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Jornalista do Washington Post julgado por espionagem no Irã

Segundo advogada, ele também é acusado de colaboração com governos hostis, de obter informações confidenciais e de propaganda contra a República Islâmica


	Jason Rezaian: a advogada do jornalista rejeita as acusações contra o cliente e destaca que o trabalho de jornalista implica "ter acesso às informações e publicá-las"
 (AFP/ STR)

Jason Rezaian: a advogada do jornalista rejeita as acusações contra o cliente e destaca que o trabalho de jornalista implica "ter acesso às informações e publicá-las" (AFP/ STR)

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Da Redação

Publicado em 26 de maio de 2015 às 12h41.

Teerã - O julgamento por "espionagem" do correspondente do jornal Washington Post no Irã, Jason Rezaian, detido há 10 meses, começou nesta terça-feira em um tribunal especial de Teerã, um caso delicado, no momento em que Estados Unidos e Irã prosseguem com as negociações nucleares.

Rezaian, de 39 anos, é acusado de "espionagem, colaboração com governos hostis, de obter informações confidenciais e de propaganda contra a República Islâmica", informou a advogada do jornalista, Leila Ahsan, para quem as denúncias não estão baseadas em provas estabelecidas.

A audiência a portas fechadas aconteceu na 15ª sala do tribunal revolucionário de Teerã, uma corte especial que julga apenas casos políticos ou de segurança nacional, segundo a agência oficial IRNA.

De acordo com a agência mizanonline.ir, ligada à autoridade judicial, a audiência durou três horas e a data da próxima ainda será estabelecida.

Nesta primeira audiência, Rezaian foi notificado sobre as acusações contra ele, principalmente a de espionagem. O réu não apresentou sua defesa, segundo a agência.

A duração do processo, dirigido pelo juiz Abolghasem Salavati, não foi informada.

De acordo com a imprensa, o correspondente é julgado ao lado da esposa, Yeganeh Salehi, também jornalista, e de uma repórter fotográfica.

Jason Rezaian, que tem dupla cidadania, iraniana e americana, trabalha para o Post desde 2012. Ele foi detido ao lado da esposa em sua residência em 22 de julho de 2014. A terceira acusada, que não teve o nome divulgado, foi detida na mesma data.

As duas mulheres foram libertadas após o pagamento de fiança, mas o jornalista do Post permaneceu detido na penitenciária de Evin, ao norte da capital iraniana.

A detenção do jornalista provocou mais uma crise entre Irã e Estados Unidos, que romperam relações diplomáticas após a revolução de 1979.

O presidente americano, Barack Obama, pediu em março ao governo iraniano que libertasse o jornalista. O Senado aprovou em maio uma resolução para reclamar a libertação de três americanos detidos no Irã, incluindo Rezaian.

Mas Teerã, que não reconhece a dupla cidadania, afirma que o caso é de competência exclusiva da justiça iraniana.

O Washington Post lamentou na segunda-feira a audiência fechada ao público, denunciando uma injustiça que privará o processo da atenção que merece.

O jornal afirmou no domingo que o correspondente é "totalmente inocente" e que Rezaian parece ser um "peão nas lutas internas" de Teerã.

O processo começou a poucas semanas do fim do prazo, no dia 30 de junho, para que o Irã e as grandes potências concluam um acordo histórico sobre o polêmico programa nuclear iraniano.

As negociações são criticadas pela ala mais conservadora do regime, que denuncia concessões aos ocidentais e uma eventual aproximação política dos Estados Unidos.

Em fevereiro, um deputado ultraconservador iraniano denunciou que "alguns dentro da presidência" do país teriam facilitado o acesso de Rezaian e sua esposa aos "locais mais sensíveis da presidência".

A advogada do jornalista rejeita as acusações contra o cliente e destaca que o trabalho de jornalista implica "ter acesso às informações e publicá-las". Ela negou que Rezaian tenha obtido acesso a "informações confidenciais de forma direta ou indireta".

Especialistas da ONU em direitos humanos no Irã denunciam com frequência a censura contra a imprensa iraniana e as detenções de jornalistas por colaboração com meios estrangeiros, acusados por Teerã de participar em um "complô" ocidental para desestabilizar o regime iraniano.

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