José Mujica: presidente dedicou seu dia a manifestar-se entre milhares de cidadãos em homenagem aos desaparecidos da ditadura de seu país (Andres Stapff/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2014 às 23h00.
Montevidéu - O presidente do Uruguai, José Mujica, completou 79 anos nesta terça-feira em meio a um crescente interesse internacional por sua figura, enquanto o próprio dedicou seu dia a manifestar-se entre milhares de cidadãos em homenagem aos desaparecidos da ditadura de seu país.
Sem agenda oficial para o dia e fiel a seu estilo de "nunca festejar seu aniversário", o presidente e sua esposa, a senadora Lucía Topolansky, se juntaram como dois cidadãos comuns à 19ª Marcha do Silêncio, uma mobilização em massa na qual desde 1996 os uruguaios pedem verdade e justiça pelos detidos desaparecidos do período ditatorial (1973-1985).
Mujica, vestido com uma boina para se proteger da chuva que caía sobre a capital uruguaia, caminhou em silêncio junto a milhares de compatriotas sem outra escolta aparente além dos vários membros de seu governo e dirigentes de seu partido político, a Frente Ampla.
Enquanto isso, nas redes sociais, que ele pessoalmente não utiliza nunca, não cessaram de aparecer mensagens de felicitação procedentes de todo o mundo para o presidente.
Mujica chegou a seus 79 anos no apogeu de sua exposição internacional após seu encontro na semana passada com o presidente americano, Barack Obama, e o impulso reconhecido internacionalmente a leis consideradas revolucionárias como a legalização da maconha.
Pepe, como é chamado desde o comerciante que Mujica visita habitualmente para comprar a carne que consome até a presidente argentina, Cristina Kirchner, não costuma fazer nada especial para seu aniversário.
Há três anos surpreendeu os clientes de um restaurante da cidade de Colônia, a 180 quilômetros de Montevidéu, aonde chegou para almoçar com sua esposa, a senadora Lucía Topolanski.
A personalidade, sua filosofia de vida, sua residência em uma chácara de Montevidéu afastado de todo luxo e a forma de fazer política, bastante distante da tradicional, geram curiosidade em nível internacional e nos últimos tempos Mujica foi entrevistado por prestigiados meios de comunicação de todo o planeta.
Em meados da década de 1970, Pepe fundou o Movimento de Libertação Nacional (MLN-Tupamaros) junto com Raúl Sendic, entre outros.
Como integrante dessa guerrilha urbana esteve preso durante 14 anos e em duras condições antes e durante a ditadura que governou o Uruguai entre 1973 e 1985.
Após a recuperação da democracia fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), que o tem como seu líder, e com ele ingressou na coalizão de esquerda Frente Ampla (FA).
Foi eleito deputado nas eleições de 1995 e senador nas de 2000, reeleito em 2005 e ocupou o Ministério de Pecuária, Agricultura e Pesca durante o primeiro governo da FA na história, com Tabaré Vázquez (2005-2010) como presidente.
De Vázquez recebeu a faixa presidencial em 1º de março de 2010 e vários de seus "companheiros" de armas na guerrilha como Eleuterio Fernández Huidobro e Eduardo Bonomi o acompanham no governo como ministros da Defesa Nacional e Interior, respectivamente.
Suas ideias renovadoras, como a recente legalização sob supervisão estatal da produção e venda de maconha, segundo proclama para "enfrentar de outra forma o narcotráfico", e a aprovação do casamento gay também contribuíram para que o mundo olhe com mais atenção para o Uruguai.