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Bombardeios russos mataram centenas de civis, Moscou nega

Os bombardeios da aviação russa na Síria, iniciados há três meses, mataram cerca de duas mil pessoas, segundo denúncia de ONGs

Destruição na província síria de Idleb após ataque atribuído aos aviões russos (Omar Haj Kadour/AFP)

Destruição na província síria de Idleb após ataque atribuído aos aviões russos (Omar Haj Kadour/AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2015 às 21h43.

Beirute - Os bombardeios da aviação russa na Síria, iniciados há três meses, mataram cerca de duas mil pessoas, das quais centenas de civis, e constituem possíveis crimes de guerra, segundo denúncia de organizações não governamentais, contestada por Moscou.

A aviação russa utilizou "bombas de fragmentação" e bombas convencionais contra "zonas residenciais com uma forte densidade populacional", denunciou um relatório da Anistia Internacional divulgado nesta quarta-feira.

Um aspecto ainda mais inquietante - estes bombardeios estariam ocorrendo em zonas onde o grupo Estado Islâmico não está presente, segundo outras organizações e especialistas independentes, que confirmariam, assim, as acusações ocidentais.

"Tivemos conhecimento deste relatório. Mais uma vez, não há nada concreto, nem novo no mesmo: sempre os mesmos 'clichês' e as mesmas informações falsas", declarou o porta-voz do ministério da Defesa em Moscou, Igor Konashenkov, em coletiva de imprensa.

O denominado Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), com sede em Londres e uma rede de colaboradores em todo o território sírio, deu a cifra de 2.132 pessoas mortas em outro informe, difundido na véspera.

Segundo o OSDH, destas vítimas, 710 são civis.

Entre os civis estão 161 crianças e 104 mulheres, afirmou o OSDH.

O relatório da Anistia Internacional, ONG baseada em Londres, menciona seis ataques nas províncias de Homs (centro), Idleb (noroeste) e Aleppo (norte) entre setembro e novembro de 2015, no qual ao menos 200 civis e uma dezena de combatentes morreram.

"Alguns ataques aéreos russos apontam, ao que parece, diretamente contra os civis ou bens civis, já que atingem zonas residenciais onde não há um alvo militar evidente", afirmou Philip Luther, diretor da Anistia Internacional para o Oriente Médio em um comunicado.

"Não podem saber e não têm os meios para verificá-lo", respondeu o porta-voz do ministério russo da Defesa.

'Passe de mágica'

A Anistia também critica a atitude das autoridades russas, que afirmam que só atingem alvos "terroristas", mas se protegem no silêncio ou no desmentido quando são acusadas de ter matado civis.

A ONG de defesa dos direitos humanos cita, em particular, a reação de Moscou após a destruição, em 1º de outubro, de uma mesquita em Jisr Al Shughur (província de Idleb).

Na ocasião, o exército russo assegurou ter se tratado de uma "montagem" e difundiu uma imagem de satélite de uma mesquita intacta. "Um passe de mágica", reagiu a AI, que demonstrou, por sua vez, que a foto em questão era de outra mesquita, em outro lugar.

A Rússia começou a intervir militarmente na Síria para apoiar o regime do presidente Bashar Al Assad. Seu objetivo principal - assegura Moscou - é destruir o EI. Mas desde o princípio, os países ocidentais e árabes asseguram que estes ataques são dirigidos a todos os grupos rebeldes por igual.

Segundo o americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), os ataques russos estão se concentrando em regiões onde o EI simplesmente não está presente.

Este instituto tem analisado semanalmente os bombardeios em províncias como Idleb, onde denuncia uma evidente contradição entre os objetivos proclamados pela Rússia e a realidade no terreno.

"Estas cifras não são uma surpresa, infelizmente", comentou à AFP o cientista político Zyad Majed, especialista na Síria.

"As associações locais de direitos humanos e da sociedade civil fazem um trabalho documentado, com fotos e vídeos, desde o início dos bombardeios russos", explicou.

Moscou assegura que nestas zonas há, por exemplo, grupos como Jabat Al Nosra (braço local da Al Qaeda).

"Há centenas de milhares de civis nestas regiões, onde o EI não está presente. Crianças que vão à escola, centros de saúde, padarias comunitárias, geradores de eletricidade... Hoje em dia, esta vida local é bombardeada, não apenas pelo regime, mas também pela aviação russa, que faz estragos", acusa este especialista.

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