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Novos livros escolares para reforçar ideologia e segurança nacional são adotados na China

Currículo escolar chinês é reformulado para destacar pensamento de Xi Jinping, conflitos históricos e avanços tecnológicos, com foco em preparar os jovens para os desafios nacionais

Novos conteúdos históricos revisitam conflitos militares que antes recebiam pouca atenção na China

Novos conteúdos históricos revisitam conflitos militares que antes recebiam pouca atenção na China

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 28 de agosto de 2024 às 12h57.

Última atualização em 28 de agosto de 2024 às 13h34.

O governo chinês intensificou seus esforços para reforçar o controle ideológico sobre as futuras gerações, lançando uma nova série de livros didáticos que enfatizam a segurança nacional, o pensamento político do presidente Xi Jinping e eventos históricos significativos, como as guerras com a Índia e o Vietnã[/grifar]. As informações são do South China Morning Post. A partir deste semestre, estudantes de escolas primárias e secundárias em todo o país começarão a utilizar esse novo material, que aborda temas como língua chinesa, história, moralidade e direito, conforme anunciado pela emissora estatal CCTV.

Esses novos livros representam uma mudança estratégica na educação obrigatória da China, que compreende nove anos de ensino fundamental e médio. O material atualizado será inicialmente adotado nas primeiras e sétimas séries, com a expectativa de ser implementado em todas as séries nos próximos três anos. Entre os principais destaques do novo currículo está a inclusão da “Ideologia de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era”, que foi incorporada à Constituição do país em 2018. Esse pensamento político abrange orientações sobre diversos aspectos da administração pública e agora se tornou um componente essencial da educação chinesa.

Além disso, os novos conteúdos históricos revisitam conflitos militares que antes recebiam pouca atenção, como a guerra fronteiriça com a Índia em 1962 e o conflito com o Vietnã em 1979. A guerra com a Índia, que resultou em uma vitória chinesa após quatro semanas de combates, e a invasão do Vietnã, motivada para proteger o regime Khmer Vermelho no Camboja, são usados como exemplos da necessidade de defesa nacional e da resposta da China às ameaças externas. Essas revisões curriculares reforçam a importância da segurança nacional e do papel do Estado em garantir a soberania e a integridade territorial do país, preparando os estudantes para compreender e enfrentar os desafios geopolíticos.

Reforma no currículo

Essa reforma no currículo faz parte de um esforço mais amplo do governo chinês para garantir que a ideologia comunista seja profundamente enraizada em todas as esferas da sociedade, desde a infância. A inclusão de temas como segurança nacional, integração étnica e patriotismo nas escolas reflete a visão de Xi Jinping de que a coesão social e a lealdade ao Estado são fundamentais para o fortalecimento da nação. Além disso, essas mudanças ocorrem em um contexto de crescente tensão nas fronteiras chinesas e disputas territoriais, especialmente com a Índia e no Mar do Sul da China, o que reforça a necessidade de preparar os jovens para a importância da defesa nacional.

Os novos livros didáticos também apresentam os avanços tecnológicos e científicos da China, com o objetivo de inspirar um senso de orgulho nacional entre os estudantes e destacar a importância da inovação para a segurança e o desenvolvimento do país. Entre os exemplos apresentados estão o Telescópio Esférico de Abertura de Quinhentos Metros (FAST), o maior radiotelescópio do mundo, e o submersível Jiaolong, que simboliza os esforços da China em explorar as profundezas dos oceanos. Além disso, os novos livros de língua chinesa incluem mais literatura antiga e histórias sobre os anos revolucionários que levaram à vitória do Partido Comunista em 1949.

A reforma educacional, que levou dois anos para ser desenvolvida e foi testada por mais de 100 mil alunos em 550 escolas antes de ser lançada em todo o país, visa criar uma geração de jovens profundamente alinhados com a ideologia do Partido Comunista. A decisão de incluir temas como defesa nacional e coesão étnica reflete a preocupação do governo em preparar a juventude para enfrentar os desafios da China tanto interna quanto externamente.

Apesar de mais de 90% da população chinesa ser composta pela etnia Han, a China abriga 55 grupos étnicos minoritários. A inclusão do conceito de “forjar um senso de comunidade para a nação chinesa” visa promover a integração étnica e fortalecer a unidade nacional, aspectos que Xi Jinping considera cruciais para a estabilidade do país. Essa abordagem faz parte de uma estratégia maior para assegurar que todas as etnias trabalhem juntas em prol do desenvolvimento do país, minimizando as tensões étnicas e promovendo a estabilidade social.

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