Estes 15 lugares estão à beira do colapso em 2016
Um abrangente levantamento da consultoria Marsh investigou o cenário interno de 200 países e mostra quais deles estão prestes a explodir
Gabriela Ruic
Publicado em 19 de fevereiro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h19.
São Paulo – Anualmente, a Marsh, empresa especializada em análises de riscos, publica uma abrangente pesquisa sobre a situação geopolítica mundo afora. Produzido para ser uma ferramenta de informação para multinacionais, o Mapa de Riscos Políticos traz ao público geral um interessante retrato dos cenários turbulência hoje enfrentados por dezenas de países e territórios. O relatório avaliou os panoramas políticos , estruturais e econômicos atuais de 200 locais distribuídos por diferentes partes do planeta. A partir disso, os classificou de acordo com o grau de instabilidade. Quanto mais próxima de 0 for a pontuação atribuída a um país ou território, pior é a sua situação. Divulgada no final de janeiro, a edição 2016 da análise conta com novidades em relação ao ranking do ano passado, na qual foram investigados 170 lugares. Em 2015, o estudo tinha no primeiro lugar entre os países mais instáveis a República Centro-Africana, seguida do Sudão , e contava com o Brasil na 54ª posição. A EXAME.com, a Marsh compilou os dados dos 15 primeiros locais cujas situações internas estão em ritmo acelerado de deterioração. O Brasil não faz parte desse rol, mas foi incluído ao final da matéria para fins de comparação. Confira nas imagens.
Este que é o país mais jovem do mundo vive momentos de tensão desde a sua independência do Sudão em 2011 por conta de uma guerra civil que já dura dois anos e que trouxe novos pesadelos para a sua população. No momento, está em vigor desde agosto do ano passado um cessar-fogo entre governo e rebeldes. Para manter esse acordo em pé, o presidente Salva Kiir nomeou no início do mês seu rival e líder rebelde Riek Machar como vice-presidente. Para a Marsh, no entanto, a situação do Sudão do Sul é de fragilidade. “Independentemente de manobras políticas no alto-escalão, enxergamos poucas perspectivas de melhora na segurança e cenário político em 2016”.
Também com 23,70 pontos, a República Centro-Africana ocupa o topo do ranking ao lado do Sudão do Sul. No local, analisa a Marsh, o cenário é de tensões entre cristãos e muçulmanos que datam os idos de 2013, quando um golpe orquestrado por milícias de Selekka, região majoritariamente muçulmana derrubaram o então presidente François Bozize. Para a Marsh, o fato de o país não contar com uma força de intervenção bem equipada, a violência entre os grupos religiosos deve continuar. “Enquanto essa situação persistir, qualquer solução política é improvável”, crê a empresa.
O Iêmen é palco de uma turbulenta guerra civil desde o início do ano passado, quando rebeldes da etnia Houthi invadiram pontos importantes da capital para tentar derrubar o governo. Além disso, o país sofre com a ameaça terrorista representada pelos extremistas da rede Al Qaeda que controlam boa parte da zona rural. De acordo com a Marsh, a instabilidade no país se tornou ainda mais violenta depois que os conflitos no Iêmen ganharam ainda participação do Irã, que apoia os rebeldes, e de uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, que endossa as tropas do governo.
O Sudão vem passando por turbulências econômicas desde o fim dos conflitos com o Sudão do Sul e que resultaram na sua independência. Isso porquê, além de ter perdido uma importante porção de território, o governo sudanês perdeu também receitas oriundas da exploração de petróleo. Mas não é só isso que contribui para o cenário de instabilidade: o país enfrenta focos de conflito em diferentes regiões e seu governo é alvo de acusações por parte da comunidade internacional de crimes contra a humanidade cometidos em Darfur. Isso sem falar no mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal International para seu presidente Omar al-Bashir.
Palco de uma guerra civil prestes a completar cinco anos, a Síria é um dos países mais instáveis do mundo na análise da Marsh. A situação se agrava com a presença violenta dos extremistas do Estado Islâmico, da Rússia e da coalizão liderada pelos Estados Unidos. “O destino da Síria está se tornando cada vez mais ligado ao futuro do Iraque”, consideram os analistas, “na melhor das hipóteses, o país se tornará cada vez mais descentralizado, com regiões autônomas”. Já na pior das hipóteses, a violência continuará.
O país terá eleições presidenciais neste ano, mas o pleito deve trazer poucas surpresas, na avaliação da empresa. Segundo a Marsh, a reeleição Idriss Déby para a presidência, cargo que ocupará pela quinta vez desde 1990, é quase certa. E é possível que a comunidade internacional faça vista grossa para possíveis irregularidades no processo eleitoral. Isso porque o governo conseguiu frear avanços do grupo extremista islâmico Boko Haram. No entanto, o desafio daqui para frente será o de impedir que jovens se juntem ao grupo, reforçando sua presença em Chade.
Avassalada pela pobreza, a Somália é mais um dos países considerados como instáveis e turbulentos pela Marsh. E o cenário para 2016 não é otimista. Segundo a empresa, apesar de o governo ter conseguido manter um controle relativo na capital Mogadíscio, afastando avanços do violento grupo extremista Al Shabaab. Contudo, o grupo está longe de derrotado e segue representando grave ameaça.
