Porta-voz do governo líbio, Ahmad Lamen, fala com a imprensa em Trípoli: país sofre ameaça de uma nova guerra civil (AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2014 às 16h09.
Trípoli - Os combates pelo controle do aeroporto de Trípoli ameaçam mergulhar a Líbia em uma nova guerra civil, e o governo, impotente, não descarta pedir ajuda de uma força internacional.
O secretário de Estado americano, John Kerry, alertou nesta terça-feira que a violência no país é "perigosa e deve parar".
"Estamos trabalhando arduamente para encontrar uma coesão política", declarou Kerry, em coletiva de imprensa em Viena, na Áustria.
O governo líbio anunciou na segunda-feira que examinava a possibilidade de pedir ajuda a tropas internacionais para restabelecer a segurança no país. Na noite de segunda, o aeroporto da capital foi alvo de uma chuva de foguetes, que causou grandes estragos em suas instalações, danificando vários aviões.
De acordo com um comunicado divulgado, 90% das aeronaves no aeroporto foram atingidas, além da torre de controle, de um centro de manutenção e do prédio da alfândega.
As hostilidades começaram no domingo, quando milícias islamitas atacaram o aeroporto para expulsar as brigadas de Zenten. Esse grupo controla vários locais ao sul da capital Trípoli.
A 'Célula das Operações Revolucionárias da Líbia', composta por milícias consideradas o braço armado da corrente radical islâmica no país, reivindicou os ataques.
Os milicianos de Zenten são considerados o braço armado da corrente liberal e estão entre as brigadas mais disciplinadas e bem armadas da Líbia. Oficiosamente, são ligados ao Ministério da Defesa.
Milícias da cidade de Misrata, aliadas dos islamitas, também estão envolvidas nos confrontos.
Uma luta de influência opõe Misrata e Zenten, cidades do oeste líbio que participaram ativamente da rebelião de 2011 contra o regime de Muammar Khadafi.
- Influência das eleições -
Alguns analistas acreditam que os enfrentamentos estão ligados aos resultado preliminares das eleições legislativas de 25 de junho, anunciados em 6 de julho.
"Agora está claro que o ataque ao aeroporto tem uma relação direta com os resultados das eleições", considerou Othman Ben Sasi, ex-membro do Conselho Nacional de Transição (CNT), braço político da rebelião contra Khadafi.
"Estes combates são parte de uma disputa por influência", explicou à AFP. "Existe um grupo que perdeu as eleições e que tenta ganhar influência de outra maneira", acrescentou, referindo-se aos islamitas.
Desde a queda de Khadafi, as milícias impõem sua lei no país, frente a debilidade das autoridades.
Neste contexto, o governo indicou na noite de segunda que examinava "a possibilidade de fazer um apelo a forças internacionais para restabelecer a segurança sobre o território e ajudar o governo a impor sua autoridade".
De acordo com o governo, as forças teriam como missão "proteger os civis e as riquezas do Estado, evitar a anarquia e a instabilidade, e dar ao Estado a oportunidade de criar suas instituições, em particular o Exército e a Polícia".
Paradoxalmente, o governo fez esse anúncio pouco depois da saída da missão da ONU na Líbia (UNSMIL), que retirou seus funcionários por questões de segurança.