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Líder do Hezbollah defende ataque do Hamas contra Israel e o chama de 'guerra santa'

Comunidade internacional termia que o possível envolvimento do grupo islâmico daria uma nova escala à guerra entre Israel e o Hamas

Guerra em Israel: ataques do Hamas começaram em 7 de outubro no sul do país (AFP/AFP)

Guerra em Israel: ataques do Hamas começaram em 7 de outubro no sul do país (AFP/AFP)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 3 de novembro de 2023 às 15h22.

Última atualização em 3 de novembro de 2023 às 15h23.

Em Beirute, uma multidão acompanhava o esperado discurso de Hassan Nasrallah, chefe do grupo radical islâmico Hezbollah, que é financiado pelo Irã e tem trocado disparos com Israel na fronteira com o Líbano.

A expectativa era grande, e não só na capital libanesa: o mundo inteiro observou com atenção, em meio ao temor de que a guerra pudesse ganhar uma nova escala com a entrada oficial do Hezbollah no conflito - o que não aconteceu, pelo menos até agora.

"Todas as opções estão na mesa. Devemos estar preparados para todas as possibilidades no futuro", ameaçou Nasrallah. "O desenvolvimento na fronteira com o Líbano depende do que vai acontecer em Gaza."

Apesar de negar qualquer envolvimento no ataque terrorista do Hamas, exaltado por ele como uma "operação bem-sucedida", o chefe do Hezbollah disse que eles entraram na batalha no dia seguinte, com os disparos na fronteira que "podem parecer modestos, mas são muito significativos", pois, segundo ele, tiram o foco de Gaza e obrigam Israel a manter tropas também no norte do país.

"A operação de 7 de outubro (o ataque terrorista do Hamas a Israel) foi planejada em total sigilo, nem outras facções palestinas tiveram conhecimento, muito menos os movimentos de resistência em outros países", disse ele. "A comunidade internacional continua trazendo à tona o Irã, mas o 7 de outubro foi uma operação 100% palestina, planejada e executada por palestinos para a causa palestina, sem qualquer relação com questões internacionais ou regionais", acrescentou, antes de exaltar a chamada Operação Inundação Al-Aqsa - nome dado pelo Hamas ao ataque terrorista - como "certa, corajosa e no tempo certo".

Nasrallah definiu o conflito como "guerra santa", saudou o que chamou de mártires, criticou a comunidade internacional por "ignorar os crimes de Israel contra os palestinos" e alegou que civis de Israel teriam sido mortos pelos próprios militares israelenses, não pelos terroristas do Hamas, no dia 7 de outubro.

Discurso mais 'moderado' que o esperado

Em resumo, o recado foi o seguinte: o Hezbollah apoia o Hamas, mas não vai entrar na guerra de maneira efetiva, como se temia. Analistas ouvidos pelo Estadão acreditam que esse discurso mais "moderado" que o esperado é o resultado de pressões externas.

O professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan acredita que uma operação de bastidores de Estados Unidos e China teve impacto sobre o Irã, o grande ator por trás dos radicais islâmicos. E lembra que o chanceler chinês, Wang Yi, esteve em Washington na semana passada para discutir interesses em comum com os EUA, como a contenção da crise no Oriente Médio.

"É evidente que o Hezbollah atua por procuração do Irã", pontua Trevisan. "E o Irã não tem nenhum interesse de queimar a aproximação com a China, que de alguma forma se comprometeu em atuar junto a diplomacia americana para conter os ânimos no Oriente Médio. Isso não significa uma declaração de paz entre Washington e Pequim, mas a escalada do conflito não interessa aos EUA, e muito menos a China, que precisa retomar o seu crescimento e sofreria com os impactos que uma guerra ampliada no Oriente Médio teria com a explosão do preço do petróleo e o enfraquecimento da atividade econômica no mundo inteiro".

O professor do IBMEC, Christopher Mendonça concorda que o tom "ameno" para o Hezbollah, que é um grupo extremista islâmico, tem a ver com atores externos, mas acredita que essa pressão vem do mundo árabe, que não se mostrou disposto a entrar na guerra. "O grande medo dos árabes mais moderados é a escalada do conflito, que já entrou em uma fase crítica com a incursão terrestre de Israel na Faixa de Gaza. Não há interesse em uma guerra regional", aponta o professor.

Embora essa espiral da violência pelo Oriente Médio não interesse a ninguém, Mendonça acredita que ainda é cedo para descartar uma aliança de grupos extremistas em apoio ao Hamas, como sugeriu Nasrallah ao deixar em aberto que "considerada todas as possibilidades".

"Israel já anunciou o cerco à Cidade de Gaza e deixou claro que não vai retroceder. Os bombardeios tem se intensificado e as imagens que chegam do enclave palestino podem despertar o sentimento de vingança da chamada irmandade mulçumana. Não descarto que ainda possa haver uma unificação desses grupos", alertou.

Para o analista, alguns pontos do discurso evidenciam que o Hezbollah ainda representa uma ameaça. Exemplos disso são a crítica à defesa de Israel, que Nasrallah chamou de "mais fraca que uma teia de aranha" ou o tom desafiador com os Estados Unidos, resumido na afirmação de que o grupo extremista não será "intimidado" pelos EUA, nem pelos navios de guerra que posicionou no Oriente Médio.

O poder de fogo do Hezbollah

O Hezbollah é um grupo radical islâmico, que tem atuado politicamente no Líbano e mantém o controle sobre parte do país, mesmo depois de uma recente derrota eleitoral. Mas é também uma força paramilitar, que opera com financiamento do Irã e se envolveu em atentados nas últimas décadas.

A força estimada do Hezbollah é de 50 mil a 100 mil combatentes, além de um vasto arsenal com 200 mil armas, incluindo mísseis de alta precisão, aponta o Instituto de Estudos para Segurança Nacional, think tank com sede em Tel-Aviv. "Isso tudo exige que estejamos em alerta contínuo para as intenções do Hezbollah", destacou o analista associado ao instituto Yehoshua Kalisky, em artigo publicado no mês passado, depois do ataque terrorista do Hamas que matou mais de 1,4 mil pessoas em Israel.

Um conflito com o Hezbollah não seria inédito. Em 2006, as tropas de Israel invadiram o sul do Líbano, depois que os radicais islâmicos lançaram foguetes na fronteira e sequestraram dois soldados israelenses. O conflito se arrastou por 34 dias e matou quase 1,2 mil pessoas, apontou uma investigação conduzida pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.

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