Palestina reza durante o Eid al-Adha na danificada mesquista de Omari, em 16 de junho de 2024, na Cidade de Gaza (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 16 de junho de 2024 às 14h21.
O Exército israelense anunciou neste domingo, 16, a intenção de fazer uma pausa diária de suas operações em uma área do sul de Gaza para facilitar a entrada de ajuda humanitária no território palestino, devastado pela guerra e ameaçado pela fome.
Após oito meses de bombardeios intensos e incessantes na Faixa de Gaza, o norte e o centro do território tiveram um momento de trégua na manhã deste domingo, sem relatos de ataques ou combates, segundo correspondentes da AFP.
Já Rafah, no extremo sul da Faixa, onde o Exército israelense iniciou uma ofensiva terrestre no início de maio, foi alvo de disparos e de um bombardeio.
"De repente, está calmo desde esta manhã, sem disparos, sem bombardeios, é estranho", afirmou Haiti al Ghouta, 30 anos, na Cidade de Gaza, no norte, que espera que este seja o prelúdio para um cessar-fogo permanente.
Porém, o Exército israelense indicou que, apesar da "pausa tática", "não há interrupção das hostilidades no sul de Gaza e as operações em Rafah continuam".
A pausa diária foi anunciada um dia após a morte de 11 soldados israelenses, oito deles na explosão de uma bomba na Faixa de Gaza.
A pausa "ocorrerá das 8h às 19h (das 2h às 13h no horário de Brasília) todos os dias e até novo aviso", na área de Kerem Shalom, passagem fronteiriça no sul de Israel, para a rodovia Salahedin, em Gaza, e em direção ao norte do território palestino, disse o Exército.
A decisão foi tomada para permitir um "aumento no volume de ajuda humanitária a Gaza", após negociações com a ONU e outras organizações, afirmou o Exército em um comunicado.
A ONU anunciou que "celebra" a medida, mas pede que "leve a novas ações concretas" para facilitar a entrada de ajuda humanitária, disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).
A organização internacional tem alertado repetidamente que é difícil entregar a ajuda à população, que vive sem acesso a água, alimentos e medicamentos, devido aos combates e às restrições israelenses.
A Faixa de Gaza, sitiada por Israel, está mergulhada em uma grave crise humanitária, com 75% dos seus 2,4 milhões de habitantes deslocados pela guerra e a população ameaçada pela fome, segundo a ONU.
"A pessoa que tomou a decisão de estabelecer uma pausa enquanto nossos soldados caíam em combate é má e estúpida [...]", denunciou o ministro da Segurança Nacional israelense de extrema direita, Itamar Ben Gvir.
A guerra entre Israel e o Hamas eclodiu em 7 de outubro, quando militantes do movimento islamista mataram 1.194 pessoas, a maioria civis, e sequestraram outras 251 no sul de Israel, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
O Exército estima que 116 estejam em cativeiro em Gaza, mas acredita que 41 delas podem estar mortas.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que deixou pelo menos 37.337 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, governado pelo Hamas desde 2007.
Enquanto os muçulmanos de todo o mundo celebram o primeiro dia do Eid al-Adha, a principal festividade do Islã, os palestinos de Gaza não estão em condições de comemorar.
"Perdemos muitas pessoas, há muita destruição. Estou de luto, perdi meu filho", lamentou Um Mohammad al Katri, em um acampamento para deslocados em Jabaliya, perto de Gaza.