Grécia e Irlanda ficaram na mesma situação portuguesa antes (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2011 às 08h39.
Genebra - A crise da dívida na Europa fez mais uma vítima. Ontem, o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, não conseguiu os votos necessários para passar uma nova lei de austeridade, foi obrigado a apresentar a sua renúncia e convocar eleições antecipadas. O país deve começar agora a negociar um pacote de resgate com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) que pode chegar a 70 bilhões.
A nova crise econômica e política ainda ameaça mais uma vez desestabilizar o bloco e o euro. Ontem, após a renúncia de José Sócrates, o euro caiu a menos de US$ 1,41, ante as preocupações do mercado de que a crise política portuguesa antecipe um pedido de ajuda financeira internacional. No dia anterior, a moeda europeia havia alcançado seu nível mais alto desde novembro, cotado a US$ 1,4249.
Sem medidas para cortar gastos, Portugal caminha para ser o terceiro país da zona do euro a receber ajuda. Grécia e Irlanda foram os primeiros, com pacotes exigindo cortes nos gastos públicos e alta de impostos. Nos últimos meses, Portugal lutava contra a ameaça de ter de recorrer a fundos externos, alegando que sua situação não era como a da Irlanda ou da Grécia. Para provar isso, o governo socialista de Sócrates fechou acordo com a UE de que traria o déficit para 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no fim de 2011, depois de passar de 7% em 2010.
Mas a oposição de centro-direita liderada por Pedro Coelho, que já havia avançado em eleições locais e está na liderança das pesquisas de opinião, usou a situação para derrubar o governo e forçar a convocação de eleições. Sócrates, há seis anos no poder, não teve alternativa diante da derrota no Parlamento e anunciou sua demissão. O presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, iniciará diálogo com todos os partidos, e o atual governo será mantido apenas para garantir o funcionamento do Estado.
Turbulência
A queda do governo ocorre às vésperas da cúpula da UE, que, agora, terá a agenda dominada pela situação de Portugal e por mais uma turbulência na zona do euro. Ontem, o mercado já deu uma indicação de como serão os próximos dias. Diante da perspectiva de queda do governo, o risco país de Portugal bateu recorde, numa demonstração de que o mercado não confia na capacidade do país de rolar suas dívidas. O impacto também foi sentido em países como a Irlanda, mesmo depois de já ter sido socorrida pela UE e pelo FMI. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.