G20: encontro se estende até quarta-feira, 22. (Getty Images)
Repórter
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 06h30.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2024 às 06h55.
Nesta quarta-feira, 21, acontece a primeira reunião ministerial do G20 sob a presidência brasileira. O evento terá como sede a Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Entre as autoridades confirmadas, estão o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o chanceler russo, Sergei Lavrov. O encontro se estende até quinta-feira, 22, e é considerado o mais importante da Trilha de Sherpas antes da cúpula que reunirá chefes de Estado e de governo em novembro, também na capital fluminense.
Sherpas é o nome dado a uma etnia da região montanhosa do Nepal que tradicionalmente guia os alpinistas até o topo do Monte Everest. No G20, os sherpas são os líderes de cada país que encaminham as discussões e acordos até a cúpula final. O governo brasileiro indicou o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, para assumir esse papel.
A reunião de hoje começa às 14h e se estende até as 18h30. Na quinta, os debates acontecem de 8h às 13h. Na sexta, encerrada a reunião de chanceleres, começa o evento “Os Países do G20 e a Diplomacia dos Biocombustíveis”, organizado pela Universidade de Columbia em parceria com o Climate Hub, Columbia Global Center Rio e Prefeitura do Rio de Janeiro.
A cúpula final do G20 é só em novembro, mas a agenda até lá é cheia e bastante complexa. De acordos para uma ampla reforma na governança global até colocar o combate à pobreza e às mudanças climáticas no centro do debate, a ambição brasileira pode esbarrar em um clima tenso que se forma durante um período marcado por conflitos globais.
Um dos principais deles, o conflito entre Israel e Hamas, foi tema de recente polêmica que tornou o presidente Lula persona non grata em Israel. Em uma análise para o jornal The Guardian, o editor Patrick Wintour detalhou o emaranhado diplomático que envolve o cessar-fogo na região da Faixa de Gaza, que parece ter o consentimento das maiores nações mundiais. Mas como fazê-lo ainda é a grande questão.
Na última segunda, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU (Organização das Nações Unidas), Linda Thomas-Greenfield, justificou por que o país negou pela terceira vez o cessar-fogo proposto no Conselho de Segurança da ONU. "Exigir um cessar-fogo imediato e incondicional sem um acordo que exija que o Hamas liberte os reféns não trará uma paz duradoura”, disse, na ocasião.
Na análise do jornal inglês, a Alemanha e o Reino Unido, por outro lado, querem, sobretudo, o fim do Hamas. Os ministros de relações exteriores dos dois países, Annalena Baerbock e David Cameron, criaram até o termo "cessar fogo sustentável" em uma declaração conjunta -- o que, em outras palavras, significa um cessar-fogo depois que o Hamas não existir mais na Faixa de Gaza.
Por fim, o The Guardian avalia que os próximos capítulos dessa história, que vem se prolongando há um tempo, pode acontecer em terras cariocas, durante o encontro de chanceleres no G20. À EXAME, o professor de Relações Internacionais do Insper, Leandro Consentino, diz que o evento se torna uma arena onde os países podem dialogar sobre estes conflitos, mesmo que não estejam diretamente envolvidos.
Israel não faz parte do G20, e a Palestina sequer é um país. "Mesmo assim, temos o impacto dos países que vão participar do evento e se mobilizar para apontar soluções para as dificuldades oriundas deste conflito. E, com relação à fala de Lula, certamente ela pode ser repudiada em algum contexto. Ou pode ser até que o Brasil ganhe apoio de outros atores, sobretudo aqueles que não estão alinhados ao Ocidente", avalia Leandro.
Prestes a completar dois anos, a guerra entre Rússia e Ucrânia está mais diretamente relacionada ao G20, já que o chanceler russo estará presente. "Aí, o que devemos observar é que postura o Brasil e os outros tomarão diante das declarações russas. Potências como os Estados Unidos devem se perfilar do lado ucraniano, o que arma uma arena importante para estes debates", afirma o professor.
Mas, por fim, o grande "bode na sala", para Leandro Consentino, são as eleições que ocorrem ao redor do mundo em 2024. Caso Donald Trump ganhe as eleições para a presidência dos EUA, por exemplo, tudo muda de tom e a conversa sobre os conflitos citados passa a ser completamente outra.