O presidente Joe Biden, a primeira-dama Jill Biden, o secretário de Defesa Lloyd Austin e outros altos funcionários aguardam os caixões com os restos mortais dos 13 soldados americanos mortos no Afeganistão. (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 29 de agosto de 2021 às 19h08.
Em meio a um silêncio apenas interrompido pelo choro dos familiares, Joe Biden recebeu neste domingo (29) os corpos dos 13 militares americanos mortos em um ataque em Cabul, uma cerimônia difícil para um presidente fortemente criticado por sua gestão da crise afegã.
Um após o outro, os caixões foram depositados na pista do aeroporto da base militar de Dover, Delaware, diante do presidente e sua esposa Jill.
Com a mão na altura do coração, o presidente observou a descida de cada um dos caixões carregados pelos soldados em direção aos veículos, às vezes baixando a cabeça em meditação.
Sob um céu pesado, vestido de preto, o casal presidencial estava acompanhado pelo chefe do Pentágono, Lloyd Austin, o secretário de Estado, Antony Blinken, o chefe do Estado-Maior, general Mark Milley e outros oficiais militares seniores.
As famílias estavam distantes, protegidas das câmeras. Os soluços às vezes romperam o silêncio.
Pouco antes da cerimônia, a delegação embarcou no enorme avião militar C-17 que transportava os 13 caixões para uma breve oração fúnebre particular, informou a Casa Branca.
Duas das treze famílias solicitaram que a descida dos restos mortais de seus respectivos entes queridos não fosse filmada. Cinco dos 13 soldados mortos tinham 20 anos, a duração da guerra mais longa travada pelos Estados Unidos, lançada em 2001 no Afeganistão.
O caso de uma jovem de 23 anos morta no atentado despertou grande emoção no país. Uma semana antes do ataque, ela foi fotografada com um bebê nos braços durante as caóticas operações de evacuação no aeroporto de Cabul.
Este ataque, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico em Khorasan (EI-K), matou mais de 100 pessoas e foi o mais mortal lançado no Afeganistão contra as forças do Pentágono desde 2011.
Estes soldados são "heróis", reforçou Biden neste domingo, à margem de um discurso mais tarde em Washington sobre o furacão Ida. Pedindo aos presentes para "mantê-los em nossas orações", o presidente se negou a responder perguntas sobre o Afeganistão.
A base de Dover, a cerca de duas horas de Washington, tem sido há décadas cenário do retorno de militares mortos.
Esses momentos comoventes muitas vezes afetaram a imagem de presidentes americanos que travaram guerras impopulares, a ponto de certas cerimônias terem sido fechadas para a imprensa.
No poder desde janeiro, Biden viu sua popularidade, relativamente estável até agora, cair para menos de 50% após a tomada de Cabul pelo Talibã em meados de agosto. Também foi afetada pelo surto da epidemia de covid-19 devido à variante delta.
Em retaliação ao atentado ao aeroporto de Cabul, os Estados Unidos realizaram um ataque com drones no Afeganistão, matando dois membros do grupo Estado Islâmico.
Enquanto o casal presidencial estava com as famílias dos militares, no domingo, o Pentágono também anunciou que havia destruído um veículo em Cabul, "eliminando uma ameaça iminente do EI-K" contra o mesmo aeroporto.
Cerca de 114.400 pessoas, incluindo quase 5.500 cidadãos americanos, foram evacuadas do Afeganistão por um transporte aéreo maciço desde 14 de agosto.
Os republicanos questionam duramente Biden por sua gestão dessa evacuação.
"Esta é uma das piores decisões de política externa da história americana", criticou o influente líder republicano do Senado, Mitch McConnell, neste domingo. "Muito pior do que Saigon", acrescentou.
A queda desta cidade no final da Guerra do Vietnã em 1975 permanece uma memória muito dolorosa na América.
"Quando saímos de Saigon, não havia terroristas vietnamitas planejando nos atacar aqui em nosso território", disse à Fox Channel McConnell, que já era contra a retirada negociada em 2020 pelo então presidente republicano Donald Trump com o Talibã.
Ben Sasse, outro senador republicano, não conseguiu esconder sua raiva contra o presidente democrata na manhã deste domingo em uma entrevista à ABC.
"Biden colocou nossas tropas em perigo porque não tinha um plano de evacuação", acusou.
“Corremos perigo porque o presidente foi extremamente fraco ao deixar a base de Bagram” em julho, até então o centro nevrálgico das operações da coalizão internacional, 50 quilômetros ao norte de Cabul.