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Camponeses sofrem com doença renal ligada a agrotóxicos

Doença renal crônica que matou pelo menos 15 mil pessoas na última década em El Salvador pode estar ligada ao uso de agrotóxicos

Agricultora de El Salvador, com criança: autoridades sanitárias da América Central têm advertido que a doença é um "sério problema" de saúde pública (Jose Cabezas/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2013 às 14h31.

San Luis Talpa - Tomasa Lovo, uma camponesa salvadorenha de pele curtida pelos anos trabalhando sob o sol em plantações de milho e algodão , chora, impotente: ela e os cinco filhos lutam contra uma doença renal crônica, que matou pelo menos 15 mil pessoas na última década, e cujas causas podem estar ligadas ao uso de agrotóxicos.

A mulher, de 66 anos, visita uma vez por semana uma clínica do município de San Luis Talpa, 39 km ao sul de San Salvador, para se tratar da doença, em fase inicial.

"Choro toda vez que vejo que eu e meus filhos estamos doentes", diz Lovo à AFP, enquanto aguarda uma avaliação médica na clínica habilitada pelo prefeito Salvador Meléndez diante da grande quantidade de doentes renais da cidade.

Ali são atendidos gratuitamente cerca de dez pacientes em fase inicial. Os que exigem tratamentos mais complexos, como diálises ou hemodiálises, são levados para hospitais públicos de San Salvador.

Mas o problema não é exclusivo deste país e se espalha pela região. Segundo a Organização Pan-americana da Saúde (OPS), há 3.100 pessoas em tratamento em El Salvador, mais de 3.000 na Guatemala, 1.800 no Panamá e 1.000 na Nicarágua. A entidade não detalha números de Honduras e Costa Rica, embora também haja afetados.

Autoridades sanitárias da América Central têm advertido que a doença é um "sério problema" de saúde pública e parece estar associada a "contaminantes ambientais e riscos trabalhistas", em consequência das más condições de trabalho e da hidratação insuficiente dos camponeses expostos a altas temperaturas, alertou a OPS na semana passada.


Sob um sol escaldante no meio de um milharal, Adolfo Chicas, de 63 anos, conta à AFP que a energia que tinha desde criança para trabalhar no campo lhe falta devido à insuficiência renal que há cinco anos tira suas forças.

"Graças a Deus, continuo vivo. Tenho dificuldades em trabalhar com esta doença, as forças escapam e pouco a pouco a gente sente que a vida encurta", diz, com a voz fraca.

A doença aparece em seu rosto pálido e murcho, no corpo magro e no caminhar lento. Ele se submete a diálise duas vezes por semana em um hospital público de El Salvador.

San Luis Talpa, cidade com 21.675 habitantes, fica perto do litoral e é uma das regiões agrícolas de El Salvador mais afetadas pela doença que, segundo o prefeito, já matou 62 pessoas este ano.

A ministra da Saúde, Isabel Rodríguez, afirmou que "muito provavelmente" o uso de defensivos agrícolas seria uma causa da doença neste local.

De 2002 a 2012, 6.079 salvadorenhos morreram de insuficiência real, uma das principais causas de morte hospitalar. No ano passado os mortos foram 783.

A situação também é grave na Nicarágua, onde a maioria dos doentes renais é ou foi trabalhador da indústria açucareira nos departamentos (estados) de Chinandega, León e Managua.

Entre 2000 e 2013, quinze mil pessoas que trabalhavam com o cultivo da cana foram diagnosticados com insuficiência renal na Nicarágua, das quais 8.000 já morreram, segundo o sindicato.


"A doença foi provocada pela contaminação da água em consequência da quantidade de pesticidas", garante à AFP Carmen Ríos, líder dos trabalhadores de cana afetados pela doença, que levaram seu pai, seu marido e um irmão.

Na Guatemala, entre 2004 e 2010, foram registrados 800 mortos, 250 deles só em 2010, segundo números oficiais.

A Costa Rica também não escapa do problema. O aumento de casos levou a oposição a pedir que o governo declare emergência sanitária na província de Guanacaste, na fronteira com a Nicarágua, onde, segundo a deputada Yolanda Acuña, os trabalhadores da cana-de-açúcar são, inclusive, demitidos por estar doentes.

Registros da Caixa Costa-riquenha de Seguro Social revelam que, enquanto a média nacional de doentes renais é de 5 por 10.000 habitantes, nesta região chega a 45 por 10.000, enquanto a mortalidade masculina é cinco vezes maior que o restante do país.

No entanto, ainda não está claro porque a doença aparece com mais prevalência em zonas agrícolas. Os poucos estudos não são conclusivos, explicou à AFP a nefrologista Carolina Cruz, do hospital estadual Rosales, o mais importante de El Salvador.

"Não podemos afirmar que a insuficiência renal é causada diretamente pelos agrotóxicos. (Estes) estariam relacionados, mas há outras variáveis como diabetes ou hipertensão arterial que devem ser consideradas", concluiu Cruz.

No entanto, Lovo e Chicas não têm dúvidas. "Estes (produtos) químicos acabaram com nossa vida", diz a camponesa, enquanto aperta as mãos ásperas de tanto trabalhar a terra, ao se referir também aos filhos Miguel, Maria, Manuel, Juan Antonio e Amadeo, com idades entre os 32 e os 50 anos.

