiro com questões militares” enquanto questões climáticas continuam sendo negligenciadas.

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