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Negociações sobre plano de Trump para Gaza começam nesta segunda no Egito; saiba as propostas

Primeira fase das conversas no Cairo foca na troca de reféns e retirada parcial de tropas israelenses

Agência o Globo
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Publicado em 6 de outubro de 2025 às 07h27.

Israel e o grupo terrorista Hamas devem iniciar nesta segunda-feira, no Cairo, uma nova rodada de negociações mediadas para tentar encerrar a guerra na Faixa de Gaza, que se aproxima do terceiro ano.

As conversas foram convocadas após o Hamas manifestar disposição para discutir pontos do plano de 20 medidas apresentado no mês passado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o futuro do enclave palestino.

Plano de Trump e proposta do Hamas

A proposta do líder republicano apresenta medidas que incluem o fim imediato dos combates, a liberação dos reféns — vivos e mortos e prisioneiros, o controle internacional de Gaza e o desarmamento do Hamas, entre outros pontos. O grupo palestino, por sua vez, confirmou que aceita liberar os reféns, mas condiciona a execução do acordo a negociações adicionais sobre direitos palestinos, governança e retirada militar israelense.

No domingo, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que os Estados Unidos buscam um acordo rápido para libertar os reféns israelenses mantidos em Gaza — em troca da retirada parcial do Estado judeu do enclave. Em entrevista à NBC, ele reconheceu, porém, que a guerra ainda não terminou — e que as primeiras conversas no Egito devem se concentrar na troca de reféns, deixando tópicos mais sensíveis para depois.

Reféns e prisioneiros

Plano de Trump: De acordo com a proposta, as forças israelenses se comprometerão a interromper todas as operações militares, por terra, ar e mar, e congelar suas frentes de batalha até que sejam estabelecidas as condições para uma retirada de Gaza. Ao mesmo tempo, o Hamas retornará todos os reféns — vivos e mortos — para Israel dentro de 72 horas: estima-se que haja 48 pessoas capturadas durante os ataques de 7 de outubro de 2023 no território palestino, mas apenas 22 com vida, de acordo com levantamento do jornal israelense Haaretz.

Em troca, 250 palestinos condenados à morte e 1,7 mil cidadãos de Gaza presos desde o início da guerra serão libertados — medida, porém, que deverá ocorrer após a entrega dos reféns. Membros do Hamas que se comprometerem com a “coexistência pacífica” com Israel serão anistiados, e poderão sair de Gaza para outros países se assim desejarem.

Exigências do Hamas:
Citando fontes do Hamas, o canal israelense Channel 12 detalhou uma série de exigências do grupo nas negociações do Egito, voltadas a concretizar a libertação de todos os reféns israelenses na primeira fase do plano de Trump. Entre os pedidos, o Hamas estaria exigindo a libertação de alguns líderes palestinos mais notórios — e cuja soltura Israel já vetou em acordos anteriores. Segundo a emissora, fontes do grupo afirmaram que o Hamas “não abrirá mão da exigência, mesmo que isso custe o fracasso do acordo”.

Os nomes incluem:

  • Marwan Barghouti, chefe do Tanzim da Fatah, preso por múltiplos assassinatos durante a Segunda Intifada;
  • Ahmad Sa’adat, secretário-geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP);
  • Ibrahim Hamed, condenado a 45 penas de prisão perpétua por orquestrar ataques que mataram diversos israelenses enquanto comandava o Hamas na Cisjordânia durante a Segunda Intifada;
  • Abbas al-Sayed, responsável pelo atentado a bomba de 2002 no Park Hotel, em Netanya, que matou 39 israelenses;
  • Hassan Salameh, do Hamas, condenado a 48 penas de prisão perpétua por múltiplos atentados suicidas.

Ainda segundo o Channel 12, o Hamas também estaria exigindo a libertação de integrantes da força de elite Nukba, do próprio grupo, que participaram do atentado de 7 de outubro de 2023 — exigência que Israel rejeitou de forma categórica desde o início. Altos funcionários do Hamas disseram que o grupo insiste, ainda, que as libertações sejam realizadas de acordo com a data de prisão e a idade de cada prisioneiro.

No domingo, uma fonte do grupo teria dito ao canal de notícias al-Arabiya que o grupo já havia começado a recolher os corpos de reféns mortos — informação que o Hamas negou mais tarde no mesmo dia. Membros da organização haviam afirmado que seria “impossível” atender ao prazo de 72 horas para a libertação de todos os reféns, considerando que “pode levar meses para encontrar os restos mortais” de alguns deles.

Segurança e forças militares

Plano de Trump: Além do Hamas e facções aliadas excluídos do futuro governo, o plano de Trump prevê que as infraestruturas usadas pelo grupo, incluindo túneis e unidades de produção de armas, serão destruídas, e monitores internacionais acompanharão o processo de desmilitarização do enclave, uma iniciativa que será financiada por meio de um fundo internacional. Parceiros regionais servirão como garantidores de que o Hamas não será mais “um risco” à região.

Os EUA e países árabes devem criar uma Força Internacional de Estabilização que ajudará na manutenção da paz interna, no monitoramento de fronteiras e no treinamento das novas forças de segurança palestinas. Essa força ficará em Gaza “a longo prazo”, e poderá atuar como mediador em caso de divergências. Israel, por sua vez, se compromete a não ocupar ou anexar Gaza, e a retirar suas tropas de maneira gradual, com prazos que serão definidos posteriormente.

Ainda segundo a proposta, Israel poderá manter presença militar em um “perímetro de segurança” até que o país determine que Gaza está “propriamente segura de qualquer ameaça terrorista ressurgente”. No domingo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu ao Fórum Gvura que o Estado judeu estaria “envolvido e seria responsável pelo desarmamento de Gaza”, apesar do plano estipular supervisão de “inspetores independentes”.

Exigências do Hamas:
O grupo exige uma retirada inicial das Forças Armadas de Israel mais ampla do que a indicada no mapa divulgado por Trump no sábado — até as linhas onde o Exército israelense estava posicionado em janeiro. O Hamas também quer garantias de que haverá, no fim, uma retirada total das forças israelenses de Gaza, com um cronograma definido.

Governança e administração de Gaza

Plano de Trump: Gaza será comandada temporariamente por uma comissão palestina “tecnocrata e apolítica”, responsável pela administração básica do enclave — o Hamas não estará presente nesse novo governo. O novo órgão será composto por “palestinos qualificados e especialistas internacionais”, sob supervisão de um “Conselho da Paz”, liderado por Trump e que terá entre seus membros o ex-premier britânico Tony Blair.

O órgão cuidará do financiamento para a reconstrução de Gaza até que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) conclua seu plano de reformas internas — que incluirá novas eleições — e esteja apta a assumir o controle do enclave. Serão estabelecidas zonas econômicas especiais, e o plano de desenvolvimento para o território contará com empreendedores que já atuam em outras cidades do Oriente Médio. O plano ainda garante que “ninguém será forçado a deixar Gaza”, e aqueles que quiserem sair “serão livres para ir e também para voltar”.

Exigências do Hamas:
A delegação do Hamas, liderada por Khalil al-Hayya, negociará paralelamente com a equipe da ANP, em esforço para garantir que o mecanismo inicial do “dia seguinte” em Gaza inclua a participação da Autoridade Nacional Palestina. O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, estaria prometendo reformas, incluindo a formulação de uma constituição temporária em três meses e a realização de eleições em até um ano — nas quais o Hamas só poderia participar se aceitasse o direito de existência de Israel.

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