Eleições: o atual presidente insistiu durante a campanha eleitoral no grande marco que representou a assinatura em julho de 2015 do acordo nuclear (Divulgação/Reuters)
EFE
Publicado em 17 de maio de 2017 às 17h08.
Teerã - O último dia da campanha presidencial no Irã se desenvolveu em um ambiente polarizado e incerto perante a acirrada disputa entre os principais candidatos: o moderado Hassan Rohani, atual governante, e o conservador Ebrahim Raisi.
Os dois clérigos xiitas, que hoje realizaram comícios na cidade santa de Mashad, têm um longo histórico revolucionário, mas uma visão diferente sobre a necessidade de abertura e de proteção dos princípios islâmicos de Irã.
O atual presidente insistiu durante a campanha eleitoral no grande marco que representou a assinatura em julho de 2015 do acordo nuclear para acabar com o isolamento internacional do país e com a "iranofobia".
"Por que evitar falar de suas relações com o mundo?", perguntou Rohani em seu ato de hoje se dirigindo a Raisi, sobre quem disse que, se chegar à presidência, "pedirá a toda a nação para que saia do país".
O clérigo moderado destacou sua defesa das liberdades e dos direitos dos cidadãos, que são considerados de extrema importância para muitos jovens que lotaram seus comícios, como o estudante de História, Mohamad Fatolahi.
"De Rohani espero que possa eliminar o ambiente opressor que há no Irã para criar um aberto", disse à Agência Efe Fatolahi, que denunciou que muitos filmes ainda são proibidos ou censurados e shows são cancelados "em nome da religião".
Os reformistas temem um retrocesso neste campo em caso de vitória de Raisi, custódio do mausoléu do imame Reza em Mashad e um jurista com ampla experiência na supervisão do correto cumprimento das normativas do sistema da República Islâmica.
Raisi, cético com Ocidente, centrou sua campanha em temas econômicos e, com seu lema "Trabalho e dignidade", prometeu novamente hoje em Mashad criar um milhão de empregos por ano e lutar contra a corrupção, ao mesmo tempo em que criticou o acordo nuclear.
Estas são as preocupações também de seus eleitores. O estudante Said, de 23 anos, disse à Efe que as políticas de Raisi lhe ajudarão a "se casar, frequentar universidade e conseguir um bom trabalho".
Várias mulheres vestidas com o tradicional chador - peça habitualmente preta que cobre todo o corpo, exceto o rosto - comentaram que o clérigo é o único que não teme os Estados Unidos e que pode obrigar as seis grandes potências a cumprir com o pacto nuclear que assinaram com o Irã.
A diferença de opinião entre os dois candidatos extrapola para além de seus partidários e ficou patente nos atos eleitorais.
O principal comício em Teerã de Rohani foi em um estádio de futebol cheio de jovens liberais e reivindicativos, enquanto seu adversário se deu um banho de multidão em um complexo religioso no qual predominaram os lemas islâmicos e as mulheres com chador.
Raisí é considerado, além disso, muito próximo do líder supremo, Ali Khamenei, e embora este nunca tenha pedidos votos para um determinado candidato, suas declarações deixam claras suas preferências.
Além de criticar o desempenho econômico do governo de Rohani e sua abertura ao Ocidente, Khamenei denunciou hoje que há "ingratos" que "usam a liberdade que têm para negar a liberdade existente".
O líder assegurou em um discurso que, graças à República Islâmica, "o Irã goza de liberdade e de participação cidadã" e louvou "o ambiente seguro" reinante para a realização das eleições.
As autoridades prepararam 63.000 colégios eleitorais e o desdobramento de 71.000 supervisores e 160.000 policiais, segundo os dados do Ministério do Interior e do Conselho de Guardiões.
O porta-voz do Conselho de Guardiões, Abbas Ali Kadkhoda, anunciou hoje em coletiva de imprensa que o órgão notificou o poder judicial mais de 200 casos de infrações na campanha eleitoral, mas que estas são menores e não afetam às eleições.
Por sua vez, o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, informou que os resultados serão anunciados de uma vez, e não em tempo real, e que as eleições presidenciais poderiam ser decididas já no primeiro turno.
Este prognóstico se justifica nas desistências do primeiro vice-presidente, Eshaq Jahangiri, e do prefeito de Teerã, Mohammad Bagher Ghalibaf, a favor de Rohani e de Raisi, respectivamente.
Devido à menor popularidade dos outros dois candidatos, os ex-ministros Mostafa Mir-Salim e Mostafa Hashemitaba, está claro que a batalha será travada entre os clérigos.