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Candidato líder na Colômbia sofre ameaças de morte — entenda o caso

O senador Gustavo Petro tem sofrido ameaças às vésperas da eleição presidencial, em uma Colômbia marcada por histórico de violência contra candidatos

Gustavo Petro: presidenciável da frente de esquerda Pacto Histórico lidera nas pesquisas (Guillermo Legaria/Getty Images)

Gustavo Petro: presidenciável da frente de esquerda Pacto Histórico lidera nas pesquisas (Guillermo Legaria/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 15 de maio de 2022 às 12h24.

Última atualização em 15 de maio de 2022 às 12h51.

A Colômbia vai às urnas nas eleições presidenciais em menos de 15 dias, com primeiro turno em 29 de maio. Mas para além das propostas, debates e intrigas entre os candidatos líderes, as próximas semanas serão marcadas por outro tipo de tensão que não deveria ser um tema nas democracias: a segurança dos candidatos, sobretudo do líder nas pesquisas, o senador de esquerda Gustavo Petro.

Aos 62 anos, Petro tem mais de 35% e até 40% dos votos em algumas pesquisas recentes. O segundo colocado, o direitista Federico "Fico" Gutiérrez, tem cerca de 20%.

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No começo de maio, Petro cancelou um evento afirmando que havia um plano para assassiná-lo. Sua equipe aponta que o atentado seria levado a cabo pelo grupo paramilitar La Cordillera.

Por meses, Petro também tem ido a eventos com colete à prova de balas e só anuncia o lugar para onde irá de última hora, ainda que a custo de ter presença menor de apoiadores.

A preocupação vem sobretudo do histórico triste da Colômbia em relação à violência contra políticos. No último século, cinco candidatos  presidenciais (todos de esquerda ou reformistas liberais) foram assassinados antes das eleições.

Quatro dos atentados a presidenciáveis, além de inúmeros contra outros políticos, ocorreram quando o narcotraficante Pablo Escobar comandava o cartel de Medellín e estava em combate ferrenho contra a elite política do país.

Após uma das eleições nos anos 1980, foi assassinado o candidato Jaime Pardo Leal, que havia disputado o pleito presidencial por uma frente ampla de esquerda. Leal foi morto ainda antes das eleições de 1990, que seria depois a mais violenta da história, custando a vida de outros três candidatos.

VEJA TAMBÉM: Ascensão eleitoral da esquerda gera oposição de militares na Colômbia

Antes dos tempos de Escobar, um dos casos mais lembrados é o de Jorge Eliécer Gaitán, morto em 1948 enquanto era o favorito para vencer as eleições. Seu assassinato levou a dias de protestos intensos na Colômbia e milhares de mortes nos embates com policiais, conhecido como "Bogotazo".

Há o temor de que um eventual ataque a Petro poderia ter o mesmo efeito. A Colômbia já vive instabilidade política depois de ondas de protestos nos últimos anos.

Se eleito, Petro será o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia. Na história recente, desde os anos 2000, o país tem sido comandado pelo grupo político do ex-presidente de direita Álvaro Uribe, que elegeu dois sucessores.

O atual presidente colombiano, Iván Duque (que é opositor ferrenho de Petro e contra quem disputou as eleições em 2018), disse que não há "nenhuma informação dos corpos de inteligência que valide essa informação" sobre ameaças ao senador, mas que o governo vai investigar o caso.

O ex-presidente Uribe foi mais duro e criticou Petro por, segundo ele, desejar desviar a atenção da campanha. Dias depois, disse na última semana temer também pela segurança do segundo colocado, Fico Gutierrez, e afirmou que recebeu "informação séria" de que sua vida poderia estar em risco.

Federico Gutierrez: em meio às discussõe sobre Petro, Uribe disse que o segundo colocado também está ameaçado (Ivan Arroyo Mora/Bloomberg/Getty Images)

Em outra frente, Petro também entrou em choque nas últimas semanas com o alto comando das Forças Armadas. O candidato lamentou um caso de soldados mortos, possivelmente por milícias, e citou denúncias de que ex-militares e policiais estariam envolvidos nestes grupos paramilitares.

O comandante do exército, general Eduardo Zapateiro, o acusou de "politicagem" e de aproveitamento eleitoral da morte de soldados.

