Crise nuclear na Coreia do Norte: o que pode acontecer?
O conflito entre o país asiático e, principalmente os EUA, tem aumentado a tensão no mundo inteiro; veja respostas sobre a crise
AFP
Publicado em 31 de agosto de 2017 às 12h41.
Apesar da unanimidade nas críticas ao redor do mundo, a Coreia do Norte prossegue o desenvolvimento de seus programas militares, como mostra o mais recente lançamento de míssil do país, que sobrevoou o Japão.
Pyongyang e Washington estão em uma batalha verbal há vários anos, mas a situação se tornou ainda mais grave com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, um presidente muito pouco ortodoxo.
A seguir, algumas perguntas sobre a crise:
O que aconteceu?
Nos últimos dois meses, Pyongyang lançou com sucesso dois mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), que deixam parte do continente americano a seu alcance.
Também ameaçou atacar o território americano de Guam, ilha do Pacífico que abriga importantes instalações militares.
Como resposta, um apocalíptico Donald Trump ameaçou a Coreia do Norte com "fogo e fúria".
Pyongyang afirma que precisa se proteger de uma invasão dos Estados Unidos. Os ICBM reforçam sua capacidade de dissuasão e permitem ameaçar cidades americanas, além de Coreia do Sul e Japão, dois aliados de Washington.
O que Pyongyang fará agora?
O dirigente norte-coreano, Kim Jong-un, anunciou outros disparos no Pacífico, e não há motivos para duvidar de seu discurso.
A cada oportunidade, Pyongyang dá um passo adiante, de modo lento, mas constante.
Para analistas, a próxima etapa poderia envolver lançamentos simultâneos sobre o Japão. A Coreia do Norte também poderia ampliar a distância percorrida (2.700 km na terça-feira), levando em consideração que Guam fica a 3.400 km de seu território.
Uma intervenção americana é possível?
No momento, parece pouco provável, segundo os analistas. O Pentágono mantém 28.500 soldados na Coreia do Sul ante um possível conflito na península. Há vários anos, contempla essa hipótese e organiza manobras militares anuais com Seul. A edição atual das chamadas "Ulchi Freedom Guardian" termina nesta quinta-feira (31).
As opções sobre a mesa vão de ataques cirúrgicos limitados até um "bombardeio preventivo" para "decapitar" o regime norte-coreano.
A Coreia do Norte é especializada na arte dos túneis. Após a guerra da Coreia (1950-1953), o país cavou corredores sob a zona de fronteira desmilitarizada (DMZ). Os arsenais nucleares e convencionais do país estão enterrados e, portanto, protegidos, de acordo com os analistas.
Por esse motivo, é pouco provável que um primeiro bombardeio destrua todas as armas nucleares do país. O Norte tem ainda uma grande artilharia, com Seul, cidade com 10 milhões de habitantes, a seu alcance.
"Não há solução militar, esqueçam isso", afirmou o o ultraconservador Steve Bannon, ex-conselheiro estratégico de Trump.
E as sanções?
No início de agosto, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a sétima série de sanções contra Pyongyang, para privar o regime de um terço do que arrecada com as exportações.
A resolução foi aprovada por unanimidade, o que significa que também recebeu os votos da Rússia e da China. A eficácia das sanções depende em grande parte do comportamento da China, destino de 90% das exportações norte-coreanas.
Washington pressiona Pequim a adotar um tom mais rígido em relação à Coreia do Norte, mas a China teme uma eventual queda do regime de Pyongyang.
Washington e Tóquio desejam aumentar a pressão sobre o Norte, mas Pequim e Moscou defendem um compromisso: o fim dos testes balísticos norte-coreanos em troca da suspensão dos exercícios militares dos Estados Unidos com a Coreia do Sul.
Para os Estados Unidos, porém, essa solução permitiria a Pyongyang conservar capacidades militares inaceitáveis, o que seria algo como recompensar o mau comportamento.
E o diálogo?
Nos anos 2000, as negociações entre seis partes (as duas Coreias, China, Rússia, Japão e Estados Unidos) pareceram convencer o Norte, então governado por Kim Jong-il, pai do atual líder, a suspender seus programas militares. O processo terminou em 2009.
O Norte realizou cinco testes nucleares e afirma que controla as técnicas de miniaturização de ogivas nucleares, assim como do retorno das mesmas à atmosfera.
Para o professor Koh Yu-Hwan, da Universidade Dongguk de Seul, o disparo de terça-feira é uma "mensagem clara" de que o Norte não vai parar até possuir mísseis nucleares com capacidade de atingir os Estados Unidos.
Pyongyang está convencida de que, assim, "poderá permanecer firme diante dos Estados Unidos em qualquer negociação", completou Yu-Hwan.