Rússia: o porta voz de Moscou afirmou que o armamento da população é realizado de acordo com a lei russa (AFP/Getty Images)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 3 de agosto de 2023 às 10h05.
Última atualização em 3 de agosto de 2023 às 12h35.
A Rússia começou a distribuir armas e equipamentos militares para civis que vivem na região de Belgorod, que fica sudoeste do país, a 40 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. Em entrevista à agência estatal russa de notícias, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que armar "voluntários é necessário" para defender a área.
Os civis receberam metralhadoras, rifles antidrones e veículos adaptados para uso militar. É a primeira vez desde o início da guerra que o governo russo revela distribuir armas a população civil. “Essas medidas são necessárias devido aos ataques vindos do território ucraniano", disse o porta-voz do Kremlin.
Peskov afirmou que o armamento da população é realizado de acordo com a lei russa e que não teme que os equipamentos sejam usados por civis para outros fins. "Todos os mecanismos de controle certamente devem ser fornecidos e implementados com cuidado. Na verdade, não há dúvida de que esse é o caso", explicou. A região tem uma população aproximada de 1,5 milhão de habitantes. Belgorod possui diversos monumentos em memória à Segunda Guerra Mundial e diversas catedrais ortodoxas.
A decisão de armar a população foi anunciada pelo governador de Belgorod, Vyacheclav Gladkov, após ataques ucranianos tornarem a situação "difícil" na região. Em início de junho, Gladkov afirmou que as forças ucranianas realizaram diversos ataques de drones. Um bombardeiro recente teria ferido quatro pessoas, além de danificar oito prédios quatro residências, uma escola e dois prédios administrativos no vilarejo de Shebekino.
Segundo levantamento da BBC Verify, com base em relatos da mídia russa, neste ano já foram registrados mais de 120 ataques de drones na Rússia e em territórios ucranianos controlados por Moscou. Belgorod, Bryansk e a Criméia -- região ucraniana que foi anexada pela Rússia em 2014 --, concentraram o maior número de ataques.
Kiev não assume a responsabilidade por nenhum ataque especifico na Rússia, mas no último domingo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a guerra estava chegando ao território russo.
“A Ucrânia está se fortalecendo. A guerra está voltando gradualmente ao território da Rússia, aos seus centros simbólicos e bases militares, e este é um processo inevitável, natural e absolutamente justo”, disse.
A fala do Zelensky aconteceu após um arranha-céu em Moscou, que é sede de três ministérios russos, ser atacado por um drone pela segunda vez em dois dias. A capital russa fica a 450 quilômetros da fronteira.
Em meio a ataques na Rússia, a Ucrânia também iniciou uma nova fase em sua contraofensiva, com aumento de ataques contra as linhas de frente inimigas no sul do país. As forças ucranianas afirmaram nas últimas semanas que tiveram um avanço em Zaporizhzhia e em outras regiões próximas ao Mar de Azov, que o país invadido deseja alcançar para abrir uma brecha entre os territórios ocupados pela Rússia no leste e no sul. Mais a leste, a Ucrânia está “fazendo progressos” e consolidando suas posições na área de Staromaiorske, acrescentou.
Apesar de Kiev negar uma nova etapa de forma oficial, os militares ucranianos afirmaram anonimamente à imprensa local que unidades de reserva foram deslocadas para a operação e estão focados em romper as trincheiras russas.