O ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke (©AFP/File / Sebastien Bozon/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de outubro de 2017 às 11h39.
Genebra - O ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, é suspeito de ter usado uma mansão na ilha da Sardenha como parte da recompensa por ter dado os direitos de TV a investidores do Catar.
A informação foi revelada pelo jornal italiano Il Messaggero um dia depois de um anúncio de que Valcke e o empresário do Catar, Nasser Al Khelaifi, estão sendo investigados por corrupção.
Conforme o Estado revelou, uma megaoperação ocorreu na quinta-feira, com buscas e apreensões em quatro países. Valcke é acusado de ter recebido propinas em troca de direitos de TV para os Mundiais de 2018, 2022, 2026 e 2030.
Um dos suspeitos de ter pago subornos foi Al Khelaifi, representante do Catar, controlador da rede BEIN e do Paris Saint-Germain.
Entre os locais da operação esteve Porto Cervo, uma das praias mais exclusivas da ilha italiana. A mansão de luxo, avaliada em 7 milhões de euros (cerca de R$ 26 milhões), seria um "meio de corrupção" de Al Khelaifi para Valcke.
A polícia italiana, ao lado de representantes suíços, esteve no local. A casa, segundo a suspeita, está "à disposição de Valcke". O jornal ainda revela que um tribunal de Cagliari deu uma ordem de embargo da propriedade.
Ao jornal L'Equipe, Valcke declarou que "nunca recebeu nenhuma recompensa de ninguém". A BEIN também rejeitou qualquer tipo de irregularidade e diz estar cooperando com as investigações.
Mas o caso vai muito além da relação entre os dois suspeitos. Procuradores fora da Suíça admitiram ao Estado com exclusividade que a investigação e a operação permitem a abertura de uma brecha inédita para que mergulhem na relação entre o Catar, o futebol europeu e a Fifa. Na quinta, a sede da BEIN foi alvo de uma operação policial na França, com o confisco de computadores de sua cúpula. "Vamos começar a puxar o fio da meada", disse um deles, na condição de anonimato.
Para procuradores, Khelaifi é apenas um dos representantes de Tamin bin Hamad Al Thani, o emir que decidiu usar o futebol como instrumento de influência.
Se os contratos para a Copa estão na mira, o que os investigadores querem é saber o que existe de fato entre o Catar e eventuais compras de votos para obter o evento de 2022 e outras suspeitas de injeção de recursos. Uma das suspeitas já em fase de inquérito é de que a compra do PSG pelo Catar teria feito parte de um acordo entre o emir e o então presidente da França, Nicolas Sarkozy. Em troca do dinheiro ao clube e outros negócios, os votos do francês Michel Platini e de outros europeus iriam ao Catar na eleição na Fifa.
Agora, a esperança dos investigadores é de que o confisco dos e-mails, celulares e outros documentos do cartola possa começar a dar uma dimensão da real influência nos bastidores envolvendo o Catar no futebol internacional, um assunto que vem gerando polêmica há uma década. O caso ainda ocorre num momento em que dirigentes questionam como o time de Paris encontrou 222 milhões de euros para levar Neymar do Barcelona e diante de uma pressão diplomática sem precedentes pela Arábia Saudita contra o Catar.
Há apenas uma semana, líderes no Oriente Médio chegaram a apontar que bastava o Catar abandonar o Mundial de 2022 que os bloqueios hoje existentes contra o país seriam repensados.