Nicarágua: conselho determinou o afastamento pelo fato de os legisladores não reconhecerem o líder de seu próprio partido (Wikimedia commons/ Haakon S. Krohn)
Da Redação
Publicado em 30 de julho de 2016 às 12h17.
Manágua - A principal autoridade eleitoral da Nicarágua, o Conselho Supremo Eleitoral, retirou do posto 16 deputados dos oposicionistas Partido Liberal Independente e Movimento Renovador Sandinista, na sexta-feira.
O episódio ocorre no momento em que o presidente Daniel Ortega se prepara para buscar um terceiro mandato no poder.
O conselho determinou o afastamento pelo fato de os legisladores não reconhecerem o líder de seu próprio partido, Pedro Reyes.
A Suprema Corte do país havia removido do cargo o líder anterior dos grupos oposicionistas, após uma prolongada disputa política. Reyes é visto por alguns em seu próprio partido como um instrumento de poder de Ortega.
Os 16 deputados afastados de seus postos apoiavam o ex-líder partidário Eduardo Montealegre e se recusavam a reconhecer Reyes.
O próprio Reyes disse que os cargos vagos serão preenchidos por líderes partidários que o reconheçam como líder partidário legítimo. Um dos deputados afastados, Carlos Langrand disse no Twitter que o afastamento dos deputados ocorreu porque "não abaixamos nossas cabeças ante a ditadura de Daniel Ortega".
As eleições devem ocorrer em 6 de novembro no país. "Nós tentamos evitar isso, realizamos reuniões em diversas ocasiões, eles ignoraram isso e pedimos à autoridade eleitoral que os afastem, porque eles não querem aceitar a nova autoridade [do partido]", disse Reyes.
A Assembleia Nacional é composta de 92 legisladores e atualmente está em recesso.
O Movimento Renovador Sandinista qualificou a decisão judicial como "um novo revés para liquidar completamente o pluralismo político e fazer desaparecer as vozes de oposição no Parlamento e nas instituições públicas que tiveram um importante papel na denúncia dos abusos de poder de Ortega".
A Frente Sandinista de Liberação Nacional escolheu Ortega em junho como seu candidato presidencial pela sétima vez consecutiva. Ele anunciou que não permitiria o monitoramento internacional das eleições porque as organizações que realizam essa tarefa seriam "sem vergonha" e trabalhariam para o "império" que busca atacar ou retirar os poderes de governos de esquerda.
Na quinta-feira, os legisladores que depois perderam seus cargos haviam divulgado uma carta pública, na qual se declaravam independentes.
O analista político e sociólogo Oscar Rene Vargas disse que Ortega tornou-se mais radical contra a oposição por temer que em eleições livres ele possa perder, como ocorreu em 1990. "Parece que ele não confia nas pesquisas que supostamente mostram as pessoas favoráveis a ele", comentou Vargas. Várias sondagens mostram Ortega com mais de 60% das intenções de voto.
A Coalizão Nacional pela Democracia, vista como a força mais importante contra a reeleição do presidente, decidiu há várias semanas que não participará da disputa, qualificada por ela como "farsa eleitoral". Fonte: Associated Press.