Consumidores de maconha uruguaios esperam futuro sem "secas"
Futuro sem prisões nem "secas" (escassez de maconha nos mercados) é esperado pelos usuários uruguaios, após legalização de cultivo, compra e venda da droga
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2013 às 10h32.
Montevidéu - Um futuro sem prisões e sem "secas" (a temida escassez de maconha nos mercados) é muito esperado pelos usuários uruguaios, depois que o Parlamento do país aprovar, como está previsto, a primeira lei do mundo que legaliza o cultivo, a compra e a venda da substância.
Faltando a autorização do Senado uruguaio, o que irá acontecer nas próximas semanas - já que por enquanto o processo está em discussão na comissão de Saúde - os consumidores de maconha preparam uma "revolução" na forma como até o momento mantiveram o ato de fumar, as consequências de sua prática e sua interação com o resto da sociedade.
O projeto uruguaio legalizará a produção e venda de maconha em lojas especializadas, assim como o cultivo pessoal para, entre outras coisas, combater o narcotráfico e cobrir o vazio legal que existe até o momento, já que o consumo da droga não prevê prisão no país desde 1974, mas sim seu comércio e cultivo.
"A primeira grande mudança será a da mentalidade, sem dúvida, e essa afetará a todos, porque durante muitos anos vivemos o fato de cometer um delito por comprar e vender. O usuário se sentia um delinquente por comprar", explicou à Agência Efe Laura Blanco, presidente da Associação de Estudos de Cannabis do Uruguai .
Segundo Laura, esta mudança, para os cultivadores domésticos, terá o valor agregado de eliminar "a ameaça da prisão", uma mudança "não menos importante".
A supressão deste estigma também foi considerada importante por Pablo e Alejandro, dois usuários e cultivadores de cannabis consultados pela Efe, que se mostraram muito satisfeitos perante a ideia de não cometer mais um delito só por seguir com seu vício."Não é pouca mudança. E isso coloca o Uruguai em perspectiva em relação a outros países da região, nos quais, por plantar maconha para consumo próprio, sem prejudicar ninguém, você pode ser preso por até oito anos", contou Pablo.
A possibilidade de comprar em um estabelecimento autorizado foi considerada também muito positiva pelo cidadão espanhol que chegou ao Uruguai há três anos.
"Tenho mulher e um filho, e não tenho mais a mínima vontade de ir comprar maconha para meu consumo recreativo. O trato com traficantes é sempre cheio de problemas", reconheceu.
De acordo com números da Junta Nacional de Drogas, 20% dos uruguaios de idades entre 15 e 65 anos consumiu maconha alguma vez em sua vida e 8,3% o fez no último ano, o que revela a facilidade que qualquer um pode conseguir a droga no país.
Segundo comentaram à Agência Efe vários consumidores, a maconha paraguaia que é consumida no país - considerada "muito ruim" - pode ser conseguida com apenas uma ligação ou perguntando a qualquer "um que veja vagueando por praças ou parques".
"Antes de plantar, comprava 25 gramas de maconha por 500 pesos (aproximadamente R$ 50) a pessoas de confiança. Sei que agora está cerca de 700 pesos . Caso exista ainda, porque há um ano e meio há uma "seca" e quase não há oferta", declarou Alejandro.
Para este pai de dois filhos que cultiva em casa há dois anos, a eliminação da escassez pela nova lei, junto com a melhoria da qualidade do produto, serão dois atrativos que também resultarão da medida do governo, tal como a diminuição da renda do narcotráfico, que depende da necessidade das pessoas "pagarem por uma porcaria".
"Vai desanimar o traficante se o Estado procurar maconha a bom custo e de boa qualidade. Mas a marginalidade e os problemas com outras drogas não serão solucionados com esta medida", opinou.
Alejandro disse que aconteça o que acontecer com o "experimento" que será realizado no Uruguai, será positivo porque demonstrará que "legalizar não será o fim do mundo".
"E mais, acho que, pelo lado econômico, será bom para o país. Será investido dinheiro em pesquisa e produção de cannabis industrial. Estou convencido que pessoas com maior poder econômico que fumam maconha paraguaia refinarão seus gostos e terão prazer em pagar por produtos melhores ou farão esforços para plantá-los", concluiu.