A doença avança e os afetados pedem ações urgentes. Nos arredores de San Luis Talpa há uma fábrica de agroquímicos fechada desde 1994. Ainda hoje, um mau cheiro emana dos cerca de vinte barris abandonados no local.

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A mulher, de 66 anos, visita uma vez por semana uma clínica do município de San Luis Talpa, 39 km ao sul de San Salvador, para se tratar da doença, em fase inicial.

"Choro toda vez que vejo que eu e meus filhos estamos doentes", diz Lovo à AFP, enquanto aguarda uma avaliação médica na clínica habilitada pelo prefeito Salvador Meléndez diante da grande quantidade de doentes renais da cidade.

Ali são atendidos gratuitamente cerca de dez pacientes em fase inicial. Os que exigem tratamentos mais complexos, como diálises ou hemodiálises, são levados para hospitais públicos de San Salvador.

Mas o problema não é exclusivo deste país e se espalha pela região. Segundo a Organização Pan-americana da Saúde (OPS), há 3.100 pessoas em tratamento em El Salvador, mais de 3.000 na Guatemala, 1.800 no Panamá e 1.000 na Nicarágua. A entidade não detalha números de Honduras e Costa Rica, embora também haja afetados.

Autoridades sanitárias da América Central têm advertido que a doença é um "sério problema" de saúde pública e parece estar associada a "contaminantes ambientais e riscos trabalhistas", em consequência das más condições de trabalho e da hidratação insuficiente dos camponeses expostos a altas temperaturas, alertou a OPS na semana passada.


Sob um sol escaldante no meio de um milharal, Adolfo Chicas, de 63 anos, conta à AFP que a energia que tinha desde criança para trabalhar no campo lhe falta devido à insuficiência renal que há cinco anos tira suas forças.

"Graças a Deus, continuo vivo. Tenho dificuldades em trabalhar com esta doença, as forças escapam e pouco a pouco a gente sente que a vida encurta", diz, com a voz fraca.

A doença aparece em seu rosto pálido e murcho, no corpo magro e no caminhar lento. Ele se submete a diálise duas vezes por semana em um hospital público de El Salvador.

San Luis Talpa, cidade com 21.675 habitantes, fica perto do litoral e é uma das regiões agrícolas de El Salvador mais afetadas pela doença que, segundo o prefeito, já matou 62 pessoas este ano.

A ministra da Saúde, Isabel Rodríguez, afirmou que "muito provavelmente" o uso de defensivos agrícolas seria uma causa da doença neste local.

De 2002 a 2012, 6.079 salvadorenhos morreram de insuficiência real, uma das principais causas de morte hospitalar. No ano passado os mortos foram 783.

A situação também é grave na Nicarágua, onde a maioria dos doentes renais é ou foi trabalhador da indústria açucareira nos departamentos (estados) de Chinandega, León e Managua.

Entre 2000 e 2013, quinze mil pessoas que trabalhavam com o cultivo da cana foram diagnosticados com insuficiência renal na Nicarágua, das quais 8.000 já morreram, segundo o sindicato.


"A doença foi provocada pela contaminação da água em consequência da quantidade de pesticidas", garante à AFP Carmen Ríos, líder dos trabalhadores de cana afetados pela doença, que levaram seu pai, seu marido e um irmão.

Na Guatemala, entre 2004 e 2010, foram registrados 800 mortos, 250 deles só em 2010, segundo números oficiais.

A Costa Rica também não escapa do problema. O aumento de casos levou a oposição a pedir que o governo declare emergência sanitária na província de Guanacaste, na fronteira com a Nicarágua, onde, segundo a deputada Yolanda Acuña, os trabalhadores da cana-de-açúcar são, inclusive, demitidos por estar doentes.

Registros da Caixa Costa-riquenha de Seguro Social revelam que, enquanto a média nacional de doentes renais é de 5 por 10.000 habitantes, nesta região chega a 45 por 10.000, enquanto a mortalidade masculina é cinco vezes maior que o restante do país.

No entanto, ainda não está claro porque a doença aparece com mais prevalência em zonas agrícolas. Os poucos estudos não são conclusivos, explicou à AFP a nefrologista Carolina Cruz, do hospital estadual Rosales, o mais importante de El Salvador.

"Não podemos afirmar que a insuficiência renal é causada diretamente pelos agrotóxicos. (Estes) estariam relacionados, mas há outras variáveis como diabetes ou hipertensão arterial que devem ser consideradas", concluiu Cruz.

No entanto, Lovo e Chicas não têm dúvidas. "Estes (produtos) químicos acabaram com nossa vida", diz a camponesa, enquanto aperta as mãos ásperas de tanto trabalhar a terra, ao se referir também aos filhos Miguel, Maria, Manuel, Juan Antonio e Amadeo, com idades entre os 32 e os 50 anos.

A doença avança e os afetados pedem ações urgentes. Nos arredores de San Luis Talpa há uma fábrica de agroquímicos fechada desde 1994. Ainda hoje, um mau cheiro emana dos cerca de vinte barris abandonados no local.

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