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Irã x Israel: como as defesas israelenses interceptaram 330 mísseis e drones iranianos?

Ao menos nove países estiveram envolvidos na escalada militar deste sábado: projéteis foram lançados pelo Irã, Iraque, Síria e Iêmen e derrubados por Israel, EUA, Reino Unido e Jordânia

Forças Armadas de Israel enfrentam os ataques do Irã (AFP/AFP)

Forças Armadas de Israel enfrentam os ataques do Irã (AFP/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 15 de abril de 2024 às 17h39.

Última atualização em 15 de abril de 2024 às 17h49.

O Irã disparou, na noite de sábado, mais de 300 drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro contra Israel — e quase todos foram interceptados e falharam em atingir seus alvos, segundo as Forças Armadas israelenses. À CNN, um porta-voz de Israel afirmou que a defesa foi realizada com “estreita colaboração” dos Estados Unidos, Reino Unido e França.

Em comunicado, o presidente americano, Joe Biden, disse que os EUA “moveram aeronaves de defesa de mísseis balísticos para região ao longo da última semana”, medida essencial, de acordo com ele, para o êxito em derrubar “quase todos os mísseis”.

Autoridades dos Estados Unidos disseram que mais de 70 drones e três mísseis balísticos foram interceptados por navios e aeronaves militares da Marinha americana, embora não tenham fornecido detalhes sobre quais defesas foram usadas para derrubar os projéteis. À CNN, porém, fontes afirmaram que a Marinha dos EUA utilizou o sistema de defesa antimísseis Aegis a bordo de dois destróieres de mísseis guiados. Em conversa com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, Biden avaliou, no domingo, que a resposta coordenada contra os ataques foi uma “vitória” para Israel, já que nada de “valor” foi atingido.

O Reino Unido, por sua vez, declarou que estava preparado para intervir com aeronaves da Royal Air Force (RAF). Algumas unidades adicionais foram mobilizadas no fim de semana para reforçar a defesa, afirmou o secretário da Defesa britânico, Grant Shapps, nas redes sociais. Ele disse que “o Reino Unido interceptou e destruiu múltiplos drones de ataque unidirecional, lançados pelo Irã e seus apoiadores, que representavam uma ameaça às vidas civis no Oriente Médio”. Em nota, o Ministério da Defesa ressaltou que seus equipamentos seriam capazes de interceptar “quaisquer ataques aéreos dentro do alcance de nossas missões”.

A rádio britânica LBC detalhou que os aviões de guerra usados para derrubar um número não confirmado de drones iranianos foram os Typhoon FGR4s, jatos de combate bimotores armados com mísseis ar-ar, bombas de precisão guiadas a laser e projéteis ar-terra. Os Typhoons podem atingir velocidades máximas de mais de 2 mil quilômetros por hora, o que representa quase o dobro da velocidade do som. A RAF tinha 137 aeronaves deste modelo em sete esquadrões até fevereiro de 2023.

A LBC também questionou o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, sobre o apoio a Israel — e a diferença de postura quando o assunto é a guerra na Ucrânia. Cameron afirmou que o Reino Unido fez “mais do que qualquer outro país individualmente para ajudar os ucranianos”, mas que é preciso evitar que tropas da Otan se engajem diretamente com as tropas russas. O cenário, disse, traria “o perigo de uma escalada em termos de uma guerra europeia mais ampla”. No caso de Kiev, o secretário afirmou que o melhor que as nações podem fazer é “continuar a fornecer apoio financeiro”.

— Acho que colocar realmente as forças da Otan em conflito direto com as forças russas seria uma escalada perigosa — respondeu ele, que também foi questionado sobre o motivo pelo qual a Royal Air Forces não poderia ajudar a Ucrânia derrubando drones não tripulados. — Usar jatos não é necessariamente a melhor maneira de derrubar mísseis e drones. Os sistemas de defesa aérea são mais eficazes. A Ucrânia precisa ter acesso a sistemas de defesa aérea, [especialmente o] sistema Patriot.

