Um veículo permanece à beira de uma estrada que desabou na cidade de Tohoku, na província de Aomori, em 9 de dezembro de 2025, após um terremoto de magnitude 7,5 no norte do Japão. Um forte tremor na região norte do país deixou ao menos 30 feridos, segundo autoridades, danificou estradas e provocou falta de energia para milhares de pessoas em meio a temperaturas congelantes. (Getty Images)
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Publicado em 13 de dezembro de 2025 às 11h20.
O Japão voltou a registrar forte atividade sísmica nesta semana: um terremoto de magnitude 7,6 atingiu a costa norte do país na segunda-feira, 8, o que levou à emissão de alertas de tsunami para as regiões de Hokkaido, Aomori e Iwate e orientações de evacuação imediata para moradores litorâneos, segundo a Agência Meteorológica do Japão (JMA) e o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).
O tremor ocorreu no mar, com epicentro a cerca de 80 quilômetros da cidade de Misawa, em Aomori, a uma profundidade de aproximadamente 50 quilômetros, e provocou ondas marítimas observadas de até 40 centímetros em portos costeiros, embora ondas maiores de até três metros também tenham sido previstas inicialmente pelas autoridades locais.
O Japão é um dos países mais sujeitos a terremotos no mundo, não apenas pela frequência dos tremores, mas também pela intensidade de alguns dos eventos registrados ao longo da história.
A explicação para essa recorrência está bem estabelecida pela ciência. Isso porque, o arquipélago japonês encontra-se sobre uma das regiões tectonicamente mais complexas e ativas do planeta, na convergência de quatro grandes placas tectônicas, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) e a Agência Meteorológica do Japão (JMA).
De acordo com o USGS, o território japonês está assentado na interseção das placas:
Placa do Pacífico, que subducta sob o Japão a partir do leste;
Placa das Filipinas, sob o sul do arquipélago;
Placa Eurasiática (Amur), sustenta parte do oeste do país;
Placa Okhotsk (associada à América do Norte), sob o norte do Japão.
Esse cenário cria zonas de subducção extensas, especialmente ao longo da costa do Pacífico, em que placas oceânicas mais densas deslizam para baixo das placas continentais. O atrito acumula energia ao longo de décadas ou séculos, até que essa tensão é liberada de forma abrupta, com um terremoto.
Ainda, segundo relatório técnico da JMA, o Japão registra cerca de 1.500 terremotos perceptíveis por ano, número muito superior à média global.
A atividade sísmica japonesa não é recente e inclui alguns dos eventos mais estudados da história moderna:
Grandes terremotos não “aliviam” totalmente a tensão tectônica. Pelo contrário: eles redistribuem o estresse ao longo das falhas. Segundo a sismólogos do USGS, terremotos de grande magnitude costumam ser seguidos por:
Réplicas por meses ou anos;
Ativação de falhas adjacentes;
Tremores de média magnitude em regiões próximas.
Esse fenômeno explica o recente terremoto no Japão de magnitude 7,6, seguido dias depois por um tremor de 5,7,.
Pesquisas mais recentes identificaram no Japão os chamados slow slip events — deslizamentos lentos das placas que não produzem tremores perceptíveis, mas alteram a tensão no sistema.
Ainda em estudo, pesquisas indicam que esses eventos podem anteceder grandes terremotos, aumentar o risco em segmentos específicos das falhas e também explicar períodos de aparente “calma” sísmica.
Nem todo terremoto gera tsunami, mas os mais perigosos ocorrem em zonas de subducção. Segundo o Pacific Tsunami Warning Center (PTWC), tremores acima de magnitude 7,5 em áreas costeiras rasas exigem vigilância imediata.
A JMA mantém um dos sistemas de alerta mais avançados do mundo, capaz de emitir avisos segundos após o início de um terremoto no país, o que salva milhares de vidas anualmente.
Apesar do avanço tecnológico, não existe previsão exata de data e magnitude. O que a ciência consegue fazer é mapear zonas de alto risco, calcular probabilidades de grandes eventos e simular cenários para políticas públicas
Isso porque, terremotos são resultado de processos não lineares extremamente complexos, o que limita previsões mais exatas. O Japão, em especial, tem tantos terremotos porque está localizado em um dos ambientes geológicos mais ativos do planeta.
A combinação de múltiplas placas tectônicas, extensas zonas de subducção, histórico de mega terremotos e redistribuição constante de estresse torna os tremores mais frequentes.
Por isso, o país se tornou referência mundial em engenharia antissísmica, sistemas de alerta e pesquisa científica.