Autoridades negam que índios façam suicídio coletivo no MS
Tanto a Fundação Nacional do Índio (Funai) como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) desmentiram as versões publicadas na imprensa e em redes sociais
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2012 às 15h44.
Rio de Janeiro - Autoridades e grupos de defesa dos índios negaram nesta quarta-feira que as etnias Kaiowá e Guarani estejam preparando um "suicídio coletivo" em protesto contra uma ordem de despejo de terras, e enfatizaram que já foi apresentado um recurso perante a justiça para que o despejo não aconteça.
Tanto a Fundação Nacional do Índio (Funai) como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) desmentiram as versões publicadas na imprensa e em redes sociais sobre a suposta iminência de um suicídio coletivo por parte de um grupo de 170 indígenas do estado do Mato Grosso do Sul, dos quais 70 são menores de idade.
Fontes da Funai disseram hoje à Agência Efe que os líderes indígenas consultados esclareceram que não têm intenção de suicídio como a imprensa alega, mas de permanecer no lugar a qualquer custo.
A área em disputa fica na Fazenda Cambará, próxima à reserva indígena Pyelito Kue e na jurisdição de Iguatemi, município próximo à fronteira com o Paraguai.
A ordem de despejo foi notificada há dez dias aos índios acampados às margens do rio Joguico, área que consideram parte de suas terras ancestrais, e a Funai já apresentou um recurso perante o Tribunal Regional Federal da Terceira Região para pedir que seja suspensa.
A Funai está à espera de que a justiça se pronuncie, mas esclareceu que também não há uma data definida para o despejo. O Cimi se pronunciou nos mesmos termos em um comunicado.
"O Cimi considera que na carta enviada pelos indígenas Kaiowá e Guarani de Pyelito Kue não há nenhuma menção sobre o suposto suicídio coletivo tão divulgada e comentada pela imprensa e pelas redes sociais", segundo o Cimi.
Para a comissão católica, os índios se referem a uma morte coletiva no contexto da luta por sua terra, "ou seja, estão dispostos a morrer em suas terras tradicionais e nunca abandoná-las se a justiça e os pistoleiros contratados pelos fazendeiros insistirem em tirá-los".
"Não se trata de um suicídio coletivo. É necessário desestimular a reprodução dessas mentiras, como a que se divulga pela internet com fotos de índios enforcados", segundo o Cimi.
A comissão esclareceu que o suicídio entre os índios Kaiowá e Guarani é um fenômeno recorrente relacionado à perda de suas terras, à falta de perspectivas e à violência que sofrem, mas nunca ocorre "em massa, de forma coletiva, organizada ou anunciada".
Segundo números do Cimi, 555 índios das duas etnias se suicidaram no período de 2003 a 2010, em alguns casos por alcoolismo.
Os guarani são a segunda maior etnia do Brasil (43 mil membros).
As versões do suicídio coletivo são atribuídas à incorreta interpretação da carta que os índios enviaram tanto à Funai como ao Cimi para denunciar sua situação e sua disposição de resistir ao despejo.
"Concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui", diz a carta em que os índios relatam quatro mortes, duas por suicídios e duas por ataques de pistoleiros.
"(...) nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.
Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos", acrescenta o texto.