Ernesto Araújo: o Ministro receberá seu par argentino, que espera receber ajuda para negociar uma dívida de US$ 44 bi com o FMI (Wilson Dias/Agência Brasil/Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2020 às 05h41.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2020 às 06h24.
São Paulo — Depois de uma intensa troca de farpas entre presidentes e de um estremecimento nas relações bilaterais entre Brasil e Argentina, o principal parceiro comercial brasileiro na América do Sul tenta deixar as ideologias de lado e reatar a amizade.
Nesta quarta-feira, 12, o chanceler argentino, Felipe Solá, encontrará seu par brasileiro, o Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, e a expectativa é que os diplomatas comecem uma reaproximação entre os países vizinhos.
Solá está em Brasília desde a noite de terça-feira, 11. Em entrevista antes de embarcar para a capital brasileira, o chanceler afirmou que “a ideologia nunca deve ser um obstáculo para o diálogo” e disse que as bases do governo argentino não atrapalharão os assuntos externos do país.
“A nossa postura não tem a ver com a política interna argentina. Se a metade daqueles que nos votaram quer que nós insultemos o Bolsonaro, isso não nos interessa. Pagaremos o custo que for. O importante é que não se aprofunde a distância com o Brasil”, disse.
Durante a campanha presidencial no argentina, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro apoiou publicamente a reeleição de Maurício Macri, derrotado pelo peronist
a Alberto Fernández ainda em primeiro turno. Bolsonaro também foi um dos poucos presidentes sul-americanos que não compareceram à posse de Fernández. Por sua vez, o par argentino respondeu às críticas brasileiras acusando Bolsonaro de ser “racista, misógino e violento”.
Fernández também visitou no ano passado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquanto ele ainda estava preso em Curitiba, ajudando a inflar a rivalidade entre os governantes.
Um dos principais pontos que devem ser discutidos durante o encontro de hoje é o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, assinado em 2019 após 20 anos de negociações. Após a eleição de Fernández, a posição mais protecionista do novo governo acendeu um sinal de alerta para o Brasil.
Ao mesmo tempo em que é totalmente favorável ao acordo, o Brasil vem criando algumas barreiras para si mesmo: declarações do presidente Bolsonaro e a visão de que o Brasil não está fazendo o suficiente vêm aumentando a resistência dos europeus em chancelar o acordo.
Para a Argentina, como o acordo deve demorar pelo menos dois anos para ser ratificado por todos os países europeus, uma agenda estratégica conjunta entre Brasil e Argentina é o que deve ser priorizado nesse momento. Segundo Solá, o país também pedirá apoio ao Brasil para ter melhores condições em negociar sua dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional.
Pelo lado do Brasil, os argentinos são o terceiro maior parceiro comercial brasileiro, atrás de China e Estados Unidos, e cruciais para as exportações de setores como o automotivo. Ao menos discurso, a postura da Argentina deve ser de tentar erguer uma bandeira branca. A dúvida é se encontrará reciprocidade brasileira.