Um dos países mais pobres do mundo, a Guiné-Bissau ainda vive as consequências de um golpe de Estado que aconteceu em 2012. As turbulências políticas que se sucederam fizeram com que o país perdesse o apoio de parceiros econômicos importantes, como a União Europeia. Contudo, a situação parece estar se estabilizando e os analistas da Marsh enxergam razões para otimismo. A começar pelo fato de que o Judiciário da Guiné-Bissau está se consolidando como instituição robusta. Outro ponto visto como positivo é o posicionamento firme das forças armadas, que observaram de longe e com certa neutralidade algumas das confusões políticas que aconteceram por lá em 2015. “Os riscos de um novo golpe estão diminuindo”, avaliam, “ e uma transição democrática bem-sucedida irá garantir que o fluxo de ajuda que o país recebe seja mantido”.
O Afeganistão segue sofrendo com a violência: só no ano passado, relatou a ONU, 3.545 civis morreram e outros 7.457 ficaram feridos principalmente em decorrência do aumento dos ataques terroristas em zonas populosas do país. Um aumento de 4% em relação aos números registrados no ano anterior. Lutando para manter o controle de um país que é base de grupos extremistas como o Taleban e que vem se tornando atrativo também ao Estado Islâmico, o governo afegão terá que continuar resistindo a violência por mais alguns anos. É o que preveem os analistas da Marsh. “Mesmo que a paz seja alcançada, os riscos políticos permanecem altos por conta da diversidade étnica do país, os altos níveis de analfabetismo e também pela corrupção”.
A Líbia pós-Kadafi, o ditador deposto em 2011 após manifestações populares, segue caótica. Atualmente, sua liderança é disputada por dois governos rivais, baseados em locais diferentes. Um governo de unidade vem sendo proposto com o apoio da ONU, mas ainda não há sinais de que um acordo será consolidado. Mas além dessa instabilidade, a Líbia precisa ainda lidar com a ascensão do grupo extremista Estado Islâmico, que já está presente e ativo no país. E é considerando esse cenário confuso que os analistas da Marsh apostam que a Líbia seguirá politicamente instável por mais alguns anos. “No longo prazo, a Líbia terá de adotar um sistema político descentralizado, que reflita suas diferentes identidades”.
O governo da República Democrática do Congo é visto pela Marsh como incapaz de conseguir manter a ordem e o controle sobre seu largo território e as instabilidades políticas só devem aumentar, prevê a empresa. No leste do país, por exemplo, o cenário é de violência por conta dos conflitos étnicos e disputas territoriais. Suas instituições democráticas também são colocadas em xeque pela empresa, uma vez que o atual presidente Joseph Kabila parece determinado a tentar um “inconstitucional terceiro mandato”. A oposição já está de olhos abertos para essa possibilidade e o clima na capital Kinshasa é de tensão, informa a imprensa local.
Pobreza, violência e tensões políticas: a profunda crise suportada pelos haitianos parece não ter fim. E, segundo a Marsh, 2016 promete seguir nessa mesma toada. ”O Haiti sobre com a volatilidade do seu ambiente político e é marcado por instituições fracas”, considera a empresa. Exemplo disso é a incapacidade de o governo atual conseguir manter a ordem em suas eleições presidenciais, cujo primeiro turno aconteceu em outubro do ano passado e cujo segundo turno acontecerá apenas em maio de 2016. Até lá, o país será liderado pelo governo interino de Joceleme Privert, presidente do Senado.
No Zimbábue , a questão que irá determinar os caminhos do país neste ano é relacionada ao seu futuro político, especialmente no que diz respeito ao sucessor de Robert Mugabe, que é presidente desde 1987 e tem hoje 91 anos, e se essa pessoa será capaz de se consolidar no poder. O partido de Mugabe, a União Nacional Africana do Zimbábue, está dividido, o que significa que a disputa pelo poder poderá ser tensa. Adiciona-se a essa conta os altos índices de desemprego, a falência da economia local e os péssimos serviços públicos e se tem um cenário de instabilidade que irá perdurar em 2016 e possivelmente nos próximos anos.
O país vive uma profunda crise política desde abril, por conta da tentativa do presidente Pierre Nkurunziza de concorrer a um terceiro mandato, algo que desagradou grande parte da população. O clima de tensão se arrastou por todo o ano e se agravou em dezembro quando foram registradas mais de 130 mortes em menos de 48h relacionadas a confrontos entre manifestantes e tropas do governo. “Perspectivas de uma melhora na estabilidade são nebulosas”, consideram os analistas, “especialmente quando se considera que governo e insurgentes não se mostraram dispostos a negociar”. Para a Marsh, a situação irá se deteriorar em 2016 e são altos os riscos de uma guerra civil e assassinatos em massa.
O futuro dessas regiões, crê a Marsh, é incerto. Na visão dos analistas da empresa, a crise de legitimidade do governo palestino em Gaza e os perigos dos conflitos entre palestinos e soldados israelenses na Cisjordânia são fatores que contribuem diretamente para clima de instabilidade que a população desses locais tem de suportar. Além disso, é improvável que um acordo de paz seja consolidado entre palestinos e Israel.
O país não figura entre os quinze países mais instáveis e a Marsh considera a democracia brasileira como bem consolidada. Em 2016, contudo, é possível o surgimento de tensões por conta do descontentamento da população com a corrupção e má qualidade dos serviços públicos. “Do lado positivo, o país goza de um ambiente geopolítico seguro, distante das principais zonas de conflitos do mundo”.
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