Defesa de Israel

Embora muito se fale sobre o Domo de Ferro, o sistema antimísseis israelense, o país opera uma variedade de sistemas para bloquear ataques. O Domo de Ferro é a camada mais baixa da defesa de Israel. Em operação desde 2011, ele foi projetado para detectar dispositivos inimigos por meio de um radar. O sistema calcula se o projétil invasor deve cair numa área habitada ou atingir uma infraestrutura importante. Caso represente uma ameaça, disparos são feitos do solo para atingir o artefato no ar. Segundo o Estado judeu, o Domo de Ferro tem 90% de eficiência. O infográfico abaixo mostra como ele funciona:

O próximo degrau na escala de defesa é o David’s Sling, que protege contra ameaças de curto e médio alcance. Desenvolvido com os Estados Unidos, o equipamento é usado para interceptar mísseis como os lançados pelo grupo xiita libanês Hezbollah. Quando foi anunciado, em 2017, as Forças Armadas de Israel afirmaram que o sistema iria fortalecer “os esforços de defesa” israelenses “com sua capacidade de interceptar mísseis de alta qualidade”. O David’s Sling é capaz de eliminar alvos a até 299 quilômetros de distância, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).

Na sequência, acima dele estão os sistemas Arrow 2 e Arrow 3, também desenvolvidos com os EUA. O primeiro usa ogivas de fragmentação para destruir mísseis balísticos invasores em sua fase final, ou seja, quando “mergulham” em direção aos seus alvos, segundo o CSIS. Ele tem alcance de 90 quilômetros e altitude máxima de aproximadamente 51 quilômetros. Já o Arrow 3 usa tecnologia para interceptar mísseis balísticos de longo alcance antes de eles entrarem na atmosfera em direção aos alvos. Em operação desde 2000, o programa de desenvolvimento dos sistemas Arrow é estimado em mais de US$ 2 bilhões (R$ 10,3 bilhões).

Somado a isso, Israel também possui aeronaves de combate de ponta, como os jatos stealth F-35, que já foram usados para derrubar drones e mísseis de cruzeiro. Imagens divulgadas pelas Forças Armadas israelenses mostraram caças F-35 e F-15 retornando às suas bases após “interceptações” e “missões de defesa aérea” bem-sucedidas.

Ataque e defesa

Ao menos nove países estiveram envolvidos na escalada militar deste sábado. Projéteis foram lançados pelo Irã, Iraque, Síria e Iêmen e derrubados por Israel, EUA, Reino Unido e Jordânia. Nesta segunda-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a França interceptou mísseis e drones iranianos dirigidos contra Israel a partir da Jordânia. Ele disse que a decisão do Irã de mirar o território israelense pela primeira vez provocou uma “ruptura profunda” e que “o que se abriu é muito perigoso em termos de reação”. O líder francês, porém, pontuou que fará “tudo para evitar uma conflagração”.

— Nós temos uma base na Jordânia. O espaço aéreo jordaniano foi violado por esses disparos. Fizemos decolar nossas aeronaves e interceptamos o que tínhamos que interceptar — disse o presidente francês em entrevista aos canais BFMTV e RMC. — [Tentaremos] convencer Israel de que ele não deve responder com uma escalada, mas sim isolar o Irã e persuadir os países da região de que o Irã é um perigo, aumentar as sanções, aumentar a pressão sobre as atividades nucleares [iranianas] e depois encontrar um caminho de paz na região.

Macron acrescentou que a França fala “com todos os países da região” e quer ser “uma potência mediadora”, embora sejam “os americanos que têm um papel importante a desempenhar para conter o Irã”. O presidente francês planeja conversar novamente com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta segunda-feira.

Consequências do ataque

Segundo o porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, 170 drones e 30 mísseis de cruzeiro foram disparados, mas nenhum entrou no território israelense. Além disso, ao menos 110 mísseis balísticos também foram utilizados no ataque. Destes, um “pequeno número” atingiu o Estado judeu. Como a maioria dos projéteis veio de relativamente longe, Israel conseguiu enviar caças stealth F-35 para interceptá-los. Segundo as Forças Armadas israelenses, 25 dos 30 mísseis de cruzeiro enviados pelo Irã foram derrubados fora do país.

Alguns disparos, porém, atingiram a base aérea de Nevatim, no deserto do Negev. Conforme Hagari, ela continua “funcionando”. Oficiais afirmaram que o local, onde estão baseados os caças F-35 do país, era o alvo principal do Irã. Segundo a BBC, um míssil atingiu uma pista de pouso, outro, um hangar de aeronaves vazio, e um terceiro, um hangar fora de uso. Outro míssil balístico parecia ter mirado um radar no norte de Israel, mas errou o alvo. A agência de notícias oficial do Irã, porém, disse que o ataque causou “golpes pesados” na base aérea.

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