Como resultado de seus comentários, Zapateiro enfrenta uma investigação preliminar por intervir na política, o que é proibido. Como a EXAME mostrou, analistas têm apontado que as Forças Armadas estão mais ativas nesta eleição do que o fazem historicamente, em meio à forte oposição dos militares a Petro, que é ex-guerrilheiro.

O presidente Iván Duque saiu em apoio do general, assim como o ministro da Defesa, Diego Molano, que chamou Petro de "mentiroso".

VEJA TAMBÉM: A reação na Colômbia à morte de Freddy Rincón — e o que diz sobre eleição no país

As eleições neste ano na Colômbia podem ser mais imprevisíveis do que o normal em meio à queda de popularidade do grupo político de Uribe, que não tem um sucessor no páreo pela primeira vez em 20 anos.

Fico Gutierrez terminou sendo o nome preferido da direita, mas nega que seja o candidato de Uribe em meio à ampla rejeição ao grupo no momento.

Apoiador em campanha de Petro, em 11 de maio: presidenciável tem ido a eventos com segurança reforçada e localização não revelada anteriormente (Guillermo Legaria/Getty Images)

Uribe presidiu o país entre 2002 e 2010, em um período que ficou sobretudo marcado por uma guerra frontal contra as guerrilhas na selva colombiana — pelo que o ex-mandatário carrega até hoje uma extensa legião de defensores, mas também de muitos críticos.

Depois, Uribe elegeu seu sucessor escolhido, Juan Manuel Santos (2010-2018), com quem romperia mais tarde por um acordo de paz com as Farc que rendeu a Santos o prêmio Nobel da Paz. Uribe voltaria então a eleger seu candidato na eleição seguinte, em 2018, quando Iván Duque foi o vencedor. 

VEJA TAMBÉM: Uribe, ex-presidente da Colômbia: direita não pode esquecer do social

Mas Duque sofre alta rejeição e foi um dos principais alvos dos protestos que tomaram a Colômbia em 2021 e, antes disso, em 2019, na chamada "primavera colombiana".

O governo Duque foi criticado pela violência policial, com mais de 60 mortos em todo o país, a maioria civis.

Além de Fico, há ainda outros candidatos na disputa, tentando angariar os votos dos que rejeitam Petro, mas com 10% ou menos dos votos cada. No segundo turno, a tendência é que parte desses eleitores migrem para Fico, o que deve tornar a disputa acirrada, e também com alto percentual de votos brancos e nulos.

Petro defende pautas como redução da dependência colombiana do carvão, investimento em energias renováveis e promete redução de desigualdades com tributação mais rigorosa sobre os mais ricos. A política tributária pesada para a classe média e não para os mais ricos foi um dos pontos centrais dos protestos do ano passado, que começaram após uma proposta de reforma tributária do governo Duque.

Também tem o plano de oferecer empregos públicos a todos os desempregados (a taxa de desemprego na Colômbia soma 12%).

As propostas do senador de esquerda - que no passado foi guerrilheiro e hoje moderou parte do discurso - vão em linha com nomes da nova esquerda da América do Sul, como o presidente do Chile, Gabriel Boric. Petro visitou Boric na posse do novo presidente chileno neste ano, e Boric disse que espera poder colaborar com Petro se o colombiano for eleito.

O ex-presidente brasileiro Lula também citou Petro em entrevista à revista TIME e elogiou o colombiano, mas disse discordar de sua proposta de caminhar para eliminar o uso de petróleo, afirmando que isso ainda não é possível no Brasil.

O grupo de Petro foi o grande vitorioso das eleições legislativas da Colômbia realizadas neste ano. A aliança Pacto Histórico, liderada por Petro, empatou com os conservadores e liberais em força no Senado e na Câmara, um resultado sem precedentes na história recente.

Apesar da vitória legislativa, a missão da oposição na eleição presidencial será difícil. Petro já havia aparecido como promessa nas eleições de 2018, mas terminou derrotado pelo atual presidente Duque. No segundo turno, em junho, os embates que se desenham entre Petro e Fico devem ser intensos.

Mas a esperança, para a democracia na região, é que os debates ocorram nas urnas, e jamais com violência fora delas.

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