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Carros autônomos: ceticismo em alta

De adolescentes viciados em celulares a pesquisadores projetando a próxima geração de veículos sem motorista, existe uma bela quantidade de ceticismo entre os consumidores quando se trata de soltar o volante e permitir que o automóvel dirija, apontam várias pesquisas realizadas no ano passado. Até mesmo os engenheiros têm algumas apreensões. “Não vejo problema em […]

O PROFESSOR JEFFREY MILLER: vou deixar um carro levar meus filhos para a escola? / ake Michaels/The New York Times

O PROFESSOR JEFFREY MILLER: vou deixar um carro levar meus filhos para a escola? / ake Michaels/The New York Times

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Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2016 às 16h20.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h08.

De adolescentes viciados em celulares a pesquisadores projetando a próxima geração de veículos sem motorista, existe uma bela quantidade de ceticismo entre os consumidores quando se trata de soltar o volante e permitir que o automóvel dirija, apontam várias pesquisas realizadas no ano passado. Até mesmo os engenheiros têm algumas apreensões.

“Não vejo problema em deixar um carro assumir o controle. Mas deixar um carro levar meus filhos para a escola? Você está falando de pessoas que não têm a habilidade de assumir o volante se algo der errado. Não me sinto à vontade com isso”, diz Jeffrey Miller, professor adjunto de Engenharia da Universidade do Sul da Califórnia.

Esse sentimento se revelou em um levantamento com mais de 400 entrevistados da IEEE, organização profissional de engenharia, que nasceu de uma mesa-redonda da qual Miller participou. Em uma escala de um a cinco – com “muito confortável” sendo cinco – mais de dois terços dos especialistas no estudo afirmaram não estar prontos para ter um automóvel robótico bancando a babá, dando no máximo três para o conceito. Isso está longe de ser um apoio retumbante dos engenheiros aos carros que se dirigem sozinhos.

“Não é a tecnologia. É a aceitação do usuário o que nos detém agora”, assegura Miller. O que não quer dizer que especialistas e clientes não vejam benefícios potenciais. Scott Fischer, 55 anos, diretor-executivo de uma empresa de recrutamento em Chicago, prevê uma série uma situações nas quais veículos autônomos possam ser uma grande vantagem. “Não sou cético quanto a isso”, diz ele.

Fischer, que também participou de um estudo com motoristas idosos realizado pelo Laboratório da Idade do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e o Centro Hartford para Excelência do Mercado Maduro, que integra a seguradora Hartford, acredita que veículos autônomos poderiam lhe dar maior tranquilidade em relação às suas duas filhas, que já fizeram 20 anos e têm pouca experiência ao volante. “Elas não dirigem muito, usam o Uber, então eu vejo aspectos de segurança.”

Para seu pai, que tem mais de 80 anos e enfrenta desafios ao dirigir por causa de problemas de visão, um veículo autônomo seria uma forma de se locomover sozinho, acredita Fischer. Quanto a ele, deixaria o carro assumir quando estivesse cansado durante uma viagem longa ou se precisasse ler um e-mail. “Mas quero ver uma prova de conceito de que a tecnologia realmente funciona”, acrescentou.

Joseph Coughlin, diretor do Laboratório de Idade do MIT, explica que entre os participantes do estudo, cuja idade variou entre 50 e 69 anos, não havia aversão pura e simples na direção auxiliada pela tecnologia. “Se virem como uma melhoria de segurança útil, essas pessoas aceitariam pagar por ela”, explica.

Jodi Olshevski, gerontóloga e diretora executiva do Centro Hartford, conta que, em geral, pessoas com mais de 50 anos expressaram maior interesse em tecnologia que alerte os motoristas de veículos em pontos cegos. “Eles se sentiram naturalmente atraídos porque costuma haver uma redução no alcance do movimento” em motoristas idosos, observa ela.

Ainda assim, mesmo motoristas idosos hesitaram em abrir mão do controle total. No estudo do MIT, a maioria estava mais disposta a aceitar o estacionamento automático e sistemas de auxílio em viagens, preocupados com o fato de que se tornem dependentes demais da tecnologia à custa da habilidade na direção.

Existe também o romantismo da Rota 66 que muitos norte-americanos idosos ainda têm em relação ao automóvel. “A geração do pós-guerra tem paixão pelo carro. Por outro lado, a geração atual prefere papear pela internet, estando mais receptiva à tecnologia”, afirma Raj Rajkumar, professor de Engenharia da Universidade Carnegie Mellon e pesquisador tarimbado em veículos autônomos.

Nesse cenário, fabricantes consagrados de automóveis podem estar em pé de igualdade com as empresas de tecnologia. Um estudo automotivo da Nielsen com mais de 1.100 participantes com idades entre oito e 18 anos constatou que havia interesse igual em comprar um carro autônomo de uma empresa de tecnologia, tal como Google ou Apple, quanto na aquisição de uma fabricante como Ford ou General Motors.

De acordo com o estudo de impacto Autotrader Car Tech de 2016, quase dois terços dos consumidores trocariam de marca para conseguir a tecnologia desejada. “Mas completamente agnóstico em termos de marca, não acredito que pessoas já estejam comprando assim”, diz Brian Moody, diretor executivo da Autotrader.

Mãos no volante 

Mais revelador, talvez, é que quase dois terços dos consumidores no levantamento da Autotrader admitiram que não se sentiriam confiantes o bastante em um carro autônomo a ponto de tirar os olhos da rua.

Até os participantes jovens no estudo da Nielsen pareciam relutantes em tirar as mãos do volante, principalmente estudantes do ensino médio com habilitação. Quase 75 por cento dos motoristas do ensino médio preferem dirigir eles mesmos, aponta o estudo. E um terço dos entrevistados declarou que carros autônomos eram desnecessários.

Isso pode refletir o fato que quem tem uma carteira de habilitação nova em folha pode estar particularmente relutante em abrir mão da nova independência, diz Mike VanNieuwkuyk, vice-presidente do setor automotivo da Nielsen. VanNieuwkuyk também observou que os motoristas jovens ainda não acumulam centenas de horas chatas presos no tráfego nem tiveram de sofrer com o ritual diário de deslocamentos monótonos.

“Mesmo assim, os jovens são os beneficiários potenciais. Eles têm maior aceitação; já são passageiros e estão mais envolvidos com a tecnologia”, declara VanNieuwkuyk. Os vários estudos também refletem uma divisão abrupta entre quem adora dirigir e quem acha que é uma atividade estressante.

“Existem pessoas que querem entrar no banco traseiro e dormir, enquanto outros falam: ‘Um robô não vai dirigir o meu carro'”, diz Ken Washington, vice-presidente da divisão de pesquisa e engenharia avançada da Ford.

A maioria dos pesquisadores e especialistas automotivos acredita que a atitude do motorista vai mudar à medida que sistemas de segurança mais avançados e semiautônomos forem lançados nos modelos novos. Aprender como os sistemas funcionam e seus benefícios também vai ajudar.

E Rajkumar, da Carnegie Mellon, afirma: “E só pensar em ficar preso em um congestionamento. Aí você começa a ver a luz”.

(John R. Quain) 

© 2016 New York Times News Service

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