Can Dündar: o jornalista é considerado pelas autoridades como um traidor por ter revelado em 2015 que os serviços secretos turcos entregaram armas aos islamistas na Síria (Getty Images/Getty Images)
AFP
Publicado em 26 de abril de 2017 às 16h18.
As prisões em massa na Turquia, onde mais de mil supostos partidários do clérigo Fethullah Gülen foram detidos nesta quarta-feira, mostra que "todo o país está em estado de detenção", considerou em Bruxelas o jornalista turco no exílio, Can Dündar.
Cerca de 1.120 pessoas suspeitas de fazer parte da rede de Gülen, a quem o governo turco acusa de conspirar uma tentativa de golpe de Estado em julho, foram presas nesta quarta-feira pela manhã em todo o país, segundo a agência de notícias do governo Anadolu.
Erdogan utiliza a tentativa golpista "como uma desculpa e uma chance para reforçar seu poder".
"É o motivo pelo qual todo o país está em estado de detenção, não só seus opositores", considerou Dündar em uma entrevista à AFP.
O ex-redator-chefe do jornal turco opositor Cumhuriyet pediu aos dirigentes da União Europeia (UE) que não "sacrifiquem" seus ideais em suas relações com o presidente Erdogan, lamentando as "sujas" negociações que desembocaram em um acordo migratório entre a UE e a Turquia em março de 2016.
"A Europa perdeu a oportunidade de influenciar na Turquia porque [...] após o acordo migratório, deram muito apoio a esse governo apenas para deter os refugiados que chegam a solo europeu e retê-los na Turquia", criticou Dündar.
Na relação coma Turquia, "vocês devem mencionar a importância da liberdade de imprensa, da democracia, dos direitos humanos [...] mas, lamentavelmente, nenhum dirigente europeu fez isso", acrescentou.
"Esse é o principal problema e eu gostaria de dizer: se agarrem aos seus princípios e não os sacrifiquem!", acrescentou este jornalista, considerado pelas autoridades como um traidor por ter revelado em 2015 que os serviços secretos turcos entregaram armas aos islamistas na Síria.
Por isso, a justiça turca o condenou em maio de 2016 a cinco anos e 10 meses de prisão.
Após sua liberação em um julgamento de apelação, durante o qual pediram contra ele 10 anos adicionais de prisão, Can Dündar se exilou na Alemanha.