Crianças sírias no primeiro dia de aula em uma escola em uma área dominada por insurgentes na cidade de Alepo (Zein al-Rifai/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2015 às 14h03.
Genebra - Os ataques a escolas e instituições de ensino médio com o objetivo de impedir que meninas estudem é um fenômeno muito maior do que se acredita, dado que nos últimos cinco anos foram registrados ataques em pelo menos 70 países, denuncia um novo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que destaca que os atentados são persistentes em alguns países e crescentes em outros.
Sem dar estatísticas concretas sobre países específicos, o relatório lembra os casos da Nigéria e da Somália, onde as milícias islamitas de Boko Haram e Al-Shabaab, respectivamente, mantêm uma política ativa de impedir que meninas estudem. O documento também cita os casos do Afeganistão e do Paquistão e as atrocidades cometidas pelos talibãs.
A violência, no entanto, não está apenas no Oriente Médio e na África. O texto destaca o caso de El Salvador, como um exemplo do que acontece na América Central, onde as meninas são vítimas de gangues de criminosos.
"Frequentemente, essas crianças abandonam a escola e se escondem em casa para não caírem nas mãos dos bandidos e acabarem submetidas a abusos sexuais. Outro fenômeno que ocorre na América Central, e também em outros lugares do mundo, é o do assédio sexual dentro das escolas. Abusos cometidos por professores ou pelos próprios colegas. Sobretudo quando, muitas vezes, não há sanitários específicos para meninos e meninas", explicou em entrevista coletiva Veronica Birga, chefe da seção de gênero do Alto Comissariado.
Um dos dados incluídos no texto informa que, em 2012, foram registrados 3.600 ataques contra escolas no mundo. Um dos principais problemas é o uso de escolas como centros militares, expondo os alunos a maiores riscos, situação que acontece em 24 países.
O relatório lembra que esses ataques não tem apenas efeito nas vítimas diretas da violência, mas em todo seu entorno, dado que envia uma mensagem ao resto da sociedade que a escola não é um local "seguro" para mulheres.
"Não oferecer educação a uma criança do sexo feminino por causa do medo a expõe não apenas a não formação, mas a um casamento antecipado, a violência doméstica, maternidade precoce, tráfico e exploração laboral, entre outros. Os ataques às estudantes violam praticamente todos os seus direitos: à vida, a não ser vítima de tortura e à educação", detalha o texto.
Estima-se que por causa dos ataques a instituições educativas, 180 mil crianças deixaram de frequentar escolas no Paquistão. De acordo com a ONU, no mundo há 65 milhões de meninos e meninas que não vão à escola, a maioria deles em países em conflito.