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Duas pessoas morrem e 46 são presas em manifestações na Venezuela depois de resultado das eleições

CNE confirmou vitória de Nicolás Maduro, mas comunidade internacional pede para ver atas oficiais

Opositor ao governo pisa num cartaz de campanha eleitoral com a imagem de Maduro durante um protesto no bairro Petare, em Caracas, na segunda-feira (Raul Arboleda/AFP)

Opositor ao governo pisa num cartaz de campanha eleitoral com a imagem de Maduro durante um protesto no bairro Petare, em Caracas, na segunda-feira (Raul Arboleda/AFP)

Publicado em 30 de julho de 2024 às 11h12.

Última atualização em 30 de julho de 2024 às 11h14.

Duas pessoas morreram e ao menos 46 foram detidas na Venezuela desde segunda-feira, 29, quando uma série de protestos pelo país começou depois que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) confirmou a reeleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato de seis anos, segundo o Foro Penal, citado pelo El País. As vítimas eram dos estados deYaracuy e  Zúlia.

Estátuas derrubadas

Ao menos cinco estátuas em homenagens ao ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foram derrubadas durante os protestos. O resultado tem sido contestado pela oposição e por boa parte da comunidade internacional.

Além da peça localizada no estado de Falcón, a primeira a ser derrubada, também foram registradas quedas de estátuas no estado de Guárico, em Carabobo, no estado de Aragua e na cidade de Los Teques, no estado de Miranda, de acordo com o jornal venezuelano La Patilla. Segundo o jornal local, desde a morte de Chávez em março de 2013, mais de dez estátuas foram erguidas em homenagem ao líder chavista em todo o país, além de algumas terem sido erguidas em países aliados, como Cuba e Bolívia. Ambos os países parabenizaram Maduro pela reeleição.

Em Guárico, uma estátua de Chávez foi derrubada na cidade venezuelana de Calabozo. Vídeos que circulam pela internet mostram um manifestante quebrando uma das "pernas" da estátua com o que parece ser uma marreta ou martelo, enquanto outro empurra a estrutura com uma barra. A estátua cai inteira no chão, e a queda é recebida com gritos eufóricos, aplausos e comemoração.

Uma cena similar ocorreu no estado de Carabobo, na cidade de Mariara. Neste caso, uma estátua de Chávez sob um tablado nas cores da bandeira da Venezuela é puxada através de cabos por alguns manifestantes. Ao cair, também inteira, dezenas de manifestantes se amontoam sobre a estrutura para pisá-la e chutá-la. A cena também é comemorada pela multidão.

Na Praça Bolívar-Chávez em La Guaira, na cidade de Las Tejerías, em Aragua, é possível ver alguns manifestantes sobre a base em que a estátua foi colocada, empurrando-a. Um vídeo na internet mostra o momento que, depois de ter sido tombada, a estátua é arrastada pela rua por manifestantes através de uma corda, amarrada no pescoço da estátua. Eles também desferem alguns golpes na estrutura.

No conjunto urbano El Chorrito, na cidade de Los Teques, vídeos mostram pelo menos quatro manifestantes sacudindo a estátua antes de empurrá-la para fora do tablado em que estava elevada.

Na segunda-feira, a primeira estátua de Chávez a ser derrubada foi na avenida Shema Saher de Coro, no estado de Fálcon. Pelo menos dez manifestantes subiram na pedra que sustentava a estátua e desferiram golpes de martelo em suas "pernas" para quebrá-la e então derrubá-la. Mas, uma das cenas mais significativas que, embora ainda não tenha sido possível identificar o local, mostra dois homens em uma moto arrastando a "cabeça" decapitada de uma das estátuas de Chávez através de uma corda.

Maduro disse que os responsáveis pela queda das imagens foram identificados, segundo o jornal espanhol El País. Chávez, revolucionário socialista que liderou a Venezuela por mais de uma década, morreu em 2013 devido a um câncer de cólon.

Novas manifestações são esperadas

Novas manifestações são esperadas no país para esta terça-feira após as mortes e detenções durante os protestos. A líder da oposição, Maria Corina Machado, disse aos repórteres que uma revisão dos registros de votação disponíveis mostrou claramente que o próximo presidente “será Edmundo Gonzalez Urrutia”, que a substituiu na cédula depois de ter sido barrada por tribunais alinhados a Maduro. Os registros mostraram uma vantagem “matematicamente irreversível” para Gonzalez Urrutia, disse ela, com 6,27 milhões de votos contra 2,75 milhões de Maduro.

Ela convocou as famílias a comparecerem na terça-feira às “assembleias populares” em todo o país para demonstrar apoio a uma transição pacífica de poder. “Há milhões de cidadãos na Venezuela... que querem ver que seu voto conta”, postou ela mais tarde no X. O gerente de campanha de Maduro, Jorge Rodriguez, por sua vez, também convocou no X “grandes marchas a partir desta terça-feira para comemorar a vitória”.

As manifestações começaram ainda na segunda-feira, horas após o CNE ter anunciado, com base em 80% dos votos apurados, a vitória de Maduro com 51,2% em comparação com 44,2% do candidato da oposição organizada, Edmundo González Urrutia. Os protestos foram se espalhando pelo país ao longo do dia, à medida que Maduro seguia com a sua proclamação, a oposição contestava os dados, e a comunidade internacional pressionava pela transparência do processo e a publicação das atas.

As forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha na segunda contra manifestantes furiosos que contestavam a vitória da reeleição reivindicada por Maduro. Milhares de pessoas inundaram as ruas de vários bairros da capital, gritando “Liberdade, liberdade!” e “Este governo vai cair!” Alguns também arrancaram pôsteres da campanha de Maduro dos postes nas ruas e os queimaram.

O chavista rejeitou as críticas e dúvidas internacionais sobre o resultado da votação de domingo, alegando que a Venezuela foi alvo de uma tentativa de “golpe de Estado” de natureza “fascista e contrarrevolucionária”.

As Nações Unidas, os Estados Unidos, a União Europeia e vários países latino-americanos pediram um processo “transparente”, enquanto aliados como China, Rússia e Cuba parabenizaram Maduro. Nove países latino-americanos pediram em uma declaração conjunta uma “revisão completa dos resultados com a presença de observadores eleitorais independentes”.

O Centro Carter, sediado nos Estados Unidos, uma das poucas organizações que tinham observadores na Venezuela, pediu que o CNE publicasse imediatamente os resultados detalhados das seções eleitorais. O Brasil e a Colômbia também pediram uma revisão dos números, enquanto o presidente do Chile disse que o resultado era “difícil de acreditar”.

O Peru chamou seu embaixador e o Panamá disse que estava suspendendo as relações com a Venezuela. A Organização dos Estados Americanos, sediada em Washington, convocou uma reunião de emergência para quarta-feira a pedido da Argentina e de outros países que contestaram a contagem do CNE.

Caracas rebateu, dizendo que estava retirando funcionários diplomáticos da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai. Também suspendeu os voos de e para o Panamá e a República Dominicana.

Maduro está no comando do país, que já foi rico em petróleo, desde 2013. Na última década, o PIB caiu 80%, levando mais de sete milhões dos 30 milhões de cidadãos da Venezuela a emigrar. Ele é acusado de prender os críticos e perseguir a oposição em um clima de crescente autoritarismo. No período que antecedeu a eleição, ele alertou sobre um “banho de sangue” caso perdesse. A eleição de domingo foi o produto de um acordo firmado no ano passado entre o governo e a oposição.

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