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EUA confirmam ataques do Irã e dizem que combate durará anos

O Irã realizou ataques contra o Estado Islâmico nos últimos dias, segundo os Estados Unidos, que avisam também que os combates vão durar anos


	Caças participam de ataques contra o EI: "todo ataque do Irã contra o Estado Islâmico terá um efeito positivo", dizem EUA
 (Staff Sgt. Shawn Nickel/AFP)

Caças participam de ataques contra o EI: "todo ataque do Irã contra o Estado Islâmico terá um efeito positivo", dizem EUA (Staff Sgt. Shawn Nickel/AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 15h44.

Bruxelas - O Irã realizou ataques aéreos no Iraque contra o Estado Islâmico (EI) nos últimos dias, anunciaram os Estados Unidos nesta quarta-feira, advertindo que a luta contra o movimento vai durar anos.

Esta é a primeira vez que Washington confirma ataques aéreos realizados por aeronaves iranianas contra o EI, após a divulgação de imagens da rede Al Jazeera mostrando os F-4 Phantom iranianos atacando alvos na província de Diyala, na fronteira com o Irã.

"Mas nada mudou em relação a nossa política segundo a qual nós não coordenamos nossas atividades com os iranianos", afirmou o Pentágono. Teerã não confirmou, e, em Bruxelas, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, evitou o assunto, dizendo não ter sido informado.

Esse anúncio foi feito no momento em que o secretário de Estado americano, John Kerry, participava de uma reunião em Bruxelas com os ministros de cerca de sessenta países que integram a coalizão formada há dois meses e meio para "destruir" a organização jihadista no Iraque e na Síria.

Kerry declarou em Bruxelas "que todo ataque do Irã contra o Estado Islâmico terá um efeito positivo".

"É evidente que se o Irã atacar o EI em algum lugar (...) e que isso tiver um impacto (...) o efeito é positivo", indicou Kerry, que não quis comentar as informações do Pentágono sobre os supostos bombardeios iranianos no leste do Iraque nos últimos dias.

"Não iremos fazer anúncios, nem confirmaremos ou negaremos informações sobre ações militares de outros países", declarou durante coletiva de imprensa logo após a reunião da coalizão.

"Vamos realizar esta campanha pelo tempo que for necessário para ganharmos", afirmou Kerry na abertura da reunião. "Nosso compromisso certamente vai durar anos".

O Irã não foi convidado para este encontro, que é o primeiro neste nível, organizado nas instalações da Otan.

"Daech é um flagelo"

"Nenhuma grande unidade do Daech (acrônimo árabe do EI) pode se deslocar sem se preocupar com o que vai cair em sua cabeça", afirmou Kerry, lembrando os cerca de "mil" ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos. Ele saudou "a liderança dinâmica" de vários países árabes que participam dos bombardeios na Síria.

"Os terroristas do Daech são um flagelo. Tudo deve ser feito para erradicá-los", declarou o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius. "A ação militar da coalizão começa a dar seus frutos, principalmente no Iraque, mas ainda resta muito a fazer", acrescentou.

O Exército iraniano já ajuda as milícias xiitas, assim como unidades do Exército iraquiano. Fuzis e lança-foguetes iranianos equipam algumas tropas iraquianas. O Irã também colocou aviões de combate Sukhoi Su-25 à disposição do Iraque. Há rumores inclusive de que pilotos iranianos estejam no comando dessas aeronaves.

Os Estados Unidos iniciaram seus ataques aéreos contra posições do EI no Iraque em 8 de agosto, e ganharam depois o apoio da França, da Austrália, do Reino Unido, do Canadá, da Dinamarca, a Bélgica e a Holanda.

Enquanto isso, desde 23 de setembro, os americanos atacam alvos do EI na Síria, com a participação da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos, da Jordânia e do Bahrein.

Dezenas de países ajudam no combate fornecendo armas, principalmente para as autoridades curdas do norte do Iraque, ou compartilhando informações.

Crimes bárbaros

Em 2015, esta campanha deverá custar 5,6 bilhões de dólares, se forem adicionados o financiamento da formação de soldados iraquianos e curdos e a ajuda humanitária.

Graças à ofensiva da coalizão, as forças iraquianas conseguiram conter o avanço dos jihadistas e recuperar alguns setores. Os ataques também permitiram que a cidade curda síria de Kobane não caísse, mesmo sob o intenso assédio dos extremistas na região da fronteira com a Turquia.

Para especialistas, o vento está prestes a mudar para o EI, que perde terreno no Iraque e não consegue avançar na Síria. Mas alguns consideram que os ataques não conseguirão derrotar os extremistas sunitas em seus redutos sem uma participação estrangeira por terra, descartada até o momento pelo premiê iraquiano e pelos países ocidentais.

Os ministros da coalizão devem discutir nesta quarta formas de afetar o financiamento do grupo, de enfrentar e "tirar a credibilidade" da propaganda da "marca" EI na internet, e abordar a ajuda humanitária aos refugiados, segundo uma autoridade americana.

O grupo Estado Islâmico proclamou em junho um califado na Síria e no Iraque, depois de ter conquistado rapidamente o controle de importantes cidades. O movimento conta com cerca de 30.000 combatentes, dos quais um terço seria composto por estrangeiros.

Além das execuções de prisioneiros ocidentais, o EI comete estupros, sequestros, assassinatos em massa e crucificações de civis nas regiões sob seu controle, e exibe as atrocidades em redes sociais.

O xeque da Al-Azhar no Cairo, uma das mais prestigiosas instituições do Islã sunita, condenou nesta quarta os "crimes bárbaros" do grupo.

O xeque fez as declarações na abertura de uma conferência que reúne as autoridades religiosas de 20 países, como Arábia Saudita, Irã e Marrocos.

"Eu me pergunto noite e dia os motivos desta sedição cega e deste infortúnio árabe, manchado de sangue", afirmou o xeque Al-Azhar, que não descarta um complô para garantir a supremacia de Israel na região.

Também atribuiu parte da responsabilidade ao Ocidente, ao citar o exemplo do Iraque, onde a existência de milícias rivais "11 anos depois da invasão" resultou em "banhos de sangue". Na Síria acontece algo parecido, completou.

Também pediu à coalizão liderada pelos Estados Unidos que enfrente os países "que apoiam o terrorismo financeira e militarmente".

O xeque admitiu, no entanto, que "não se deve ignorar nossa própria responsabilidade no surgimento do extremismo, que fez emergir organizações como a Al-Qaeda e outros grupos armados".

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