Imagem postada na rede social da secretária de Segurança Nacional do governo Trump, Kristi Noem, a respeito do ataque deste sábado (AFP)
Repórter
Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 00h15.
A Guarda Costeira dos Estados Unidos apreendeu perto da costa da Venezuela o petroleiro Centuries, de bandeira panamenha, em operação realizada na madrugada de sábado. Foi a segunda ação do tipo em menos de duas semanas, isso dias após o presidente Donald Trump anunciar bloqueio a embarcações sob sanções que transportem petróleo venezuelano.
A medida intensifica a campanha da Casa Branca contra o governo de Nicolás Maduro, marcada pela maior mobilização militar americana na região em décadas. Caracas classificou a apreensão como “terrorismo internacional” e recebeu apoio do Irã, também alvo de sanções de Washington.
Segundo integrantes do governo americano e da indústria petroleira, citados pela imprensa dos EUA, o Centuries foi abordado em águas internacionais com apoio de militares. De acordo com a agência Associated Press, não houve resistência da tripulação. O navio não consta na lista de sanções do Departamento do Tesouro e seguia carregado de petróleo venezuelano rumo à Ásia.
O New York Times informou que a embarcação pertence a uma empresa chinesa que transporta regularmente petróleo da Venezuela para refinarias em seu país. A secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, confirmou a apreensão em redes sociais declarou que o governo continuará perseguindo o “movimento ilícito de petróleo sancionado”.
O chanceler venezuelano, Yvan Gil, chamou a ação de “pirataria” e “terrorismo internacional”, relatando ter discutido o caso com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi. Segundo Gil, Teerã ofereceu cooperação “em todas as áreas” para enfrentar as medidas americanas.
A vice-presidente Delcy Rodríguez classificou a apreensão como “roubo e sequestro” e denunciou o “desaparecimento forçado” da tripulação, cuja situação permanece desconhecida. “Esses atos não ficarão impunes”, afirmou em comunicado.
A ofensiva ocorre em paralelo à mobilização de 15 mil soldados, navios de guerra e aeronaves de combate no Caribe. O governo Trump concentra esforços sobre o petróleo, principal fonte de renda venezuelana, alvo de sanções impostas por Washington.
No dia 10, militares americanos já haviam apreendido o petroleiro Skipper, incluído na lista de sanções por transportar petróleo iraniano. Poucos dias depois, Trump decretou bloqueio naval à Venezuela, prometendo interceptar qualquer embarcação sancionada. O Centuries foi o primeiro navio interceptado após a ordem, mesmo sem constar na lista de restrições. Caracas classificou o bloqueio como “irracional”.
Em declarações recentes, Trump afirmou que os venezuelanos “tomaram todo o nosso petróleo” e que os EUA “agora querem tudo de volta”, em referência à nacionalização dos campos iniciada nos anos 1970 e consolidada por Hugo Chávez. Atualmente, apenas a Chevron mantém operações no país, sob licença especial de Washington.
Segundo o Pentágono, a mobilização militar faz parte da Operação Lança do Sul, que teria como objetivo combater o narcotráfico. Até agora, 29 embarcações foram atacadas, resultando em ao menos 104 mortes, sem apresentação de provas das acusações. Trump também tem afirmado que ataques terrestres são iminentes, não apenas contra a Venezuela.
Nesse cenário, Maduro é apontado por Washington como líder do chamado Cartel de los Soles. O Departamento de Estado oferece recompensa de US$ 50 milhões por sua captura. Caracas nega as acusações e afirma que o discurso americano busca legitimar uma intervenção contra o regime.