Montevidéu - Um futuro sem prisões e sem "secas" (a temida escassez de maconha nos mercados) é muito esperado pelos usuários uruguaios, depois que o Parlamento do país aprovar, como está previsto, a primeira lei do mundo que legaliza o cultivo, a compra e a venda da substância.
Faltando a autorização do Senado uruguaio, o que irá acontecer nas próximas semanas - já que por enquanto o processo está em discussão na comissão de Saúde - os consumidores de maconha preparam uma "revolução" na forma como até o momento mantiveram o ato de fumar, as consequências de sua prática e sua interação com o resto da sociedade.
O projeto uruguaio legalizará a produção e venda de maconha em lojas especializadas, assim como o cultivo pessoal para, entre outras coisas, combater o narcotráfico e cobrir o vazio legal que existe até o momento, já que o consumo da droga não prevê prisão no país desde 1974, mas sim seu comércio e cultivo.
"A primeira grande mudança será a da mentalidade, sem dúvida, e essa afetará a todos, porque durante muitos anos vivemos o fato de cometer um delito por comprar e vender. O usuário se sentia um delinquente por comprar", explicou à Agência Efe Laura Blanco, presidente da Associação de Estudos de Cannabis do Uruguai .
Segundo Laura, esta mudança, para os cultivadores domésticos, terá o valor agregado de eliminar "a ameaça da prisão", uma mudança "não menos importante".
A supressão deste estigma também foi considerada importante por Pablo e Alejandro, dois usuários e cultivadores de cannabis consultados pela Efe, que se mostraram muito satisfeitos perante a ideia de não cometer mais um delito só por seguir com seu vício."Não é pouca mudança. E isso coloca o Uruguai em perspectiva em relação a outros países da região, nos quais, por plantar maconha para consumo próprio, sem prejudicar ninguém, você pode ser preso por até oito anos", contou Pablo.
A possibilidade de comprar em um estabelecimento autorizado foi considerada também muito positiva pelo cidadão espanhol que chegou ao Uruguai há três anos.
"Tenho mulher e um filho, e não tenho mais a mínima vontade de ir comprar maconha para meu consumo recreativo. O trato com traficantes é sempre cheio de problemas", reconheceu.
De acordo com números da Junta Nacional de Drogas, 20% dos uruguaios de idades entre 15 e 65 anos consumiu maconha alguma vez em sua vida e 8,3% o fez no último ano, o que revela a facilidade que qualquer um pode conseguir a droga no país.
Segundo comentaram à Agência Efe vários consumidores, a maconha paraguaia que é consumida no país - considerada "muito ruim" - pode ser conseguida com apenas uma ligação ou perguntando a qualquer "um que veja vagueando por praças ou parques".
"Antes de plantar, comprava 25 gramas de maconha por 500 pesos (aproximadamente R$ 50) a pessoas de confiança. Sei que agora está cerca de 700 pesos . Caso exista ainda, porque há um ano e meio há uma "seca" e quase não há oferta", declarou Alejandro.
Para este pai de dois filhos que cultiva em casa há dois anos, a eliminação da escassez pela nova lei, junto com a melhoria da qualidade do produto, serão dois atrativos que também resultarão da medida do governo, tal como a diminuição da renda do narcotráfico, que depende da necessidade das pessoas "pagarem por uma porcaria".
"Vai desanimar o traficante se o Estado procurar maconha a bom custo e de boa qualidade. Mas a marginalidade e os problemas com outras drogas não serão solucionados com esta medida", opinou.
Alejandro disse que aconteça o que acontecer com o "experimento" que será realizado no Uruguai, será positivo porque demonstrará que "legalizar não será o fim do mundo".
"E mais, acho que, pelo lado econômico, será bom para o país. Será investido dinheiro em pesquisa e produção de cannabis industrial. Estou convencido que pessoas com maior poder econômico que fumam maconha paraguaia refinarão seus gostos e terão prazer em pagar por produtos melhores ou farão esforços para plantá-los", concluiu.