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Guerra das Fontes: Rubio proíbe o uso da Calibri em documentos, diz jornal

Secretário de Estado reverte a mudança do governo Biden, retornando à Times New Roman para combater uma política "radical" de inclusão

Fontes: o Departamento de Estado dos EUA já usou Courier New (à direira), Times New Roman (ao centro) e Calibri (à esquerda) (Arte/Exame)

Fontes: o Departamento de Estado dos EUA já usou Courier New (à direira), Times New Roman (ao centro) e Calibri (à esquerda) (Arte/Exame)

Paloma Lazzaro
Paloma Lazzaro

Estagiária de jornalismo

Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 17h31.

A tipografia é raramente parte do debate político e da cobertura da mídia, mas nesta terça-feira, 9, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, iniciou uma discussão sobre esse aspecto do design.

Rubio, segundo apuração do The New York Times, enviou um Requerimento de Ação ao Departamento de Estado, ordenando a volta do uso da fonte Times New Roman, no tamanho 14, em todos os seus documentos.

Impressos em papel timbrado, o secretário afirma que a formalidade dos documentos não é compatível com o uso da fonte Calibri, previamente adotada. Retornar à Times New Roman irá, segundo ele, “restaurar o decoro e profissionalismo dos escritos do departamento.”

Para além de uma decisão estética, a ordem de Rubio é uma crítica direta às políticas internas adotadas durante o governo de Joe Biden.

Calibri e acessibilidade

A fonte Calibri é não-serifada, ou seja, não tem "tracinhos" nas pontas das letras. Para alguns especialistas, esse tipo de letra é de mais fácil leitura e, consequentemente, mais acessível a pessoas com dislexia e problemas de visão. O Centro para a Acessibilidade da Austrália classificou a Calibri como uma das cinco fontes mais acessíveis.

O designer que criou a fonte, Lucas de Groot, afirmou à BBC que "a Calibri foi criada para facilitar a leitura em telas de computadores modernos". Ela foi escolhida em 2006 pela Microsoft para substituir a Times New Roman como fonte padrão do Word.

Seguindo a mesma linha, sob a presidência de Biden, o Departamento de Estado adotou a Calibri na sua documentação oficial em 2023.

Na opinião de Marco Rubio, essa decisão foi um "desperdício", fruto de políticas "radicais" de inclusividade. Segundo ele, a medida não diminuiu as queixas de legibilidade dos documentos e é um "fracasso em sua própria missão".

"A mudança para a Calibri não conquistou nada além da degradação da correspondência oficial do departamento", afirmou no comunicado, obtido pelo NYT.

Histórico de fontes

As fontes adotadas pelo Departamento de Estado mudaram três vezes neste século.

Até 2004, a Courier New era utilizada nos documentos e comunicados da instituição. Entre 2004 e 2023, a Times New Roman se tornou o padrão do Departamento. A mudança menos longeva foi a penúltima, que escolheu a Calibri para os canais oficiais. Agora, a partir desta quarta-feira, 10, a Times New Roman volta a ser a tipografia do órgão.

Apenas uma dessas fontes não é serifada, a Calibri, o que incomoda Marco Rubio. No comunicado, ele exalta a origem romana antiga da escrita serifada.

Essa preferência por elementos da Antiguidade Clássica está em acordo com as orientações de Donald Trump para a arquitetura federal. O presidente dos EUA deu a ordem executiva de "Fazer a Arquitetura Federal Bela Novamente" no dia 28 de agosto, que instrui o uso do estilo neoclássico.

Governo Trump vs. DEI

Políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) são um dos principais alvos do governo Trump.

Desde fevereiro, o presidente dos EUA assinou uma série de ordens executivas que revogam ações adotadas nas administrações anteriores. As medidas impactam diretamente o setor público, as Forças armadas, universidades e até empresas privadas, sinalizando um retorno à contratação baseada exclusivamente no mérito.

Entre as principais ações, Trump determinou a eliminação dos escritórios federais de DEI, colocou funcionários dessa área em licença remunerada e revogou a Ordem Executiva 11246, de 1965, que exigia ações afirmativas para contratantes federais.

"Terminamos com programas governamentais radicais", declarou o presidente ao assinar a ordem.

Trump também revogou diversas ordens da era Biden que promoviam diversidade e equidade no governo. Agora, qualquer preferência baseada em raça, gênero ou identidade de gênero será considerada ilegal em contratações e admissões universitárias.

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