O policial George Zimmerman: no julgamento, o ex-vigia se defenderá alegando que foi um caso de defesa pessoal, e não um assassinato, como considera parte da opinião pública. (Pool/ Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2013 às 16h21.
Washington - O julgamento por homicídio contra George Zimmerman, que matou com um tiro um jovem negro desarmado nos Estados Unidos em 2012, começou nesta segunda-feira, em Sanford, centro da Flórida, com a seleção do júri, em um caso manchado por acusações de racismo.
O julgamento, que deve se estender por mais de um mês, começou depois das 09h00 locais (10h00 de Brasília) com a presença de Zimmerman no banco dos réus, dos promotores do estado da Flórida, dos pais da vítima Trayvon Martin, de 31 jornalistas na sala, de 24 pessoas que ganharam um sorteio diário para presenciar a audiência e de quatro pastores que trabalharam com as autoridades para acalmar as tensões sociais provocadas pelo crime.
A juíza Debra Nelson, junto com os advogados de ambas as partes, deve escolher seis membros do júri entre 200 pessoas, todas moradoras do condado de Seminole (400 km ao norte de Miami, na Flórida), razão pela qual este processo inicial deve demorar vários dias.
Zimmerman, de 29 anos, ex-vigia voluntário, será julgado por homicídio em segundo grau de Martin, um adolescente de 17 anos. Martin caminhava desarmado no interior de uma urbanização privada com um casaco com capuz e se dirigia a uma das casas para encontrar seu pai no momento do crime.
Já Zimmerman, filho de pai americano e mãe peruana, se declarou inocente ao alegar que disparou agindo em legítima defesa durante um confronto no qual Martin o teria atacado. No entanto, a vítima foi encontrada apenas com um pacote de doces e com uma garrafa de chá.
O caso despertou grandes protestos em várias cidades dos Estados Unidos no ano passado, quando a comunidade afro-americana atribuiu ao preconceito racial o crime e também a reação da polícia de Sanford, que não prendeu Zimmerman na noite do incidente e se viu obrigada a detê-lo 44 dias após o homicídio em meio à ira da opinião pública nacional.
No momento da detenção de Zimmerman, até o presidente americano, Barack Obama, se pronunciou sobre o caso dizendo em uma coletiva de imprensa: "Se eu tivesse tido um filho, ele seria parecido com Trayvon Martin", e exigiu a revisão da permissiva lei sobre o uso de armas de fogo na Flórida.
A revisão da lei conhecida como "Defenda sua posição" foi feita sob a análise do governador republicano da Flórida, Rick Scott, que concluiu que era uma lei suficientemente clara, razão pela qual não eram necessárias mudanças significativas. No início, Zimmerman se amparou nesta lei estatal, que concede imunidade a qualquer pessoa que atirar por sentir que sofrerão um ataque que deixará sua vida em risco.
No julgamento, o ex-vigia se defenderá alegando que foi um caso de defesa pessoal, e não um assassinato, como considera parte da opinião pública.
"Ficamos aliviados que o julgamento tenha começado hoje com a seleção dos membros do júri", disse aos jornalistas Tracy Martin, pai da vítima, pouco antes de entrar no tribunal.
Martin também falou com os jornalistas no interior do tribunal, acompanhado por sua ex-esposa Sybrina Fulton - mãe de Trayvon - e do advogado da família, Benjamin Crump.
"Buscamos justiça para nosso filho e um julgamento justo. A vida de Trayvon foi arrebatada de forma desnecessária e trágica, mas pedimos à comunidade para ser pacífica", acrescentou.
Nos arredores do tribunal, agentes das polícias federal, estadual e local ergueram uma barricada para ilimitar possíveis manifestações em frente à entrada do Palácio de Justiça desta pequena cidade próxima a Orlando.
"Todos somos Trayvon Martin. Todo o maldito sistema é culpado" deste polêmico caso, indicavam os cartazes exibidos por cerca de dez de manifestantes que protestavam na porta do tribunal.
Os advogados de Zimmerman querem apresentar Martin como um adolescente que andava pelo mau caminho, com supostas provas sobre consumo de maconha e mensagens de texto sobre armas, além de indicar que ele era familiarizado com a linguagem das gangues.