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Com mais de 700.000 infectados, mundo espera chegar ao pico da pandemia

O coronavírus já provocou 34.000 mortes em todo mundo. Países adotam medidas mais duras de quarentena diante do avanço da doença

Coronavírus: com quase 11.000 mortes, a Itália é o país com o maior número de vítimas fatais (Alessandro Garofalo/Reuters)

Coronavírus: com quase 11.000 mortes, a Itália é o país com o maior número de vítimas fatais (Alessandro Garofalo/Reuters)

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AFP

Publicado em 30 de março de 2020 às 09h24.

Última atualização em 31 de março de 2020 às 21h22.

As populações de Moscou e de Lagos se uniram nesta segunda-feira (30) às mais de três bilhões de pessoas confinadas em suas casas para tentar conter a propagação do novo coronavírus, uma pandemia que já deixou mais de 700.000 infectados no planeta e que o presidente americano, Donald Trump, parou de minimizar.

A obrigatoriedade do confinamento para lutar contra a pandemia, que já provocou mais de 34.000 mortes, incluindo um bebê de menos de um ano nos Estados Unidos, é mais difícil de ser respeitada em vários países da África e da América Latina.

"Fiquem em casa!". Na Venezuela, a ordem repetida incessantemente na televisão estatal esbarra na realidade do país, onde 60% dos 30 milhões habitantes enfrentam a escassez de água, segundo a ONU.

Em um bairro popular de Caracas, era possível observar até 200 pessoas reunidas na rua aguardando para encher os baldes de água... em um hidrante.

Nos Estados Unidos, foram registrados 140.000 casos de contágio, dos mais de 700.000 declarados no mundo. Depois de passar dias relutando em admitir a dimensão da epidemia, o presidente Trump mudou totalmente de estratégia.

"Potencialmente 2,2 milhões de pessoas poderiam morrer de COVID-19, se não tivéssemos feito nada", admitiu no domingo (29).

De acordo com estimativas de seu conselheiro sobre a pandemia, o doutor Anthony Fauci, com quem parece ter um entendimento melhor agora, o novo coronavírus pode provocar "entre 100.000 e 200.000" mortes na maior potência mundial, contra quase 2.400 vítimas fatais até o momento.

"Como leprosos"

Com dois terços das vítimas fatais no mundo, a Europa continua sendo o continente mais afetado.

Em Moscou, onde aqueles que não respeitam as medidas de quarentena podem ser punidos com até cinco anos de prisão, o prefeito Serguei Sobyanin ordenou o confinamento total.

A partir desta segunda-feira, os 12,5 milhões de moscovitas podem sair de casa apenas por uma emergência médica, para ir ao trabalho em caso de necessidade, ao supermercado, ou à farmácia.

Espanha, segundo país com mais falecimentos pela COVID-19 depois da Itália, foram registradas 812 mortes nas últimas 24 horas, número um pouco menor depois do recorde registrado no domingo, de 838 óbitos.

Diante da situação alarmante, o governo espanhol endureceu o confinamento anunciado em 14 de março. A partir desta segunda-feira, todas as atividades não essenciais serão suspensas por pelo menos duas semanas.

Coronavírus: funcionário da saúde trabalha na transferência de pacientes entre países europeus

Com quase 11.000 mortes, a Itália, país com o maior número de vítimas fatais, registra uma leve desaceleração do avanço do vírus.

"Em todos os departamentos de emergência aconteceu uma redução da entrada de pacientes", declarou Giulio Gallera, secretário de Saúde da região da Lombardia, norte do país, a mais atingida do território.

Na vizinha França (mais de 2.600 mortos), a escassez de material afeta os hospitais, e as autoridades encomendaram um bilhão de máscaras, sobretudo da China.

Como acontece em outros países, a França começa a registrar uma crescente discriminação a respeito dos profissionais da saúde, que se tornaram alvos de suspeitas e até de ataques de vizinhos e pacientes que temem contrair a COVID-19.

"Estamos colocando nossas vidas em perigo para ajudar os demais e agora nos tratam como leprosos", lamenta Lucille, uma enfermeira que trabalha na região sudeste de Paris e que recebeu uma carta anônima com a exigência de que passe a fazer as compras fora da cidade e pare de passear com seu cão.

Com mais de 1.200 mortos e 20.000 casos confirmados, a epidemia também acelera no Reino Unido, cujas autoridades advertiram no domingo que o país pode demorar seis meses, ou mais, para retomar a vida normal após a pandemia.

Pico em duas semanas

Em Nova York, os bancos de alimentos estão recebendo cada vez mais pessoas que se encontram de repente sem recursos.

No famoso Central Park, está sendo instalado um hospital de campanha para receber 68 pessoas.

Ontem, o presidente Trump declarou que "o pico na taxa de mortalidade provavelmente acontecerá em duas semanas".

Na América Latina, onde foram registradas 338 mortes e 14.462 casos, vários países decidiram prorrogar as medidas de confinamento.

Coronavírus: funcionários da saúde trabalha na transferência de pacientes entre países europeus

A Argentina prorrogou o isolamento social obrigatório até 12 de abril, e a Guatemala também prolongou até a mesma data o toque de recolher parcial em vigor.

Em El Salvador, as restrições de deslocamento e de reunião prosseguirão até 13 de abril.

Nesta segunda-feira, dois cruzeiros com quatro mortos e várias pessoas infectadas pela COVID-19 atravessaram o Canal do Panamá com rumo incerto, depois que foram rejeitados em vários portos ante a expansão do coronavírus.

Morrer de fome

Na África, as autoridades da Nigéria, país mais populoso do continente, decretaram o confinamento total em Lagos, megalópole de 20 milhões de habitantes, assim como na capital Abuja, a partir desta segunda-feira à noite.

Até o momento, o país registrou quase 100 casos da doença, mas o número pode disparar rapidamente, advertiu o ministro da Informação, Lai Mohammed.

As medidas de confinamento provocam muita incompreensão e indignação na África subsaariana, onde grande parte da população vive com menos de dois dólares ao dia e depende da economia alternativa para sobreviver.

No Zimbábue, afetado por duas décadas de crise econômica, o confinamento de três semanas a partir desta segunda-feira promete ser particularmente doloroso para os 16 milhões de habitantes.

"Poucas pessoas podem pagar por uma refeição diária em tempos normais, afirmou Prince Gwanza, morador da capital. "Temo que as pessoas vão morrer de fome isoladas em casa", desabafou.

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