EI: número de jihadistas holandeses que foram à Síria e se uniram ao conflito no país aumentou desde o fim de 2012 (AFP)
Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2014 às 15h16.
Roterdã - A história de Monique, uma holandesa que viajou à Síria para resgatar a filha jihadista de 19 anos, comoveu a Holanda, um dos países europeus mais preocupados com o assunto devido às mais de cem pessoas que deixaram o país para se juntar a grupos extremistas.
Monique, que não quis divulgar seu sobrenome, embora suas fotos estejam nos jornais de todo o país, viajou duas vezes à Síria para resgatar a filha, que expressou o desejo de voltar para casa. A mãe viajou mesmo com o alerta da polícia sobre os perigos da cidade de Raqqa, controlada pelas milícias do Estado Islâmico (EI).
Natural de Maastricht, Monique viajou à Síria após falar com a filha pelo Facebook. Foi sua segunda viagem ao país árabe. Antes, tentou chegar à Síria em outubro, mas não conseguiu. Fontes do Ministério de Segurança e Justiça holandês afirmam que ambas estão em casa desde quarta-feira.
"Às vezes você tem que fazer o que é preciso. E acho que fiz bem. Ela queria voltar para casa, mas não podia deixar Raqqa sem ajuda", disse a mãe ao portal de notícias holandês "Limburg".
Convertida ao islã com 18 anos, a jovem passou a se chamar Aicha e se casou com um ex-militar holandês de origem turca, que se tornou jihadista e adotou o nome Omar Yilmaz. Ambos se conheceram através das redes sociais. Antes de viajar para a Síria, a jovem foi questionada pela família, que tentou convencê-la a mudar de ideia.
"O que você quer fazer na Síria, um país em guerra, uma menina holandesa como você?, dizia sua mãe. Mas não serviu de nada", disse à imprensa a advogada da família, Françoise Landerloo. Segundo a advogada, a família não pode impedir a viagem por se tratar de uma maior de idade.
Aicha e Omar viajaram à Síria em fevereiro. No início, a jovem holandesa manteve contato com a família, mas "desde maio deixou de responder mensagens e e-mails", contou Landerloo.
Em entrevista a uma emissora britânica, o marido afirmou que o casal se separou pouco tempo depois de viajar ao país árabe porque o relacionamento "não funcionava". Depois da separação, a jovem voltou a ligar para a mãe, desta vez para voltar ao país.
Apesar de a procuradoria holandesa não fazer comentários a respeito do caso, a advogada da família diz que ambas "cruzaram a fronteira turco-síria", onde Aicha foi presa por não ter passaporte, segundo o jornal holandês "Algemeen Dagblad".
"Foi um encontro apaixonante. E é extraordinário que a mãe tenha conseguido encontrar e resgatar a filha", disse Landerloo ao jornal.
O jornal holandês "Volkskrant" publicou que o Ministério de Segurança e Justiça confirmou que ambas estavam no país e que Aicha foi "imediatamente presa ao chegar no aeroporto" por possível envolvimento com um grupo terrorista e por supostos "crimes contra a segurança do Estado".
Antes de chegar à Holanda e depois de saber da chegada da jovem à Turquia, o ex-marido postou uma mensagem no Twitter na qual se referia a ela como sua "ex-mulher, que achavam que tinha sido assassinada, rejeitada, abusada e vendida a um irmão turco, agora está na Turquia".
O caso de Aicha é apenas um exemplo do grande número de jovens europeus que viajaram à Síria para se unir às tropas do Estado Islâmico.
Segundo o relatório "A transformação do jihadismo na Holanda", divulgado em outubro pelo Serviço de Inteligência e Segurança holandês (AIVD), "foi percebido um ressurgimento do jihadismo nos Países Baixos nos últimos anos".
"O atual movimento jihadista holandês se caracteriza por ser um "enxame" dinâmico. Os participantes compartilham a mesma ideologia e sua orientação é um fenômeno coletivo", relatou o AIVD em seu documento.
O órgão informa que "o número de jihadistas holandeses que viajaram à Síria para se unirem ao conflito no país aumentou consideravelmente desde o fim de 2012".
Segundo os dados divulgados, "130 pessoas já deixaram o país" para viajar ao Oriente Médio, dos quais "quase 30 já retornaram e 14 morreram nos combates". O AIVD acredita que os combatentes que retornam da Síria representam um potencial risco para a segurança do país.