Síria: o governo de Bashar al-Assad e a Rússia negaram uso de gás venenoso em 7 de abril durante ofensiva em Douma (Omar Sanadiki/Reuters)
Reuters
Publicado em 16 de abril de 2018 às 19h16.
Damasco/Haia - Os Estados Unidos acusaram a Rússia nesta segunda-feira de bloquear inspetores internacionais de chegar à área de um possível ataque com gás venenoso na Síria e disseram que russos ou sírios podem ter adulterado evidências no local.
Moscou negou a acusação e culpou ataques retaliatórios a mísseis liderados pelos EUA contra a Síria no final de semana pelo atraso na inspeção.
No tenso período após o possível ataque em Douma e a resposta do Ocidente, Washington também se preparou para aumentar pressão sobre Moscou, principal aliado do presidente sírio, Bashar al-Assad, com novas sanções econômicas. Ministros das Relações Exteriores da União Europeia ameaçaram medidas similares.
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrentaram críticas de adversários políticos por suas decisões de participar dos ataques aéreos.
A Síria e a Rússia negaram uso de gás venenoso em 7 de abril durante ofensiva em Douma, que terminou com a recaptura da cidade que havia sido o último reduto rebelde próximo à capital Damasco.
Organizações de auxílio dizem que dezenas de homens, mulheres e crianças foram mortos. Imagens de jovens vítimas espumando pela boca e chorando em agonia colocaram a Síria - onde meio milhão de pessoas foram mortas nos últimos sete anos - no fronte de preocupação mundial novamente.
Inspetores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), sediada em Haia, viajaram à Síria na semana passada para inspecionar o local, mas ainda não tiveram acesso a Douma, que agora está sob controle do governo após retirada de rebeldes.
"É nosso entendimento que russos podem ter visitado o local do ataque", disse o embaixador norte-americano Kenneth Ward durante um encontro da Opaq em Haia nesta segunda-feira.
"É nossa preocupação de que eles podem ter adulterado com a intenção de frustrar esforços da Missão de Descobertas de Fatos da Opaq para conduzir uma investigação eficaz", disse. Seus comentários no encontro a portas fechadas foram obtidos pela Reuters.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, negou que Moscou tenha interferido com qualquer evidência. "Eu posso garantir que a Rússia não adulterou o local", disse à BBC.
Dois dias após os ataques a mísseis que saudou como uma operação militar bem executada, o presidente Donald Trump ainda quer levar para casa um pequeno número de soldados norte-americanos no norte da Síria, informou a Casa Branca.
Mas a porta-voz Sarah Sanders disse que ele não possuía um prazo para retirada. Trump também está disposto a se encontrar com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acrescentou Sanders, embora indicando que um encontro de tal tipo não é iminente.
A delegação britânica na Opaq acusou a Rússia e o governo Assad de bloquearem que inspetores chegassem a Douma. "Acesso irrestrito é essencial", informou em comunicado. "A Rússia e a Síria devem cooperar".
A equipe busca coletar amostras, interrogar testemunhas e documentar evidências para determinar se munições tóxicas proibidas foram usadas, embora não tenha permissão para designar culpa pelo ataque.
O embaixador britânico Peter Wilson disse em Haia que a ONU havia liberado os inspetores, mas que eles não conseguiram chegar a Douma porque a Rússia e a Síria não foram capazes de garantir segurança.
Moscou culpou pelos atrasos ataques aéreos, nos quais os EUA, a França e o Reino Unido miraram o que o Pentágono disse serem três instalações de armas químicas.
"Nós pedimos uma investigação objetiva. Isto foi bem no começo, após esta informação (do ataque) surgir. Portanto, acusações disto em relação à Rússia são infundadas", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Uma autoridade do Ministério da Defesa da Rússia disse mais tarde que especialistas da Opaq irão viajar a Douma na quarta-feira.