Aedes aegypti, mosquito transmissor do zika vírus: cientistas de todo o mundo sabem ainda menos sobre o Zika do que sabiam sobre o vírus do Ebola (Luis Robayo/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2016 às 08h58.
Londres - Mais uma vez o mundo clama para que cientistas e empresas farmacêuticas criem rapidamente uma vacina contra uma doença viral que, no caso mais recente, poucas pessoas tinham ouvido falar até algumas semanas atrás, e menos ainda temiam.
Em teoria, não deveria ser muito difícil produzir uma reação imunológica contra o Zika vírus, que está se espalhando pelas Américas, mas criar um produto seguro, eficaz e de pronta entrega que proteja mulheres e meninas em risco não é fácil na prática.
Para começar, cientistas de todo o mundo sabem ainda menos sobre o Zika do que sabiam sobre o vírus do Ebola, que causou uma epidemia jamais vista na África Ocidental no ano passado.
Devido ao seu alto índice de mortandade, o Ebola foi tema de pesquisas sobre bioterrorismo, o que forneceu pelo menos um argumento a favor da busca acelerada por uma vacina.
Desta vez, o vácuo de conhecimento é mais preocupante. Só há 30 menções ao Zika em pedidos de patentes – são 1.043 para o Ebola e 2.551 para a dengue, de acordo com o Índice Mundial de Patentes Thomson Reuters Derwent.
E só foram escritas 108 monografias de destaque sobre o Zika desde 2001, contra mais de quatro mil a respeito do Ebola, como revela a plataforma digital de pesquisa Web of Science.
Ainda assim, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, a Agência de Saúde Pública do Canadá e o Instituto Butantan, em São Paulo, iniciaram trabalhos com candidatos em potencial a uma vacina para o Zika, e várias empresas de biotecnologia também estão no páreo.
Entre elas está a NewLink Genetics , que ajudou a desenvolver a primeira vacina bem-sucedida contra o Ebola junto com a Merck.
É importante notar que existe uma fabricante de vacinas de peso no jogo: a Sanofi informou na terça-feira que irá lançar um programa para criar uma vacina contra o Zika, um dia depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado a doença e seus supostos elos com má-formação cerebral de recém-nascidos uma emergência de saúde pública mundial.
A farmacêutica japonesa Takeda Pharmaceutical também disse, nesta quarta-feira, que montou uma equipe para investigar como pode ajudar a criar uma vacina, e a GlaxoSmithKline GSK.L está finalizando estudos de viabilidade para determinar se sua tecnologia de produção de vacinas pode servir.
A infecção do Zika é tão amena que, na ampla maioria dos casos, suas vítimas não sabem estar infectadas, por isso é improvável que este grupo de pacientes em potencial precise ou queira ser imunizado.
O grupo alvo crucial são as mulheres que podem estar grávidas, já que a maior ameaça que se suspeita na doença é sua possível conexão com a microcefalia.