Polícia dispara canhão de tinta contra mesquita em Hong Kong
Canhão encharcou o portão frontal e uma escadaria com tinta azul diante da mesquita de Kowloon, o local de culto islâmico mais importante de Hong Kong
Reuters
Publicado em 21 de outubro de 2019 às 11h34.
Última atualização em 21 de outubro de 2019 às 12h02.
Hong Kong — A líder do Executivo de Hong Kong , Carrie Lam, pediu desculpas à comunidade muçulmana, nesta segunda-feira (21), depois que a polícia atingiu uma grande mesquita com um canhão de água durante operações realizadas na noite de domingo para conter protestos pró-democracia no pólo financeiro asiático.
Carrie visitou a mesquita do distrito de Kowloon com a cabeça coberta por um véu para expressar aos líderes islâmicos sua tristeza com o incidente, ainda em meio ao trabalho de limpeza no local.
Ela deve viajar ao Japão para acompanhar a cerimônia de entronização do imperador Naruhito, e um comunicado do governo divulgado mais tarde informou que Carrie agradeceu os líderes islâmicos por pedirem calma reiteradamente em meio ao tumulto político que domina a cidade há cinco meses.
Durante as batalhas recorrentes ocorridas em Kowloon no domingo, a polícia usou gás lacrimogêneo e caminhões com canhões de água para dispersar manifestantes munidos de coquetéis molotov, lançando jatos de tinta azul na multidão.
Em certo momento, um canhão encharcou o portão frontal e uma escadaria diante da mesquita de Kowloon, o local de culto islâmico mais importante de Hong Kong, onde algumas pessoas haviam se reunido, inclusive jornalistas.
Manchas azuis permaneciam no piso diante do edifício enquanto fiéis se reuniam para as preces nesta segunda-feira.
Manifestantes haviam dito que não visariam a mesquita na marcha de domingo depois que um líder pró-democracia destacado foi atacado na semana passada por homens mascarados que a polícia disse "não serem chineses".
Polícia também se desculpa
A polícia de Hong Kong apresentou oficialmente nesta segunda-feira suas desculpas, pela primeira vez desde o início do movimento de protesto em junho, depois de lançar tinta azul em uma mesquita durante a dispersão de manifestantes.
"Imediatamente após o incidente, os policiais apresentaram suas sinceras desculpas ao imã e aos líderes da comunidade muçulmana", disse Cheuk Hau-yip, comandante regional das forças de ordem no distrito de Kowloon.
Os responsáveis por essa mesquita, a maior da ex-colônia britânica, localizada na península de Kowloon, disseram a repórteres que aceitaram as desculpas, assim como as da chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam.
Em um comunicado divulgado no domingo, a polícia afirmou que o edifício religioso foi danificado por engano.
A entrada do prédio foi pulverizada com um líquido azul intenso, causando indignação na comunidade muçulmana e nos manifestantes.
Essa tinta, que misturada a uma solução de pimenta queima a pele, é usada para identificar manifestantes, mas também mancha ruas e edifícios.
Em imagens de vídeo, um caminhão da polícia aparece estacionado em frente à mesquita no momento dos confrontos entre manifestantes e policiais.
O veículo começou a lançar um líquido azul sobre meia dúzia de jornalistas e pessoas que estavam na rua em frente ao prédio religioso.
Este pequeno grupo foi atingido duas vezes e parte da tinta chegou aos degraus e à entrada da mesquita.
A mesquita original de Kowloon foi construída no final do século XIX para os soldados muçulmanos das Índias Britânicas.
Reconstruída no início dos anos 80, é um importante centro para a comunidade muçulmana de Hong Kong, que tem cerca de 300.000 fiéis.
Hong Kong enfrenta a pior crise política desde a sua retrocessão para a China em 1997, com manifestações e outras ações quase diárias denunciando uma degradação das liberdades, bem como a crescente interferência de Pequim nos assuntos do enclave semi-autônomo.
Depois que as autoridades proibiram o uso de máscaras nas manifestações, no início de outubro, a ex-colônia britânica experimentou um aumento na violência, com atos de vandalismo contra empresas acusadas de apoiar o governo local, por sua vez leais ao poder central chinês.
(Reuters e AFP)