Ciência

Reguladora europeia diz que AstraZeneca não aumenta risco de coágulo

A reguladora da União Europeia deu veredicto sobre a vacina nesta quinta-feira e recomendou que países que paralisaram a imunização voltem a vacinar

Vacina da AstraZeneca: após suspensão, países devem retomar a vacinação (Henry Nicholls/File Photo/Reuters)

Vacina da AstraZeneca: após suspensão, países devem retomar a vacinação (Henry Nicholls/File Photo/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 18 de março de 2021 às 13h26.

Última atualização em 18 de março de 2021 às 22h41.

O aguardado veredicto europeu sobre a vacina da AstraZeneca contra o coronavírus foi anunciado na manhã desta quinta-feira, 18. Após uma série de países da região suspenderem a vacinação com o imunizante, a agência reguladora de medicamentos da União Europeia (EMA, na sigla em inglês), disse em entrevista coletiva que a vacina não mostrou aumentar as chances de ocorrência de coágulos sanguíneos.

Algumas dezenas de casos de trombose, pelo menos 30 até a última semana, foram registrados em pessoas que tomaram a vacina da AstraZeneca, o que levou à decisão de países europeus de mandar paralisar a vacinação.

A decisão de pausar a vacinação foi tomada pelos governos especificamente, embora sem aval das agências reguladoras, que defenderam a continuidade do uso da vacina para reduzir o número de mortes por covid-19, que chega a passar de 2.000 por dia na União Europeia. Mas governos de países como Alemanha, Portugal, Itália e França seguiram o que fez a Dinamarca e mandaram suspender a vacinação.

Com a decisão da reguladora, a tendência é que esses países voltem a vacinar rapidamente com o imunizante da AstraZeneca.

Nos últimos dias, a EMA estudou os casos reportados especificamente antes do anúncio e disse não ter conseguido encontrar ligação entre os eventos. "Nós ainda não podemos fazer uma ligação definitiva entre esses casos [de coágulos] e a vacina", disse Emer Cooke, diretor-executivo da EMA.

Cookie disse, no entanto, que nenhuma hipótese pode ser descartada e que a EMA seguirá fazendo novas pesquisas sobre o tema.

Na declaração de hoje, os técnicos da EMA voltaram a dizer que a proporção de casos não é maior do que os que já ocorreriam nessa parcela da população. Foram vacinados com o imunizante 20 milhões de pessoas na UE e no Reino Unido.

A agência também descartou que haja problema com um lote específico da vacina, como se cogitou no início.

A EMA e entidades como a Organização Mundial da Saúde já havia feito pronunciamentos nos últimos dias afirmando que os benefícios da vacina superam os riscos de efeitos colaterais. Mas a reunião de hoje era aguardada por confirmar o veredicto de se o bloco deveria prosseguir com a vacinação que, mesmo antes da suspensão da AstraZeneca, já corria de forma mais lenta do que o esperado na UE

No Brasil, a Anvisa, que regula as vacinas autorizadas, disse que o imunizante da AstraZeneca é seguro, que não foram identificados efeitos adversos graves no país e recomendou que a vacinação continue normalmente.

A vacina do mesmo tipo usada no Brasil foi enviada não pela fábrica própria da AstraZeneca, mas pelo Instituto Serum, na Índia, o maior fabricante de vacinas do mundo e que tem acordo com a AstraZeneca para produzir e distribuir doses. Por ora, as 4 milhões de doses prontas que chegaram ao Brasil vieram todas do Serum. A fábrica da Fundação Oswaldo Cruz também começou neste mês as próprias vacinas com insumo (o chamado IFA) importado.

Para especialistas, o risco de não vacinar neste momento é muito maior. Tanto a EMA quanto a Organização Mundial da Saúde já haviam afirmado que os riscos de morte e potenciais efeitos colaterais permanentes para os sobreviventes da covid-19 são mais perigosos do que riscos não comprovados da vacina, e que os países não deveriam deixar de vacinar milhares de pessoas apenas por suspeitas.

A União Europeia registrou até agora mais de 577.000 mortes por covid-19 e mais de 24 milhões de casos. Os países do bloco têm registrado cerca de 2.000 mortes por dia, segundo a média móvel dos últimos sete dias.

O número de novos casos e mortes por covid-19 caíram drasticamente no Reino Unido e em partes da Europa Ocidental em meio ao avanço da vacinação.

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Apesar do aval da reguladora, a pergunta que fica, agora, é se parte do estrago na reputação da vacina pode ser irreversível. Movimentos anti-vacina já vinham criticando os imunizantes nos últimos meses, e, ainda que os cientistas afirmem que não há risco encontrado por ora, a má fama da vacina da AstraZeneca na Europa — a principal aposta do continente para vacinar em massa — pode perdurar.

As suspensões da vacina também aconteceram em meio aos embates recentes entre a União Europeia e a AstraZeneca, reforçando as questões políticas envolvendo vacinas em todo o mundo.

A AstraZeneca, que é de origem britânica e sueca, anunciou nos últimos meses que atrasaria a entrega de parte das vacinas vendidas à UE, o que irritou as potências do bloco, que pagaram por parte do desenvolvimento da vacina. A UE reservou 300 milhões de doses para o primeiro semestre, mas a AstraZeneca disse que só deve conseguir entregar 100 milhões.

Outro ponto sensível para o bloco europeu é o fato de que as entregas para o Reino Unido — que deixou a UE oficialmente após o Brexit — têm sido feitas sem maiores atrasos. O Reino Unido é um dos países que mais vacinaram no mundo até agora, à frente da União Europeia.

O Reino Unido, aliás, onde a vacina de AstraZeneca/Oxford é o carro-chefe de um bem-sucedido programa de vacinação, tem sido o maior defensor do imunizante até agora. O regulador do país reforçou nos últimos dias que não foram encontrados casos de problemas relacionados ao imunizante dentre os vacinados britânicos.

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