Nicolás Maduro, presidente da Venezuela (ZURIMAR CAMPOS/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 12 de março de 2024 às 20h59.
Última atualização em 12 de março de 2024 às 20h59.
De colchões, sapatos e vasos sanitários a casas e quadras públicas: o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, é candidato a um terceiro mandato de seis anos e seu comando de campanha converge com a máquina do governo e os recursos do Estado.
Maduro prometeu 70 obras públicas até 28 de julho, data que representa a idade que Hugo Chávez comemoraria nesta data, dia de seu aniversário, que coincide com a eleição presidencial na qual o chavismo disputa a continuidade após 25 anos no poder.
Seu adversário ainda é uma incógnita diante da inabilitação política da líder da oposição María Corina Machado, que se nega por enquanto a apontar um sucessor e faz um giro pelo país para formar "comandinhos" que estruturem sua campanha.
O governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) vai proclamar Maduro candidato durante um congresso na sexta-feira, uma formalidade. Ele está em campanha há semanas, embora formalmente a mesma vá começar em 4 de julho.
Maduro tem multiplicado suas aparições públicas, algo excepcional até pouco tempo atrás. A imagem do presidente saindo pela janela do carro para cumprimentar seus apoiadores que cercam o veículo é repetida diariamente pela TV estatal.
"É um padrão que claramente faz parte da campanha", explica à AFP Ricardo Ríos, presidente da empresa Poder y Estrategia. "Não são atos multitudinários, não vão correr o risco, e fazem esta campanha de acupuntura, com aparições muito pontuais", que normalmente coincidem com atos do governo.
No fim de semana, mais de 4 milhões de militantes decidiram por aclamação pela candidatura de Maduro, sem ninguém apresentar outro nome, apesar dos baixos índices de popularidade que as pesquisas lhe dão.
Há uma semana, Maduro lançou o programa social Grande Missão Hugo Chávez para enfrentar a "desigualdade horrorosa e triste da guerra econômica e das sanções" internacionais, usados para justificar todos os problemas do país.
"Chávez nos ensinou a ver além", disse o presidente que, em época de eleições, reforça o culto à personalidade do ex-presidente falecido em 2013, que o escolheu para sucedê-lo.
O espectro dessa 'missão' é amplo: Maduro prometeu distribuir 6,2 milhões de pares de sapatos e um milhão de colchões; falou em "resolver os problemas existentes em pelo menos 55.000 moradias" com blocos, cimento e vasos sanitários.
"Faz parte de uma dinâmica muito latino-americana e particularmente venezuelana esse caráter clientelista de usar os recursos públicos em campanha eleitoral para favorecer a parcialidade política", afirma Ríos.
A primeira obra desta missão foi entregue na sexta-feira passada: um centro esportivo no estado de Falcón (noroeste).
"É vergonhoso e terrível", disse à AFP Magalli Meda, chefe de campanha de María Corina Machado. "Preparem-se porque milhões de venezuelanos vão exercer seu direito ao voto para finalmente mudar um Estado que não funcionou e fracassou".
Machado organizou sua campanha em torno dos "comanditos" (comandinhos), grupos improvisados de moradores, amigos ou familiares em todo o país. Segundo Meda, até agora são mais de 4.500.
"Esta é uma campanha sem grana", disse. "Esta é uma campanha que o povo está conduzindo porque entendemos que já levamos muitos anos nisto e não vamos resolvê-lo à base de panfletos, painéis e publicidade".
Machado, que venceu com folga as primárias opositoras de outubro passado, não para de viajar pelo país e insiste em que vai "até o final". Mas o registro oficial de candidatos termina em 25 de março, dentro de apenas 13 dias.
A liderança tem se mostrado firme a favor de sua candidatura, mas, historicamente frágil e facilmente divisível, os pedidos por um substituto são cada vez mais frequentes.
"Qualquer cenário no qual você tenha um candidato que não seja de mentira é um risco para Maduro", explica Luis Vicente León, diretor da empresa Datanálisis. "Seu problema não é María Corina, é sua popularidade".